Ermírio de Moraes, Birman, Skaf, Nahas, Herz, Gutierrez… Os crachás com estes sobrenomes, enfileirados sobre a mesa da recepção do hotel Sofitel, na Costa do Sauípe (BA), não deixavam dúvidas: o local reunia a elite empresarial brasileira. Era quase isso. Os famosos crachás, na verdade, enfeitariam pouco depois o pescoço de uma galera com média de idade de 25 anos.

Eram os filhos, netos ou sobrinhos de empresários de ponta ? ou, como bem disse um dos executivos presentes ao encontro, ?eram os herdeiros do PIB?. A primeira edição do evento Jovens Líderes Empresariais levou ao hotel baiano, na semana passada, 380 representantes dessa nova geração forjada dentro das fábricas e escritórios dos maiores grupos do País. Mas o que pensam os líderes do futuro? Quais seus objetivos? Como vêem o mundo corporativo? São conservadores ou arrojados? Na Bahia, viu-se de tudo. Aqueles que seguiam na linha do ?como nossos pais? e os que preferiam o ?preciso aprender a ser só?. Muitos em plena atividade na empresa da família, como Sérgio Herz, diretor da Livraria Cultura (comandada por seu pai Pedro) e Ricardo dos Santos Júnior, neto do vice-presidente José Alencar e trainee na Coteminas. Outros, em carreira solo, como Aninha Gutierrez, que deixou a Andrade Gutierrez para montar a Academia Fórmula, em Belo Horizonte. Mas todos, sem exceção, com uma disposição enorme de provar que tem competência e garra suficientes para continuidade ao trabalho iniciado pela gerações anteriores.

Tome como exemplo André Skaf, 23 anos, filho do presidente da Fiesp, Paulo Skaf. Herdou do pai a veia associativa e o talento para reunir classes empresariais. Sua companhia, SSSky, criada em sociedade com o amigo Omar Sahyoun (24 anos), já organizava encontros importantes da indústria da moda, como o Prêt-à-Porter, que colocou nas passarelas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas, grifes nacionais desfilando peças que pouco depois poderiam ser compradas nas lojas. ?O Prêt-à-Porter vende produtos e não conceitos. E tem por objetivo divulgar a indústria nacional?, resume André Skaf. No evento Jovens Líderes, a história se repete. A SSSky se associou ao empresário Marcus Hadade, dono da Arizona Gráfica e ex-presidente da Confederação Nacional de Jovens Empresários, para juntar os ?empreendedores do futuro?. ?A idéia foi formar desde já um elo entre homens e mulheres que podem fazer o Brasil seguir em sua marcha de crescimento?, diz André Skaf

O elo estava formado. Nas conversas à beira da piscina, nas palestras ou nos jantares, os participantes aproveitavam para trocar cartões e firmar possíveis parcerias. Maria Regina de Moraes Waib, filha de Antônio Ermírio de Moraes, manteve contatos com potenciais investidores para suas causas sociais. Ela comanda, há sete anos, a ONG Projeto Velho Amigo, que ajuda mais de 400 idosos em São Paulo, e faz parte do Conselho do Instituto Votorantim. ?O interessante é que para fazer o bem não há rivalidade. Consegui o apoio do banco Santander e do Alpha, que jamais dividiriam o patrocínio de um mesmo evento no mercado?, festeja Maria Regina. E por que ela preferiu mergulhar no terceiro setor em vez de se juntar ao império familiar? ?A riqueza de um país não passa somente pelo que é produzido nas fábricas, escritórios ou nas mesas financeiras. O compromisso com o social deve ser hoje uma das principais preocupações de uma nação em crescimento?, responde a filha de Antônio Ermírio.

Outro que deixou a nave-mãe para alçar vôo solo foi Alexandre Birman. O herdeiro da Arezzo é dono de sua própria fabricante de calçados, a Schutz, uma das maiores exportadoras do setor. Mesmo com o câmbio afetando as vendas externas do setor, a empresa deve fechar o ano com R$ 115 milhões de faturamento, 35% acima do resultado apurado em 2004. ?O que nos fortalece no exterior são nossos escritórios na Europa e nos EUA. Temos distribuidores em Portugal, Miami e estou abrindo agora uma unidade em Londres?, afirma. Além de cuidar de todo o planejamento da empresa, Birman participa ativamente da concepção e do design das sandálias. Foi ele quem trouxe de uma feira em Bologna (Itália) a idéia de montar calçados com palmilhas feitas de cortiça, marca registrada da Schutz. ?Olha ali?, avisa o empresário apontando para o pé de uma colega em Sauípe. ?É Schutz. Eu reconheço de longe?.

