O tempo em que donas de sobrenomes famosos abriam butiques em Ipanema ou nos Jardins para vencer o tédio ficou para trás. Agora, lídimas herdeiras de famílias tradicionais do eixo Rio?São Paulo só pensam naquilo ? ganhar dinheiro na Internet. ?Não me deixaram entrar no conselho da empresa de meu pai?, conta Maria Beatriz Fortes, 48 anos, a respeito da tentativa frustrada de conseguir uma cadeira no comando da João Fortes Engenharia, a maior construtora do Rio de Janeiro. Em lugar de puxar os cabelos e fazer beicinho, ela usou o revés para armar seu pulo de gata. Tomou um avião para os Estados Unidos, no começo dos anos 90, e foi ver de perto o que lhe parecia ser o futuro. Voltou craque em Web e aderiu ao projeto de dois amigos, a desenvolvedora de sites Mlab, especializada em criar páginas para grandes corporações. Está fe-li-cis-sí-ma, como descreveria Danuza Leão. O faturamento da empresa no ano passado chegou a R$ 6 milhões e atraiu para o negócio o grupo Globalvest/Latinvest, que comprou 20%. A Mlab tem hoje 192 funcionários, clientes entre as maiores empresas do País e já faturou, segundo Maria Beatriz, R$ 8 milhões este ano. ?Seguir meu próprio caminho foi a decisão mais acertada da minha vida?, reconhece a empresária, dona de 8% da mina virtual.

Em São Paulo, uma charmosa locomotiva da sociedade avança pelos mesmos trilhos. Renata Scarpa, 42, vive numa mansão incrustrada no metro quadrado mais caro da cidade, no Jardim América, freqüenta a fazenda da quatrocentona família nos finais de semana e reconhece que administra vantagens. Como mulher de negócios, porém, gosta do lance singular. ?Eu sou muito eu?, diz. Ela já montou uma fábrica de varaus e foi pioneira no ramo da comunicação visual para pequenas empresas. À procura de oportunidades, Renata topou com a Internet. ?Aqui, buscamos lucro imediatamente?, anuncia, diante do filho Fernando Scarpa Julião e do especialista em Web Sebastião Rocha, seus sócios, além de Cláudio Giannini Leite, no provedor Rapi10. Ela já tirou da bolsa cerca de R$ 100 mil para colocar no negócio, montado dois anos atrás por Rocha. Espécie de fábrica de soluções virtuais a quem deseja abrir ou ampliar um site na Web, o Rapi10 tem 35 funcionários e uma carteira de 600 hóspedes com demanda mensal superior a um milhão de page views. A empresa, então sob o nome de Netway, fechou o ano passado com um faturamento de R$ 1,5 milhão. Dois meses atrás, Renata fez seu lance e colocou a si própria e o filho mais velho na sociedade. ?Eu darei minhas idéias, mas o trabalho do dia-a-dia será deles?, determina.

Herdeira de um sobrenome tradicional no meio empresarial paulista, mas ainda sem herdeiros, Ana Luíza Bardela, 32, sabe que entra às 9 horas e não tem hora certa para deixar a sala de terminais do MaisAtivo, empresa que ajudou a criar no início do ano. Trata-se de uma companhia voltada para a comercialização de máquinas usadas entre empresas, negócio com bases no México, Venezuela, Colômbia e Argentina, além do Brasil. ?Combinamos elementos da velha e da nova economias?, afirma Ana Luíza, presidente da operação no Brasil, com sede em São Paulo. A comparação é porque o site mantém um grupo de 24 assessores de negócios, que percorrem pessoalmente as empresas atrás de máquinas à venda e solicitações de compras. Na fase de implantação, a idéia ganhou a adesão do grupo Eccelera, que investiu US$ 4 milhões para liderar o negócio. No momento, o MaisAtivo promove uma segunda rodada de captação de recursos, na qual seus executivos esperam atrair investimentos de US$ 10 milhões. Dona de 2% das ações, a jovem executiva já coordenou a compra e venda de seis máquinas de grande porte nos últimos dois meses, recolhendo para sua empresa comissões de 5% a 10% a cada negócio fechado.

As herdeiras.com gostam de cultivar a independência, mas nenhuma delas renega a própria origem. Antes de aderir à Mlab, Maria Beatriz Fortes ajudou seus futuros sócios Marcos Wettreich e Alexandre Ribenboim a arrumar recursos para a compra dos primeiros computadores e servidores. ?Com meu pai, conheci grandes empresários do Rio, São Paulo e Brasília?, admite. ?Isso, naturalmente, abriu as primeiras portas para o sucesso deles?. No caso de Renata Scarpa, a fortuna em imóveis e participações em empresas mantida pela família proporciona segurança. ?Quem tem pai e mãe nunca está só?, filosofa. ?Mas sempre tomo o cuidado ao investir para, se perder, não ter de pedir nada a eles nem mudar meu padrão de vida.? Enfurnada no ramo de compra e venda de máquinas pesadas via Web, Ana Luíza Bardela julga que tudo poderia ser mais difícil. ?Eu sei que existem empresários que me atendem logo de cara porque eu sou filha do Cláudio Bardela?, assume. ?Mas daí para frente é comigo. Sobrenome não faz milagre.?