O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliou que a situação fiscal atualmente é melhor do que a que o país vivia em 2022, no final do governo anterior.

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“2024 já foi melhor que o último ano do governo anterior. Isso está em um estudo divulgado hoje em parceria com FGV, a pedido do Ministério da Fazenda. Acredito que em 2025 vamos ter o mesmo resultado fiscal de 2024.”

Em entrevista na tarde desta terça-feira, 7, à GloboNews, o ministro disse que o governo federal encerrou 2024 com um déficit primário de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) e que o déficit alcança 0,37% do PIB se considerados os gastos do governo com a calamidade provocada pelas chuvas no Rio Grande do Sul, mas essas despesas não são computadas para efeito de cumprimento da meta.

Se confirmado o dado, o governo terá cumprido a meta fiscal de 2024, que prevê déficit zero, com tolerância de 0,25 ponto percentual do PIB para mais ou para menos. O dado oficial do resultado primário do ano ainda não foi divulgado.

Segundo o ministro, o governo teve alguns “dissabores”. “Tivemos a decisão do STF de 2017 que impactou economia brasileira em 10% do PIB. Além disso, devolução de duas medidas provisórias pelo Congresso. Se aquelas medidas tivessem sido aprovados, nos teríamos hoje já um superávit primário nas contas públicas.”

Haddad afirmou que, se o plano traçado pelo Ministério da Fazenda for como o planejado, sem grandes alterações “vamos chegar com a economia muito mais arrumada do que levamos”.

“É a minha missão com ministro da Fazenda, entregar muito melhor do que recebemos. Sem maquiagem, sem calote, sem jabutis de grupos empresariais e contendo gastos de maneira adequada. Sem prejudicar trabalhar de baixa renda, garantindo os direitos da Constituição. Nós vamos perseguir esse caminho e estou muito confiante que vamos conseguir esse resultado.”

Preocupação com cenário fiscal

O ministro contou que, na elaboração do arcabouço fiscal, a equipe econômica afastou a ideia “exótica” de se estabelecer uma meta para a dívida pública. Ele reconheceu, por sua vez, que o indicador é importante e defendeu que todas as regras do arcabouço farão com que em algum momento do futuro próximo a dívida pública possa se estabilizar e depois começar uma trajetória de queda.

“Às vezes eu vejo comentários com dúvida sobre se a nossa disposição é essa de cumprir as regras fiscais. A área econômica não vai sossegar enquanto não resolver e endereçar e resolver esse problema. Nós precisamos compreender que esse passado recente de uma década não trouxe crescimento e bem-estar para a população. Ele não trouxe, apesar de déficits exageradíssimos e contratempos absurdos que fizeram com que a nossa dívida chegasse no atual patamar”, afirmou o ministro.

Cenário externo “desafiador”

O ministro Fernando Haddad apontou ainda que o cenário externo está mais desafiador, argumentando que o mundo está preocupado com incertezas relacionadas à maneira que a economia dos Estados Unidos será gerida a partir deste ano, sob a gestão de Donald Trump.

Haddad afirmou que o mundo vive um momento muito sensível e acrescentou que teve reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o governo seja “mais cuidadoso do que nunca” com o cenário externo.

“Estamos em um mundo tenso, a questão ideológica faz diferença, a comunicação mais sensível. Tivemos hoje o anúncio de uma grande empresa de comunicação que nos preocupa, de que está derrubando filtros de checagem sobre notícias. Vimos o que aconteceu com a democracia brasileira em relação a fake news. Não só de tentativa de golpe como de assassinatos de pessoas. Estamos em um mundo mais complicado, não dá para negar. A economia estará bem, mas temos que cuidar da nossa democracia, das pessoas, das informações, para evitar pânico, desespero, que pessoas abracem extremismos. Tudo isso é muito desafiador.”

Haddad disse acreditar que, dentro do contexto mundial, o Brasil tá bem posicionado. “Crescemos 7% em dois anos, maior crescimento desde 2011”, e que país deve chegar em 2026 em uma situação confortável.

“Eu acredito que nós podemos chegar bem em 2026. Espero que comendo até filé mignon”, disse, em resposta a um questionamento sobre se o governo encerraria essa gestão com picanha no prato do brasileiro, como prometeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Câmbio

O ministro avalia também que houve uma reação exagerada do mercado com a alta recente do dólar e acrescentou que espera uma acomodação do nível do câmbio. Haddad afirmou também que não julgará decisões de juros do Banco Central, ressaltando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nunca interferiu na atuação da autarquia.

Ele acrescentou que conversava tecnicamente com o ex-presidente do BC Roberto Campos Neto e fará o mesmo com o novo chefe da autoridade monetária, Gabriel Galípolo, indicado por Lula e que assumiu o comando da instituição agora em 2025.

“Não fazemos pouco caso quando BC e Tesouro alertam sobre riscos. O governo tem agido e vai continuar agindo.”

