07/03/2025 - 21:53
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, enfatizou na noite desta sexta-feira, 7, em entrevista ao Flow Podcast, que considera importante voltar a ter superávit primário. Segundo o ministro, é preciso fazer um ajuste fiscal, mas ele não precisa ser recessivo. “Eu preciso fazer um ajuste, mas ele não precisa ser um ajuste recessivo. O Brasil precisa fazer um ajuste, mas ele não precisa ser recessivo. Enquanto o Brasil for um dos países que mais cresceram no mundo, a Argentina ficou lá atrás”.
Haddad fez referência à Argentina com o presidente Javier Milei. “O Brasil não precisa seguir aquele exemplo porque a condição do Brasil não é aquela, são países que estão em situações muito diferentes. O Brasil não tem dívida externa desde o presidente Lula, tem reservas cambiais desde o presidente Lula”, disse.
O ministro citou os efeitos no país vizinho com as medidas de Milei na economia. “É importante voltar a ter as contas no azul? Voltar a construir um superávit primário. A minha resposta, há dois anos, é ‘sim’. Tem gente que discorda disso. E tem gente e quer fazer mais rápido sacrificando direitos sociais, dizendo que’ é mais importante isso [superávit] do que qualquer outra coisa’. Então, tem posições mais conservadoras elogiando o Milei, que bota 60% das pessoas abaixo da linha da pobreza e ‘dane-se’. E tem pessoas dizendo que tem que gastar o que for necessário para atender a população”.
Mais cedo na entrevista, Haddad já havia comentado sobre a dificuldades de negociações na política e divergências de ponto de vista, e citou que gostaria de ter feito mais. “Queria fazer mais rápido? Queria. E dava para ter feito. Constrangimentos de ordem politica me deram 70 dos 100, então vamos buscar os outros 30”.
A reposta de Haddad faz referência à pergunta feita no início da entrevista pelo apresentador Igor, sobre a satisfação dele com a reforma tributária.
“Nós fizemos a maior reforma tributária da história do Brasil. E a primeira em regime democrático. Dialogamos com toda a sociedade e com o Congresso.” Mas pondera que conseguiu “70 de 100” do que propôs.
“O mais fácil é resolver na planilha, o mais difícil é na política. A arte de acertar as contas é saber como o Congresso vai reagir a essa proposta, a coisa é mais complicada, são pessoas, com seus interesses e suas visões de mundo.”
Haddad, disse ainda que setores que defendem o corte de gastos muitas vezes reclamam quando o governo corta seus benefícios para equilibrar as contas públicas.
“Quando você fala em gasto tributário, que é a grana que o rico não paga de imposto, aí o cara fala peraí, pô, esse benefício fiscal é um direito adquirido meu. Esse incentivo que foi dado aqui pro meu setor, ele tem que ser eterno”, afirmou Haddad.
O ministro ressaltou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou uma série de ajustes na Constituição para manter em pé o arcabouço fiscal, ao mesmo tempo em que repôs recursos em saúde e educação, após a pandemia.
PIB 2024: o assunto do dia
O ministro Haddad comentou o resultado do PIB divulgado pelo IBGE nesta sexta-feira, segundo ele, “o assunto do dia”. Para o ministro, o resultado do ano passado e do anterior são resultados do “começo de uma conversa entre forças políticas e Poderes da República, que começaram a perceber que tem muita coisa risco, e não podemos mais nos manter nesse tipo de controvérsia, que gera muito calor, mas não gera resultado para a sociedade.”.
“O Brasil durante muito tempo teve uma década ruim, desarrumada. Em parte por medidas equivocadas, mas também por causa da política. O Brasil ficou polarizado, começou a ter uma sabotagem de parte a parte, sem distinguir disputa de governo para temas do Estado brasileiro. E isso é muito importante numa democracia. Tem questões que temos que preservar e arrumar como brasileiros. E tem questões que vamos disputar porque tem divergências.Quando se perde essa linha, coloca tudo na briga e na controvérsia, vamos ter problemas. Estamos tentando superar essa situação, que ainda persiste, mas não como no passado recente”
Haddad afirmou que a pasta projeta crescimento de 2,5% no PIB para este ano, acima da última previsão oficial, de 2,3%.
Depois da expansão do PIB de 3,4% em 2024, divulgada pelo IBGE nesta sexta-feira, Haddad disse que o crescimento vai continuar, mas com um pouco mais de moderação por conta inflação.
Haddad destacou que a taxa de desemprego está no menor nível histórico e afirmou que o PIB está “legal”, o desemprego está em mínima histórica, e que agora “temos que cuidar da inflação”.
Guerra tarifária dos EUA
Seria capricho dos Estados Unidos arrumarem confusão com o Brasil, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nesta sexta-feira, destacando que isso não faria sentido do ponto de vista econômico.
O ministro disse que ainda não está muito claro “para onde a coisa vai” em relação aos EUA e que o governo daquele país dá sinais trocados sobre o que vai fazer.
Haddad não citou nenhum exemplo específico, mas esse vaivém pode ser visto na aplicação de tarifas de importação anunciadas pelo presidente norte-americano, Donald Trump, e depois adiadas ou impostas com exceções.
Trump já anunciou que serão impostas tarifas sobre as importações de aço e alumínio pelos EUA, o que, se ocorrer, atingirá o Brasil.
Atualmente, os governos dos dois países estão em negociação sobre as tarifas.
“Taxa das blusinhas”
O ministro Fernando Haddad, se defendeu de críticas pela taxa aplicada sobre as plataformas internacionais de comércio eletrônico. Ele frisou que tributos cobrados sobre compras online também são estaduais.
Haddad disse que o primeiro imposto que aparece nas ofertas de produtos em sites como a Shopee é o ICMS, um tributo estadual. “ICMS não tem nada a ver com o governo federal. Nada a ver. É um imposto estadual. Se o Tarcísio Freitas, governador de São Paulo, vier aqui um dia, você não vai chegar para ele e perguntar por que você taxou a Shoppee? Você nem sabe que ele está taxando a Shopee. O Zema Romeu Zema, governador de Minas Gerais vai vir aqui e você vai falar você taxou a Shein?. Você nem sabe que é ele que está cobrando. A grana está indo para o cofre dos estados”, disse Haddad.
Em relação ao imposto de importação nas compras online, um mínimo de 20%, o ministro afirmou que o tributo foi aprovado por unanimidade dos partidos no Congresso, com o apoio, inclusive do PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Ele lamentou, citando a frase de Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista, que quando uma mentira é contada repetidamente, as pessoas acabam acreditando. “O que está lá nos sites de marketplace é, um, o ICMS, um imposto estadual, de todos os governadores … Os 27 governadores do país cobram o ICMS dos marketplaces. Dois, o imposto de importação, que é federal, foi criado pelo Congresso Nacional com apoio de 100% dos partidos, incluindo o do Bolsonaro.”
Conforme o ministro, as compras de sites internacionais foram taxadas porque o varejo, que estava fechando lojas, cobrou isonomia de impostos. “O que o Congresso fez foi nivelar”, explicou. “Lamentavelmente, nós estamos num ambiente virtual que não tem filtro. É muito difícil você combater uma fake news quando você tem um exército pago, muita grana envolvida para macular a reputação de uma pessoa”, acrescentou Haddad.
*Com informações de Estadão Conteúdo e Reuters