22/02/2013 - 21:00
Uma das principais fragilidades da economia brasileira é a escassez de capital para investimentos de longo prazo. Os resultados mais recentes do Produto Interno Bruto (PIB) mostram que a taxa de investimento, conhecida pelo feio nome técnico de Formação Bruta de Capital Fixo, recuou para 18,7% do PIB no terceiro trimestre de 2012. Trata-se da quinta queda trimestral consecutiva. Desde a estabilização da economia, há quase duas décadas, esse indicador esteve longe dos cerca de 25% registrados nos acelerados anos 1970.
Como explicar esse desempenho ruim? As condições atuais da economia brasileira são muito melhores do que as dos primeiros tempos do Plano Real. A maior parte dos entraves foi superada ou, ao menos, contornada. Os preços são estáveis. Os juros recuaram para patamares civilizados. A segurança jurídica avançou. Por que, então, os investimentos não crescem? A resposta é de uma trivialidade dolorosa: falta dinheiro. Sem uma fonte própria de recursos domésticos, o Brasil é obrigado a recorrer ao capital de fora, e este tem sido insuficiente. Em 2012, os investimentos estrangeiros diretos totalizaram invejáveis US$ 55,1 bilhões, cifra em linha com os US$ 56 bilhões do ano anterior.
No entanto, ao se comparar esse resultado com o PIB estimado pelo Banco Central (BC) de US$ 2,26 trilhões em 2012, o total investido pelos capitalistas internacionais representa modestos 2,4% do PIB. Para chegarmos aos “24%, 25%, 26%” de investimento ideais defendidos pelo ministro Guido Mantega, seria preciso multiplicar a poupança interna várias vezes e atrair vários bilhões de dólares a mais do mercado externo. O problema é grave, e chamou a atenção dos especialistas internacionais. Na segunda-feira 11, o G-30, instituto de pesquisa com sede em Washington, divulgou um estudo mostrando que as nove principais economias – o Brasil entre elas – demandaram US$ 11,7 trilhões em investimentos, em 2010.
Para 2020, a necessidade de dinheiro longo deve crescer para US$ 18,8 trilhões, de modo que esses países, que respondem por 60% da economia mundial, possam fazer frente a suas necessidades de infraestrutura, saúde e educação, habitação e pesquisa. Mesmo os mais ricos e maduros terão de consertar defeitos em seus sistemas bancários, de maneira a destravar o fluxo de recursos. “As mudanças nos últimos anos, incluindo desalavancagem do sistema financeiro, endurecimento fiscal e regras mais estritas para o sistema bancário reduziram a oferta de capital de longo prazo dos governos e dos investidores, tanto individuais quanto internacionais”, escreveu Jean-Claude Trichet, ex-presidente do Banco Central Europeu e atual presidente do G-30. As soluções propostas são várias.
Um comitê de estudos do G-30 presidido por Guillermo Ortiz, ex-ministro da Fazenda do México, sugeriu que os governos criem novos mecanismos para estimular a poupança doméstica, e recomendou especificamente o uso de parcerias público-privadas. “É preciso garantir a estabilidade dos fluxos internacionais de capital, que são essenciais para que as economias emergentes consigam satisfazer suas necessidades de recursos”, escreveu Ortiz. Só assim será possível construir pontes que liguem os recursos que precisam de rentabilidade, como os dos fundos de pensão internacionais, com os projetos que estão dispostos a remunerar os investidores. Sem isso, a realização do potencial das economias emergentes estará seriamente comprometida.