30/08/2006 - 7:00
A globalização dos mercados, aliada ao processo de internacionalização das empresas, está fazendo com que companhias brasileiras que nunca se interessaram por hedge passem a fazer uso dessa forma de proteção contra a flutuação de preços. Sadia, AmBev, Braskem e Aços Villares, entre outras, contrataram especialistas do ramo, fizeram estágios em bancos e, recentemente, até criaram departamentos específicos para identificar seus riscos financeiros e preservar os ganhos operacionais contra eventos alheios ao negócio si, como volatilidade das taxas de juro, dos preços de mercadorias e do câmbio. Casos como o da Varig e da Eletropaulo, que sofreram com a desvalorização do real, serviram de alerta para empresários e executivos. Hoje, eles não se preocupam apenas com os conhecidos indicadores de performance, como volume vendido, preços ou margens, mas também com o monitoramento de situações adversas que impactam os resultados das suas empresas.
Prova disso é o aumento das operações de hedge registrado nos balanços de algumas companhias referentes ao primeiro semestre do ano. O crescimento do interesse das empresas em se proteger de crises também pode ser verificado no volume de hedge realizado nas corretoras de valores. Na Planner, por exemplo, o estoque de operações de hedge em julho era 15% superior ao estoque registrado há seis meses.
A Aços Villares está entre as companhias que aumentaram a proteção do seu negócio nos primeiros meses do ano com operações de hedge cambial. ?Sem esse instrumento de proteção, teríamos alta volatilidade nos resultados e dificuldade para atingir o orçamento estipulado?, afirma Alexandre Monteiro, diretor financeiro da empresa. Para aprimorar o conhecimento no ramo, a companhia designou, recentemente, dois de seus funcionários para fazer uma espécie de estágio com especialistas do mercado financeiro de um dos bancos que mantém relacionamento.
A Ambev foi mais longe. Contratou os próprios profissionais de bancos para comandar suas finanças. Entre outras operações, a empresa faz hedge para se proteger das possíveis alterações dos preços de commodities, como alumínio (utilizado na produção de latinhas) e açúcar (usado na fórmula das cervejas). Já a Braskem costuma fazer hedge cambial e de resina, para não sofrer com a oscilação do preço da mercadoria. Além do manjado departamento financeiro, a petroquímica mantém uma área específica de gerenciamento de riscos. ?A cada 30 dias projetamos cenários, determinamos as variáveis de risco e protegemos o equivalente a 24 vezes o fluxo de caixa em operações de hedge?, diz Paul Altit, vice-presidente de finanças da Braskem. A Sadia é outra companhia que adotou o hedge na sua gestão. ?Paramos de perder dinheiro com as oscilações do dólar?, afirma Luiz Murat, diretor de Finanças da companhia
Embora as empresas não-financeiras estejam aumentando o interesse por esse tipo de operação, sua participação nos negócios realizados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) ainda é ínfima ? 0,97% do volume total de contratos. As instituições financeiras respondem por mais de 56%. Nos Estados Unidos e na Europa, a operação de hedge é adotada por 90% das empresas. No Brasil, porém, menos de 10% utilizam esse artifício. Na tentativa de aumentar essas estatísticas, a BM&F, em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), passou a oferecer cursos de hedge para empresas não-financeiras. O primeiro foi realizado no início de agosto. O segundo será oferecido em setembro e já tem uma fila de espera de 30 companhias interessadas em incluir o hedge como mais um instrumento de proteção.