Última troca prevista na 1ª fase do acordo ocorre apesar de temores sobre colapso da trégua entre Hamas e Israel. Islamistas libertam três reféns; Israel envia 369 prisioneiros palestinos de volta à Faixa de Gaza.O grupo islamista Hamas libertou neste sábado (15/01) três reféns israelenses em troca da soltura de centenas de prisioneiros palestinos detidos em Israel, aliviando os temores de que o acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza estivesse próximo de um colapso.

Militantes do Hamas exibiram os reféns em um palco diante de uma multidão na cidade de Khan Yunis, no sul de Gaza. Os israelenses foram obrigados a fazer declarações em um microfone antes de serem entregues à Cruz Vermelha e levados de volta a seu país.

Portando sacolas de presentes dados por seus captores e certificados que marcam o fim de seu cativeiro, os três homens pediram a conclusão de mais trocas de reféns sob o acordo.

Pouco depois, um ônibus com prisioneiros palestinos partiu da prisão de Ofer, em Israel, e foi recebido por uma multidão na cidade de Ramallah, na Cisjordânia. Outros ônibus levaram detentos de uma prisão israelense no deserto de Negev para a Faixa de Gaza.

Fim da primeira fase do acordo

A troca deste sábado, a sexta desde que a trégua entrou em vigor em 19 de janeiro, ocorreu depois de o Hamas ameaçar suspender as libertações de reféns devido a supostas violações israelenses. Por sua vez, Israel ameaçou reiniciar a guerra se os reféns não fosse libertados. A troca deste sábado foi a última da primeira das três fases previstas pelo acordo de cessar-fogo.

Os três reféns – o israelense-americano Sagui Dekel-Chen, o israelense-russo Sasha Trupanov e o israelense-argentino Yair Horn – estavam detidos pelo Hamas desde os ataques terroristas do grupo a Israel, em 7 de outubro de 2023, que deu início à guerra que se estendeu por 16 meses.

Segundo a entidade Clube dos Prisioneiros Palestinos, Israel deveria libertar 333 pessoas que foram presas durante a guerra, bem como 36 prisioneiros que cumprem penas de prisão perpétua, 24 dos quais seriam deportados sob os termos do acordo. As autoridades israelenses, porém, confirmaram a libertação de um total de 369 prisioneiros.

Uma multidão se reuniu no centro comercial israelense de Tel Aviv para assistir a uma transmissão ao vivo da troca. A libertação da semana passada gerou indignação em Israel, após os reféns libertados serem exibidos no palco aparentando péssimas condições de saúde, o que aumentou as preocupações sobre as condições do cativeiro.

Em Gaza também havia temores em relação aos palestinos sob custódia israelense, depois que vários deles tiveram que ser hospitalizados após serem libertados na semana passada. O ONG Crescente Vermelho disse que quatro dos prisioneiros foram transferidos para um hospital na Cisjordânia.

Após o acordo estar aparentemente à beira de um colapso, um oficial do Hamas disse nesta sexta-feira que o grupo espera que as negociações sobre a segunda fase do cessar-fogo comecem no início da próxima semana. As negociações sobre a segunda fase visam estabelecer as etapas para se chegar a um fim permanente da guerra.

Pressão dos EUA fragiliza trégua

O Secretário de Estado americano, Marco Rubio, cujo país é o principal apoiador de Israel e um dos mediadores da trégua, deve chegar a Tel Aviv neste sábado para conversas com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em torno do cessar-fogo.

A organização israelense Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos alertou em contra o colapso do acordo e pediu que duas partes que “aproveitem o momento para fazer um acordo rápido e responsável para todos”.

O cessar-fogo está sob enorme pressão desde que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, propôs uma “tomada” da Faixa de Gaza, que incluiria a transferência da população do território, de mais de dois milhões de pessoas, para o Egito ou a Jordânia.

Os países árabes se uniram para rejeitar o plano de Trump. A Arábia Saudita reunirá os líderes do Egito, Jordânia, Catar e Emirados Árabes Unidos na próxima quinta-feira para discutir o assunto.

Os ataque terroristas do Hamas em 7 de outubro de 2023 a Israel resultaram na morte de mais de 1.200 pessoas, a maioria, civis. Os militantes também fizeram 251 reféns, dos quais 70 ainda permanecem em Gaza, incluindo 35 que os militares israelenses dizem estarem mortos.

Os ataques aéreos e ofensivas terrestres israelenses nos 16 meses do conflito deixaram mais de 48 mil mortos no enclave palestino, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas.

rc (AFP, AP)