A colega era Aninha Gutierrez, que recentemente trocou a AGC, área de novos negócios da Andrade Gutierrez, para seguir carreira solo. Ela é dona da academia Fórmula em Belo Horizonte, uma das maiores da rede, com 2,5 mil alunos. A herdeira de Ângela Gutierrez tem a exclusividade da marca em território mineiro, o que não quer dizer que ficará restrita ao Estado. Pelo contrário. Em breve, deverá abrir duas novas academias, provavelmente em Brasília e Curitiba. ?O setor vai passar por uma grande consolidação. A Fórmula tem que estar forte o suficiente para ser um dos principais jogadores desse mercado?, diz a mineirinha. Os mineiros, aliás, invadiram Sauípe. Além da Aninha e Birman, quem andou pela costa baiana falando de planos de crescimento foi Paulo Moraes, acionista do Grupo Ale, que atua na área de distribuição de combustível. Num ano em que o setor registrou queda no volume de vendas, o empresário comemorou crescimento de 25% nas receitas do grupo. ?Devemos fechar 2005 com R$ 2,5 bilhões?, revelou. Atualmente, o Ale é dono de 450 postos de combustível no País. Quer chegar a 700 unidades em três anos. E muito desse crescimento, acredita o empresário, virá do aumento da venda de álcool. ?Hoje, 40% dos carros que rodam no Brasil já são Flex Fuel e a tendência é de que esse número cresça ainda mais. Bom para as distribuidoras?, aposta Moraes.

Se todos os planos de crescimento apresentados em Sauípe realmente se confirmarem o Brasil seguirá tranqüilo sua marcha de crescimento. ?Esse é o espírito. Quem entra no meio corporativo tem que estar disposto a buscar todas as oportunidades, sem medo de errar?, ensinou Benjamin Steinbruch, o dono da CSN, um dos palestrantes no evento. Não havia um único representante dos jovens líderes sem uma carta na manga, um novo negócio a ser explorado ou estratégias ousadas de expansão. É o ímpeto natural de quem há pouco tempo deixou os bancos universitários e está se preparando para tentar brilhar no competitivo mundo dos negócios. ?Minha idéia é voltar para a Coteminas assim que terminar meu MBA nos EUA?, diz Ricardo dos Santos Júnior, neto de José Alencar e sobrinho de Josué Christiano Gomes da Silva, o atual presidente da empresa. Júnior, de 25 anos, estava participando de um programa rotativo de trainee na companhia, mas interrompeu a carreira para se preparar para o MBA, a ser feito na Universidade de Columbia. Estaria sendo moldado para a sucessão? ?Sou apenas o mais velho da ?terceira geração? e por isso fui o primeiro a entrar?, diz. ?E lá na empresa, o crescimento profissional acontece por competência e não por nome. Foi assim com o meu tio Josué?. Segundo ele, Josué é o melhor executivo de sua geração e Alencar, um grande empresário e um político exemplar. Seu avô vai sair para presidente da República, Júnior? Ele sorri e dispara: ?Pergunte para ele?. Júnior está sendo bem treinado.

O novo time dos negócios
Eles começaram cedo na carreira empresarial

Aninha Gutierrez
Herdeira da Andrade Gutierrez decidiu montar a Academia Fórmula em Belo Horizonte. Agora, se prepara para abrir mais duas unidades, em Brasília e Curitiba

Paulo Moraes
Sócio do Grupo Ale, que atua na distribuição de combustível. Até 2008, ele prevê a abertura de mais 250 postos. Hoje, tem 450 espalhados pelo Brasil

Alexandre Birman
O filho de Anderson Birman, da Arezzo, é dono da fabricante de calçados Schutz, que fatura R$ 115 milhões e é uma das maiores exportadoras do setor

André Skaf
O criador do Jovens Líderes é sócio da SSSky, que assina ainda os eventos Prêt-à-Porter, Faap Moda e Brasilidade. É filho de Paulo Skaf, presidente da Fiesp