PIB e Fórmula 1

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, repetiu que é preciso olhar outras variáveis da economia para avaliar qual é a taxa de crescimento adequada ao Brasil, ao ser questionado se estaria satisfeito com um alta de 2,5% do PIB ao ano, conforme previsto para 2025. Ele também ponderou que essa taxa é maior do que a média de governos anteriores.

“As pessoas às vezes não prestam atenção. Como é que estão as contas, como é que está financiando o crescimento brasileiro? Eu tenho que olhar para a inflação, eu tenho que olhar para um conjunto para sentar com os meus companheiros de governo, com a minha equipe e tomar a decisão que nós julgamos, o traçado mais correto que vai gerar o maior bem-estar. Então não é verdade que se olhar uma variável, você vai tomar a melhor decisão. Você tem que olhar o conjunto da economia para tomar a melhor decisão. Se você entende que está havendo uma disfuncionalidade, é que nem você dirigir o carro de Fórmula 1: acelerar é sempre bom? Depende. Tem uma curva na sua frente, tem um muro na sua frente, você está com gasolina? Você está com o pneu adequado? Você tem que olhar para tudo”, disse Haddad.

Férias canceladas e reunião com Lula

As férias do ministro Fernando Haddad foram interrompidas na segunda-feira, 6, segundo despacho publicado no Diário Oficial da União. Pela manhã, o ministro teve uma reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto.

Além da interrupção das férias, o período de férias que Haddad teria de 10 a 21 de janeiro foi cancelado. Em nota, a Fazenda informou que a decisão de cancelar o período de férias “foi tomada após o pronto restabelecimento de seu familiar que passou por um procedimento cirúrgico no final do ano, motivo da marcação de férias neste período”.

Comunicação

Fernando Haddad afirmou que há um grande esforço do governo em torno da coesão de discurso para que não haja margem para interpretação em medidas anunciadas.

O ministro ponderou que ao falar sobre problemas de comunicação, não está se referindo à Secretaria de Comunicação (Secom), ligada à Presidência da República, mas ao governo como um todo. A fala ocorre no momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria tomado a decisão de substituir o ministro Paulo Pimenta, que chefia a Secom desde o início do governo e faz parte dos quadros do PT, pelo publicitário Sidônio Palmeira.

Haddad disse que a direção da comunicação do governo não muda, pois é dada pelo presidente da República. Mas ponderou que olhar para os erros do passado serve como oportunidade para melhoria. Questionado sobre a comunicação do pacote de contenção de gastos, que também trouxe o anúncio da ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda, ele avalia que houve uma questão.

“O problema foi misturar imposto de renda com contenção de gastos. Eu acredito que esse foi um dos problemas. Talvez o tempo de maturação das medidas tenha sido excessivo, tenha gerado expectativas”, pontuou.

Haddad voltou a pontuar que havia um problema interno de comunicação do governo e um cenário externo desafiador. A junção dos dois fatores culminou na escalada do dólar e piora das expectativas. Por isso, o governo tenta corrigir a questão da comunicação. “Penso que está havendo um esforço grande de coesão em torno de um discurso mais chapado sobre o que nós pretendemos fazer, que não dê margem”, disse.

Permanência no Ministério

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que não pretende sair do cargo até o final desta gestão do governo Lula, mas ponderou que essa decisão não é da sua alçada.

“Eu assumi o desafio em 2022 com essa intenção”, disse Haddad, lembrando que apresentou um plano de voo para o comando da Pasta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “A minha relação com o presidente Lula é tão tranquila. (…). Ele tem liberdade comigo, total, para fazer qualquer tipo de colocação. Eu nunca me senti desautorizado pelo presidente Lula”, disse.

Reta final para desfecho de questão de emendas

O ministro da Fazenda afirmou que, ainda que não esteja diretamente envolvido neste tema, a questão das emendas parlamentares se encaminha para um desfecho. Ele rememorou que foi firmado um acordo sobre esse tema com o ministro Flávio Dino e respaldado pelo pleno do Supremo Tribunal Federal (STF).

Haddad lembrou que Dino está fazendo a mediação do que foi combinado sobre as emendas e que há um esforço para que as arestas sejam aparadas. “Eu não participei, isso é mérito da Casa Civil, da AGU, que foram ao Supremo fazer a articulação junto ao Congresso, e eu acredito que nós estamos na reta final de um desfecho”, disse.

Questionado se o Congresso não estaria usufruindo apenas de bônus nessa questão, Haddad destacou que o acordo inclui dispositivos importantes e que as emendas foram colocadas dentro da regra do arcabouço fiscal.

“Esse é um princípio que a Fazenda tem defendido, que as despesas têm que ser colocadas individualmente dentro do arcabouço para evitar que ele, no médio e no longo prazo, não se sustente. Isso foi feito. As regras de transparência foram acordadas, estão sendo definidas com mais clareza, para que não haja dúvidas. Foi incluída uma regra de contingenciamentos, para que também haja uma equivalência de esforços fiscais de parte a parte, Executivo e Legislativo”, disse.

*Com informações de Reuters e Estadão Conteúdo