A pandemia não poupa nem as marcas mais icônicas. A fabricante de motos Harley-Davidson, que anunciou recentemente o encerramento das operações na Índia, o maior mercado de motos no mundo, agora enfrenta a desconfiança do mercado de que pode encerrar sua operação no Brasil, onde tem a outra das duas únicas unidades de montagem de motos fora dos Estados Unidos.  Há poucos dias, em comunicado no Paraguai, a marca anunciou que sairia de 50 mercados. A subsidiária brasileira garante que não está na corda bamba e que especulações sobre o fim da operação nacional “não tem fundamento”.

A marca passa por uma grande reestruturação em todo o mundo e foi diretamente afetada pela pandemia da covid-19. Em comunicado, a empresa disse que as diretrizes do plano de ajustes global, chamado “The Rewire”, apontam para todo um repensar estratégico do modelo de negócio e o foco agora será, principalmente, nos mercados da América do Norte, Europa e partes da Ásia-Pacífico. Dito isso, não seria de estranhar que os mercados da América Latina estivessem na linha de corte.

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Arte sobre tanques de Harley-Davidson

Em 2019 a Harley emplacou 6.089 motos no Brasil, um avanço de 5,8% sobre o resultado de 2018, quando foram emplacadas 5.753 motos. A produção das motocicletas também subiu em relação a 2018, saindo de 5.738 unidades para 6.249 unidades montadas em Manaus, alta de 8,9%.

Já se passaram 22 anos desde que a Harley-Davidson veio para o Brasil (primeiramente não com operação própria, mas por meio de representante) e instalou sua primeira fábrica fora dos Estados Unidos. Hoje são mais de 25 lojas nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste.

Na virada de junho para julho as motos da marca sofreram reajuste no mercado interno, devido à explosão do dólar. Além disso, a linha Sportster (com modelos mais acessíveis da marca, na casa dos R$ 49 mil) não será mais importada a partir de 2021. O modelo é responsável por 18,8% das vendas nacionais da empresa, segundo o Motoo.

Situação da Harley-Davidson fora do Brasil

Apesar da alta no ano passado, fora do Brasil a situação não é animadora. A operação da Índia – maior mercado de motos no mundo – encerrou suas atividades no mês passado e a subsidiária do Paraguai anunciou há poucos dias que está fechando as portas. Ao todo o corte deve atingir 50 países, segundo informações da própria Harley do Paraguai. A informação, no entanto, segundo a Harley Brasil (nota no final do texto), não é verdadeira. A assessoria local garante que a marca vai focar – e não fechar – suas operações em 50 países.

O problema da operação indiana foi ruidoso. A Índia, país asiático, é responsável por vender mais de 17 milhões de motos anualmente e a marca norte-americana vendia menos de 3 mil unidades a cada ano, segundo a BBC.

Ao todo, 2019 representou uma queda de 4,3% nas vendas em todo o mundo, de acordo com dados divulgados pela Harley no início de 2020. Foram 218.273 unidades vendidas em 2019, ante 228.051 em 2018.

  • As vendas nos Estados Unidos, principal mercado da marca, estão declinando nos últimos anos. Em 2018 foram vendidas 132.868 unidades, ante 125.960 em 2019, queda de 5,2%.
  • Na Europa a queda foi semelhante: 46.602 motos vendidas em 2018 e 44.086 em 2019, 5,4% a menos entre os dois anos.
  • A Ásia-Pacífico foi o único continente que registou vendas superiores na comparação anual, com 28,724 unidades em 2018 e 29.513 em 2019, alta de 2,7%.
  • Quarto mercado da Harley no mundo, a América Latina vendeu 3,9% menos no ano passado, registrando 9.768 unidades em 2019 ante 10.167 em 2018.
  • O Canadá combinou outras 8.946 vendas no ano passado, contra as 9.960 de 2018.

Ao todo, a receita da companhia fechou 2019 na casa dos US$ 4,5 bilhões e em 2018 bateu US$ 4,9 bilhões, queda de 8%.

No primeiro semestre deste ano, as vendas nos Estados Unidos foram de 23.732 unidades (queda de 15,5%); 7.730 na Europa (-28,4%); 5.752 na Ásia-Pacífico (-5,3%); 1.759 na América Latina (-21,5%) e 1.466 no Canadá (-24,7%). Em todo o mundo foram vendidas 40.439 unidades, queda de 17% na comparação com o ano passado.

O que diz a Harley-Davidson

Em comunicado, a subsidiária da Harley-Davidson no Brasil disse que “não está passando por uma crise, mas sim por um processo de reestruturação global. O novo plano estratégico de 5 anos, chamado The Hardwire, será compartilhado no quarto trimestre”. A Harley explicou que “The Rewire é nosso manual atual que está redefinindo nossa missão, reduzindo a complexidade, aprimorando nosso foco e aumentando a velocidade de tomada de decisões. Servirá como uma base sólida para nosso novo plano estratégico de 5 anos, denominado The Hardwire”.

O comunico segue esclarecendo que a marca está “concentrando (não encerrando) as atividades em cerca de 50 mercados principalmente na América do Norte, Europa e partes da Ásia-Pacífico” e que “os mercados da América Latina que a Harley-Davidson estrategicamente decidiu sair já foram comunicados”.

“Consequentemente, boatos sobre o Brasil não têm fundamento”, encerra a nota da companhia.