O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta quarta-feira, 27, em entrevista ao UOL, que as tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos às exportações brasileiras vão afetar um pouco o Brasil. Ele ponderou, contudo, que o país tem condições de enfrentar o tarifaço.

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“Tem setores que exportam mais de 50% para lá, tem empresas que vão sofrer, mas macroeconomicamente falando o país tem condições de enfrentar”, disse Haddad, exemplificando que há produtos cujos preços estão em queda, como o café. “Preço do café está caindo porque está aumentando oferta interna”, afirmou o ministro da Fazenda.

Haddad ainda afirmou que o governo segue disposto a negociar tarifas com os Estados Unidos e atua de forma reativa aos anúncios do presidente Donald Trump, destacando ser impossível prever se os norte-americanos ampliarão sanções ao Brasil caso o ex-presidente Jair Bolsonaro seja condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em julgamento em setembro.

Ele ressaltou que o governo atua pelas vias administrativas para enfrentar as tarifas, como na Organização Mundial do Comércio (OMC), mas vai contestar os argumentos de Trump no judiciário norte-americano se considerar necessário.

Na avaliação de Haddad, o dólar deve continuar a ser a reserva de valor global por muitos anos, a não ser que os EUA “continuem errando” na política econômica.

Para ele, o governo norte-americano também não pode impedir que países façam comércio em moeda local.

Perguntado sobre a demissão da diretora do Federal Reserve (Fed) Lisa Cook, ele respondeu que é preciso “algum nível de institucionalidade” para a democracia funcionar. Segundo Haddad, as pessoas estão inseguras em relação aos Estados Unidos.

Projeto isenção IR

Haddad disse que há um entendimento entre governo e lideranças partidárias para que o projeto que isenta o Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil seja aprovado com a compensação proposta pelo governo, que cria uma taxação mínima para pessoas de alta renda. Ele disse acreditar que o compromisso será honrado.

“Não há hipótese de abrirmos mão da compensação”, afirmou.

O ministro informou que vai se reunir nesta quarta-feira, às 14 horas, com o presidente da Câmara, Hugo Motta, para tratar desse e de outros temas.

Haddad disse acreditar que parlamentares possam tentar reduzir a alíquota de 10% para super-ricos, mas avaliou que não há muitos caminhos para mudanças.

Ele afirmou que retirar a compensação do PL da renda é o tipo de pauta-bomba que vai estourar no Brasil, não apenas para o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

Benefícios fiscais infraconstitucionais

Na mesma entrevista, Haddad disse que o governo pretende aprovar ainda este ano corte linear de 10% dos benefícios fiscais infraconstitucionais. “Pretendemos aprovar essa proposta que veio das duas Casas”, comentou, em referência à Câmara dos Deputados e ao Senado.

Lei Magnitsky

Questionado sobre a Lei Magnitsky, Haddad afirmou que o Estado brasileiro precisa dar amparo a todos os agentes públicos e aos brasileiros, assegurando a soberania nacional.

“Tudo que está sendo mobilizado é para contestar argumentos (comerciais)”, disse, ao se referir à contratação pelo governo de um escritório de advocacia nos Estados Unidos para tentar revogar sanções impostas por Trump.

Sobre a ida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à próxima Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em setembro, Haddad afirmou não acreditar que Trump bloqueie a entrada do presidente brasileiro e avaliou que será uma oportunidade para Lula tratar de temas importantes.

Questionado se o presidente norte-americano se consolidou como ator político das eleições de 2026, ele respondeu que de “forma indireta”.