30/03/2001 - 7:00
Quando o Conselho de Administração da Peugeot se reúne na sede da empresa em Sochaux, na França, o clima é de encontro em família. Oito pessoas sentam-se em torno da mesa e discutem os destinos da montadora. Seis delas ? a começar pelo presidente do conselho, Pierre Peugeot ? ostentam o sobrenome do fundador, Armand Peugeot. O fato é raro em grandes conglomerados multinacionais, principalmente na era da globalização e de fusões criando gigantes transcontinentais. Trata-se, porém, de uma característica marcante do setor automobilístico: um século após Henry Ford ter dado o tom do que seria a indústria mais rica e que mais gerou empregos até agora, o poder de decisão dos grandes fabricantes de automóveis ainda se concentra não mãos de poucas dinastias. Das linhas de montagem dos Ford, dos Peugeot, dos Agnelli (Fiat), dos Porsche, dos Quandt (BMW) e dos Chung (Hyunday) saem, anualmente, nada menos que 7 milhões de veículos.
Levantamento feito pelo jornal inglês Financial Times revela que, somente no ano passado, herdeiros dos grandes patriarcas da indústria automobilística engordaram suas contas bancárias em um total de US$ 470 milhões, contando apenas os dividendos correspondentes às ações que ainda permanecem nas suas mãos. Em alguns casos a força provém da fatia majoritária entre os acionistas. Na alemã Porsche, por exemplo, os descendentes de Ferdinand Porsche ainda detêm 50% das ações. O neto do fundador, Ferdinand Piëch, dá seus palpites na empresa e manda também na Volkswagen, companhia da qual é presidente mundial. Em outros casos, a participação familiar foi diluída nos números, mas não no poder. Chung Mong Koo, filho de Chung Ju Yung, fundador da Hyundai, possui uma fatia de apenas 4,07% do controle da montadora. É o suficiente para mantê-lo dando as cartas na companhia.
Em várias empresas, acionistas minoritários costumam protestar contra o estilo personalista dos herdeiros, às vezes prudentes demais, às vezes voltados apenas para os seus próprios interesses. William Clay Ford Jr., bisneto de Henry Ford e atual presidente do Conselho de Administração da montadora, já ouviu críticas como essa e costuma respondê-las se autoproclamando guardião dos valores da Ford. ?Um dos pontos fortes da presença da família é a garantia de que não vamos ser atingidos por predadores corporativos?, afirma Bill Ford. Gianni Agnelli, o imperador da Fiat ? fundada pelo avô Giovanni ?, concorda com a tese. Para ele, a estabilidade da dinastia é um diferencial competitivo.