16/06/2017 - 16:03
O ex-chanceler Helmut Kohl, que faleceu nesta sexta-feira aos 87 anos, entrou para a História como o pai improvável da Alemanha reunificada, que o colosso nascido na região alemã da Renânia, ancorou pacificamente na União Europeia.
“Para a nossa felicidade, os europeus estão unidos e grande parte desta felicidade se deve a Helmut Kohl”. Com estas palavras, a chanceler alemã, Angela Merkel, homenageou o seu mentor político, em uma de suas últimas aparições públicas em 2012, coincidindo com o 30º aniversário de sua chegada ao poder.
Apesar das piadas das quais foi objeto durante toda a sua carreira por sua imagem e jeito provinciano, a ação e o papel do ex-chanceler nas mudanças provocadas pela queda do bloco soviético se tornaram unânimes há muito tempo.
Em uma pesquisa realizada pelo influente jornal Bild em 2011, seus compatriotas escolheram Goethe como a principal figura alemã de todos os tempos, colocando Kohl em quinto lugar, a única personalidade viva dessa classificação junto com o ex-chanceler social-democrata Helmut Schmidt.
– Gigante político –
Antes da queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, ninguém teria apostado que o chanceler que comandava a República Federal da Alemanha (RFA) desde 1982 poderia entrar para a História.
Este católico praticante nascido em uma família da pequena burguesia de Ludwigshafen, sumariamente enfraquecido por uma rebelião interna em seu partido, a União Cristã Democrata (CDU), surpreendeu a todos no fim de 1989.
De repente, “foi como se o espírito de [Konrad] Adenauer tomasse conta dele”, escreveu Stanley Hoffmann, professor de Ciência Política em Harvard. Como o primeiro chanceler do pós-guerra, “Helmut, a pera” (como chamavam os seus críticos depreciativamente) se impôs como “um dos maiores líderes da Europa do pós-guerra”, segundo George Bush pai.
Este homem de físico imponente – 1,93 m de altura e um peso considerado “segredo de Estado”, mas que fica próximo aos 150 kg – atingiu o estatuto de gigante político.
Em 28 de novembro, diante da surpresa geral, apresentou um plano de 10 pontos para alcançar a reunificação. Hábil estrategista, utilizou sua simplicidade e firmeza para conseguir que o líder soviético Mikhail Gorbachev retirasse o Exército Vermelho, e par convencer os seus aliados americanos, franceses e britânicos, temerosos de uma grande Alemanha.
“Com a simplicidade de seus objetivos, Kohl autenticou o caráter inofensivo de seu país”, considerou Jürgen Busche, um de seus biógrafos. Menos de um ano depois, em 3 de outubro de 1990, a Alemanha dividida desde 1945 estava reunificada.
– Uma Europa de paz –
Paralelamente, o chanceler perseguiu a outra grande aventura de sua vida política: a construção de uma Europa de paz e de prosperidade, fundada em grande parte na amizade franco-alemã.
Nascido em 3 de abril de 1930 em uma Renânia destruída pelos combates entre os dois países, Helmut Kohl cultivou uma profunda amizade com o presidente francês François Mitterrand, simbolizada pela fotografia na qual pode-se ver os dois de mãos dadas no campo de batalha de Verdun, durante o 70º aniversário do início da Primeira Guerra Mundial em 1984.
Ambos construíram o novo rosto da União Europeia com o Tratado de Maastricht, em 1992, e a introdução do euro como moeda única (virtual antes de física) em 1999.
O final da carreira de Helmut Kohl, que estabeleceu um recorde de longevidade no poder em seu país (1982-1998), esteve obscurecido pelo escândalo das caixas-pretas de seu partido.
Depois de negar, o político reconheceu ter recebido doações ocultadas para a CDU. Merkel, que aprendeu política em sua sombra, aproveitou o episódio para afastá-lo e iniciar sua ascensão.
Aposentado desde 2002, o ex-chanceler viveu desde então com discrição, principalmente devido aos graves problemas de saúde. Em 2009, quando teve que ficar na cadeira de rodas como consequência de uma fratura no quadril, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) que paralisou a parte inferior de seu rosto e afetou a sua fala.
Os sobressaltos de sua vida privada, expostos em vários livros e jornais alemães – desavenças com seus filhos, a polêmica sobre o papel de sua nova esposa após o suicídio de sua primeira mulher que estava doente, Hannelore, em 2001 – acabaram obscurecendo os últimos anos de sua vida.