Salim Bittar chegou em Brasília em 1970 e fundou o hotel Phenícia, de 140 leitos e três estrelas, que já serviu de QG em campanhas políticas para Paulo Maluf, José Serra e Lula. Hoje seus filhos Rogério e Ricardo têm mais quatro hotéis, entre eles o cinco estrelas Gran Bittar, 750 apartamentos, uma construtora e um patrimônio de R$ 200 milhões. Ricardo, o executivo que aparece para o mercado, mora em uma mansão de mil metros quadrados na Península dos Ministros e tem quatro carros ? o predileto é o X-5 da BMW, de R$ 375 mil. Ah, Ricardo também tem uma lancha de R$ 150 mil para brincar nos domingos ensolarados no Lago Paranoá. ?Não tenho do que re-
clamar?, diz. Desconhecidos no resto do País, os Bittar traduzem
um fenômeno que aumenta a cada ano. Brasília está deixando de
ser apenas um centro administrativo para figurar como uma terra
fértil para fazer dinheiro.

 

De acordo com o ?Atlas da Riqueza no Brasil?, os ricos de Brasília são mais ricos que os do Brasil. Segundo o Atlas, há 35 mil famílias prósperas na Capital, que ganham mais de R$ 40,8 mil mensais. É o dobro da renda das elites brasileiras, calculada em R$ 23,4 mil mensais. Em São Paulo, há 443 mil ricos, bem mais que em Brasília. Mas eles têm ganhos médios de R$ 30,6 mil mensais. Significa que os ricos da corte ganham um terço a mais que os ricos paulistas. ?Não são ricos de herança, mas empreendedores que fizeram fortuna à medida que Brasília foi crescendo?, explica Rogério Rosso, secretário de Desenvolvimento local ? ele mesmo casado com a dona da segunda maior revendedora de pneus do País, a Coringa, com 60 lojas.

 

Bilionários do quilate de Antônio Ermírio e Jorge Gerdau não há nenhum. Mas há um grupo de pelo menos 15 empresários locais cujo patrimônio pessoal beira a R$ 1 bilhão. Existe o time de veteranos dos transportes, como Wagner Canhedo, da Vasp e José Augusto Pinheiro, da Real Expresso. Tem ainda um conhecido grupo de novos-ricos da construção, como Paulo Octávio, Luiz Estevão e Fernando Queiroz, da Via. O Atlas também constatou uma nova geração de milionários emergindo por conta de características que só se encontram em Brasília. A principal delas é a proximidade com o poder ? que tantas fortunas fez no passado. Nos últimos 20 anos, multiplicaram-se as empresas que prestam serviços de informática para o governo. Cristina Bonner, por exemplo, dona da TBA, chegou a ser a maior parceira mundial da Microsoft fora dos Estados Unidos. Avaldir de Oliveira, da CTIS, é outro caso ilustrativo. Tinha um bom emprego público quando, há 20 anos, pediu demissão
e apostou em uma empresa de suprimentos de informática. Hoje,
aos 53 anos, tem seis automóveis, mora num triplex e toca uma empresa com 2 mil funcionários e faturamento de R$ 285 milhões anuais. Já entrou para o ranking dos dez maiores do País em tecnologia. ?Nosso principal foco de faturamento é a prestação
de serviços para o governo?, conta.

 

Outro grupo emerge com negócios em torno do poder. Rogério Avelar, 44 anos, é um caso raro entre homens de negócios. Se lhe perguntam quanto ganha, informa sem vacilar que hoje embolsa, como pessoa física, uma média de R$ 80 mil por mês. Mas há dois anos, antes do aperto fiscal do governo, foi o dobro disso. Declara cada centavo à Receita Federal. ?Preciso estar com a vida em ordem para conseguir crescer ainda mais meus negócios?, explica. Ora, por quê? Porque Avelar só se relaciona com gente poderosa. Começou com uma indústria têxtil da família, em Montes Claros, Minas, e hoje tem seis negócios. Em fazendas, possui uma província de 2,5 mil hectares de algodão, milho, feijão. Seu restaurante, o Convento, está sempre cheio de autoridades. O ramo predileto e mais lucrativo é um escritório de advocacia que atua junto ao Supremo Tribunal e à Receita Federal para um leque de clientes do porte do Bradesco, Banco Real e Carrefour. O tributarista Osíris Lopes, ex-secretário
da Receita Federal, é outro que transforma em riquezas seus conhecimentos sobre o poder. São tantas as empresas atrás de
boas dicas sobre o Fisco, que Osíris comprou uma mansão de 1,2
mil metros quadrados, no Lago Sul, para fazer um escritório. Recentemente, comprou a mansão ao lado para morar. ?Rezo
para não aparecerem mais clientes?, brinca Osíris.

O setor de serviços também cresce de forma avassaladora em Bra-
sília. ?Hoje somos a oitava economia do País, mas em uma década seremos a quinta?, avalia o presidente da Associação Comercial lo-
cal, Fernando Brites. A empresária Darcy Bicalho chegou em Brasília há 45 anos. Começou como manicure e depois vendeu Avon. Hoje é dona de uma das maiores clínicas de beleza da corte. Fica no bairro dos ricos, o Lago Sul. Quanto fatura? É segredo de Estado. Mas revela: ?Um bom tratamento de pele custa até R$ 1.600.? Darcy já mora entre os ricos e adora carrões. Seu novo brinquedo é uma Mercedes 280, ano 2001. ?Jamais imaginei que a vida me desse
tantas oportunidades?, festeja.