10/05/2006 - 7:00
Bill Gates e Warren Buffet têm não uma, mas algumas coisas em comum. São bilionários. Doam fortunas para instituições beneficentes. E estão investindo pesado em prata. No ano passado, o fundador da Microsoft vendeu 61 milhões de ações da fabricante de software por cerca de US$ 1,5 bilhão para investir na produtora de prata canadense Pan American Silver. Por sua vez, Buffet já comprou 130 milhões de onças do metal. Ao custo atual de 12,5 dólares a onça, é um investimento igualmente impressionante, de US$ 1,6 bilhão. Assim como eles, o gestor de fundos George Soros tem dedicado parte de seu tempo e de seus recursos a este mercado. Soros detém hoje cerca de 25% do capital de uma mineradora chamada Apex Silver, que tem um projeto na famosa mina boliviana de Potosi e reservas de 470 milhões de onças. Por trás do interesse do tecnólogo, do megainvestidor e do mais famoso especulador do mercado internacional há uma avaliação comum sobre o potencial de valorização da prata, baseada no esperado crescimento da demanda pelo metal para tecnologias elétricas (em pilhas, por exemplo), medicinais (drogas bactericidas), construção de navios e aviões, além de joalheria.
Graças a sua condutividade e resistência à oxidação e ao calor, a prata é utilizada em um número crescente de indústrias. Mesmo assim, o mercado mundial deste metal é modestíssimo. Não movimenta mais de US$ 7 bilhões por ano, contra quase US$ 37 bilhões girados anualmente pelo ouro, por exemplo. Já há mais demanda do que oferta de prata no planeta. E, se a procura por esta matéria-prima continuar a crescer no ritmo atual, os preços ? quase irrisórios se comparados aos do ouro, hoje na casa de 668 dólares a onça ? tendem a explodir. Até porque a possibilidade de aumento da oferta de prata é limitada pelo fato de sua produção, atualmente, ser apenas um subproduto da extração de outros minerais, como zinco e chumbo.
Com status de insumo industrial e não de metal precioso, a prata tem estado subvalorizada por décadas. O último grande surto de interesse por ela foi registrado em 1979, quando os irmãos Hunt (dois texanos herdeiros da família americana mais rica da época) aliaram-se a um grupo de investidores árabes e compraram 200 milhões de onças de prata, o equivalente a metade do suprimento global à época. Ao longo daquele ano, a cotação da onça do metal nos Estados Unidos saltou de 5 para 54 dólares. A bolha estourou em 1980, com perdas de até 50% em um mesmo dia.
Com a compra, por Bill Gates, de algo entre 10% e 15% da Pan American Silver, o metal está novamente na moda. Há, por exemplo, relatos de investidores do Oriente Médio estocando prata. Mas, no momento, a maior excitação neste mercado gira em torno de um fundo de investimento em prata que o banco inglês Barclays se prepara para lançar. As cotas do iShares Silver Trust poderão ser negociadas em bolsa, o que deve propiciar liquidez ao investimento. Antecipando uma grande compra de barras de prata pelo Barclays, investidores estão adquirindo o metal agora. Resultado: as cotações da prata já subiram 25% desde janeiro.
No Brasil, não há negociação de prata em bolsas e, mesmo no mercado de balcão, os volumes negociados são irrisórios. O metal, a rigor, nem mesmo é considerado um ativo financeiro. Ainda.