31/08/2005 - 7:00
Vê-se logo que o empresário Nissim Hara, dono da fabricante de lingerie Hope, conhece profundamente o seu setor.
? O senhor pode levantar o queixo um pouquinho, por favor?, pede o fotógrafo.
? Claro, claro. É que ele caiu quando a moça entrou, responde rápido o industrial.
A moça era a bela modelo convocada para ? palavras de Hara ? ?dar mais energia? a esta reportagem. Não que precisasse. Por um momento, Hara apenas se esqueceu das novidades que tinha para contar. Compreensível. Às boas novas, então. A primeira é que, prestes a completar 40 anos, a Hope decidiu ir à praia pela primeira vez. Vai lançar uma coleção de biquínis em outubro. Trata-se de algo revolucionário para uma empresa que, de sua fundação em 1966 até aqui, sempre ficou escondida embaixo da roupa das mulheres. Agora, ela vai mostrar a cara em um mercado milionário e dominado por tubarões glamourosos como Rosa Chá, Cia. Marítima e Salinas.
?Nosso foco será outro?, vai logo avisando Sandra Chayo, filha de Hara e diretora de marketing da companhia. ?Não iremos às semanas de moda. A idéia é transpor aos biquínis as principais características de nossas lingeries: conforto, funcionalidade, tecnologia.? Traduzindo: etiquetas de silicone (como não ficam molhadas, não incomodam), recheio de espuma para aumentar os seios que não absorve água e peças vendidas separadamente (a consumidora faz combinação que quiser). ?Nossas vendas crescerão 30% este ano por conta dos biquínis?, calcula Sandra. De quebra, eles também preencherão os 30% de ociosidade das três fábricas da companhia. Sandra e o pai não revelam o faturamento da Hope. Mas especialistas do setor arriscam: a empresa teria cerca de 1% do mercado nacional de moda íntima, avaliado pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil em US$ 1,34 bilhão ao ano.
A segunda novidade é que a Hope também virou cosméticos. Inicialmente, a linha de cremes, sabonetes e perfumes servirá ?só para dar um charme à marca?, como diz Sandra. ?Queremos oferecer algo que complemente as vendas de nossos clientes. Mas quem sabe vire um negócio interessante e nós nos tornamos concorrentes da Natura?, sorri a herdeira, sob o olhar de aprovação do pai. A marca Hope está hoje em 5 mil lojas e hipermercados. Algum plano de montar uma loja exclusiva, no estilo Victoria?s Secret, a badalada grife americana? Sandra sorri de novo: ?Muitos clientes que já trabalham com a marca querem transformar seus negócios em lojas exclusivas da Hope. Vamos ver.?
Ao lado das irmãs Karen e Daniele, Sandra é a grande responsável pela estratégia de rejuvenescimento da Hope. ?Há dez anos, só fazíamos calcinhas e sutiãs para senhoras?, admite ela. Depois de estagiar na fábrica, Sandra ajudou a montar o plano que trouxe consumidoras mais novas para a marca, incorporou tecnologia às peças e, acima de tudo, horizontalizou a produção. Antes, a Hope fabricava absolutamente tudo: tecido, elásticos, etc. Hoje, compra pronto e dedica mais tempo e dinheiro a pesquisas e desenvolvimento. ?Para fazer marketing em revistas e TV é que sobra pouco?, ressente-se Sandra. ?Para o meu pai, o que funciona mesmo são aqueles outdoors imensos que temos nas ruas.?
Marqueteiro autodidata, nos anos 80 Hara bolou o primeiro merchandising de novela da história. No folhetim ?Roque Santeiro?, da Rede Globo, uma moça de calcinha e sutiã estampada num outdoor piscava só para o professor Astromar Junqueira ? que, obviamente, era tido como louco pelos demais personagens da trama. ?Ali começamos a crescer. As vendas triplicaram em um ano?, conta o empresário. Hara nasceu no Líbano, numa família dona de uma fábrica de fósforos e baralhos. Aos 22 anos, foi trabalhar na construtora de um tio, nos EUA. ?Um dia ele me mandou supervisionar uma obra no Rio de Janeiro. Eu vim. E nunca mais voltei?, conta. Chegou a ter uma transportadora no Norte do País antes de fundar a Hope a partir de um único produto: uma calcinha perfumada. Aos 69 anos, Hara se considera um expert no assunto. E decreta: ?Para mim, lingerie tem que ser sensual, entendeu??
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US$ 1,3 bilhão é quanto fatura o setor de moda íntima no Brasil |