A aguardada estreia da minisérie da Globo Passaporte para Liberdade estreia nesta segunda-feira, 20, contando a história de Aracy de Carvalho (Sophie Charlotte). Apresentada como uma “mulher forte, determinada e simples”, Aracy se tornou um dos principais nomes aliados da luta contra os horrores do regime nazista.

A obra começou a ser produzida em 2018, mas precisou ser pausada. Mais tarde, sofreu nova pausa, desta vez, por causa da pandemia de covid-19. O ator Rodrigo Lombardi protagoniza a série ao lado de Sophie Charlotte, vivendo o escritor João Guimarães Rosa, marido de Aracy de Carvalho.

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A trama acompanha a história da brasileira que, em 1935, divorciada do primeiro marido e com um filho pequeno, Eduardo, vai para a Alemanha em busca de trabalho, conseguindo um cargo no consulado brasileiro em Hamburgo, no setor de passaportes. Lá, decidiu colaborar para a salvação de muitos judeus da prisão e do Holocausto ao facilitar a emissão de vistos destes para o Brasil.

Porém, segundo historiador ouvido pela BBC News Brasil, essa história é um mito. Fábio Koifman e o historiador Rui Afonso investigaram os vistos concedidos a alemães no consulado de Hamburgo entre 1938 e 1939.

Koifmam e Afonso apresentam seus argumentos em um artigo publicado no livro Judeus no Brasil: História e Historiografia (2021). O primeiro é que nenhum dos vistos concedidos pelo consulado de Hamburgo a judeus alemães naquele período foi irregular, falsificado ou forjado, segundo os pesquisadores.

O historiador contou ao portal que uma das versões sobre esse caso diz que Aracy conseguia tirar a letra “J” que aparecia em destaque nos passaportes de judeus para identificá-los. “Mas todos os passaportes tinham J.”

O governo alemão queria expulsar os judeus do país e tentava fazê-los sair por conta própria.

As fronteiras só se fecharam para os judeus em outubro de 1941, diz Koifman. “Depois disso, Aracy poderia ter sido morta (por ajudar judeus), mas antes, não.” Para o historiador, a brasileira não correu qualquer risco grave.

A BBC News Brasil questionou a Globo sobre os contatos feitos com Koifman, mas a emissora não respondeu à pergunta sobre esse assunto. A emissora disse ainda que “respeita o ponto de vista” dos dois historiadores e ressaltou que o programa é uma obra de ficção baseada em fatos reais.