19/02/2009 - 7:00
DINHEIRO – Com a crise mundial, nascida nos Estados Unidos, o modelo do capitalismo americano voltou a ser sacudido por escândalos que envolvem práticas contábeis discutíveis. Será que o mundo não aprendeu a lição de 2001, quando a Enron quebrou?
JAMES TURLEY – Na verdade, é importante reconhecer que existe uma diferença enorme entre o episódio da Enron e o atual momento que vive o setor financeiro mundial, que está durando nove, 12 meses. A Enron ti- Entrevista / James Turley, CEO mundial da Ernst & Young nha problemas contábeis, internos. Trata-se de uma questão localizada. Ou seja, na Enron um problema contábil causou a crise. Desta vez, os problemas contábeis das empresas refletem a crise, não são as causas. É diferente.
DINHEIRO – A crise de hoje vai ensinar algo novo ao mundo?
JAMES TURLEY – A maior lição, segundo minha perspectiva dessa situação, provavelmente é que decisões erradas no campo dos negócios trazem grandes consequências, más consequências. Quando olhamos que o problema nos Estados Unidos logo chegou à Grã- Bretanha, onde os sistemas se colocaram em situação de alto risco, você vê que as consequências são muito más. Além disso, fica provado que a economia global está muito mais interligada, e isso contagia todas as economias quando há um problema. Mas há muitas outras lições importantes, como, por exemplo, entender e enxergar os verdadeiros riscos.
DINHEIRO – O aumento do rigor nas empresas contábeis e de transparência de gestão parece não ter sido suficiente para conter abusos. Faltou fiscalização ou é necessária uma revisão dos dispositivos de controle dos mercados?
JAMES TURLEY – Não há dúvida de que as agências reguladoras passarão a olhar mais cuidadosamente para os mercados. As agências reguladoras acompanharão tudo mais de perto e exigirão mais transparência. Hoje em dia, as empresas, os investidores e as agências reguladoras já exigem um grau maior de transparência. Além de ver os números das empresas, vão querer entender. Após a crise, informação é a nova palavra-chave.
DINHEIRO -A crise perdura por problemas de gestão, falta de confiança nas autoridades monetárias e nos sistemas financeiros ou se trata de uma questão sistêmica que só será equacionada com a refundação do capitalismo?
JAMES TURLEY – A questão será resolvida com a restauração da confiança no sistema financeiro, confiança nas empresas, confiança nos sistemas e nas economias. Houve perda de confiança e isso causou rupturas. A partir de agora, sem dúvida haverá uma regulação maior nos mercados, não apenas nos países individualmente, mas no sistema financeiro global. O foco estará voltado aos riscos. A economia global está muito conectada para que as regulações sejam individuais, localizadas internamente nos países. A regulação será diferente para que a confiança retorne.
DINHEIRO – O que os governos podem fazer para evitar novas quebradeiras?
JAMES TURLEY – Eu acho que o clima está propício para os governos aprimorarem os mecanismos de regulação. Os riscos das instituições financeiras devem ser acompanhados mais de perto e isso, com certeza, irá acontecer. Os governos têm que olhar para o futuro para evitar novos problemas. O grande desafio é como fazer isso, mas em todo o mundo isso tem sido debatido.