29/04/2009 - 7:00
A SANGRIA DOS FUNDOS multimercados em 2008 serviu para duas coisas: testar os ânimos dos investidores persistentes e afugentar os que não possuem sangue-frio para suportar a volatilidade. Para os que ficaram, a luz no fim do túnel parece estar cada vez mais visível. Aos que partiram, resta o recomeço. O saldo negativo de R$ 54 bilhões obtido pelos multimercados no ano passado não significa apenas fuga de capital. O tombo foi sinônimo de aprendizado para investidores e fundos. Gestores acostumados a trabalhar na alta tiveram que suportar o amargo sabor da derrota, enquanto alguns que surfaram na tormenta conseguiram manter ganhos estáveis.
Clique nas tabelas para amplia
Clique nas tabelas para ampliar
Em 2009, o cenário é outro. Menos esperança e mais certeza, menos ousadia e mais diversificação estratégica. ?Os investidores ficaram mais cientes do risco, e os gestores também?, explica Carlos Arnaldo Borges de Souza, superintendente da Planner Corretora. No acumulado do ano, os depósitos nos multimercados superam os saques em R$ 3,7 bilhões, mas já há sinais de trégua. Em março, mês em que o Ibovespa teve alta de 7,2%, a captação líquida foi de R$ 2 bilhões. ?Apesar da turbulência, as perspectivas para os multimercados são boas. Principalmente para os que possuem renda variável?, afirma Ricardo Veloso, gestor da Zero Capital. Fato curioso é que o fundo sob a gestão de Veloso é justamente sem renda variável e figura em primeiro lugar no ranking cuja aplicação inicial é de até R$ 10 mil. ?Sempre vai haver mercado para fundos sem alavancagem, mas há uma expectativa de que, dentro de 30 anos, os investimentos em renda variável sejam parte importante da poupança dos brasileiros. Daí o potencial maior de fundos mais alavancados?, diz o gestor.
O ZC Termo 30 FI Multimercado possui estratégia voltada para o Mercado a Termo (contratos com vencimento prefixado) e apostou na compra de Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGE), títulos recémcriados com cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).
?Trabalhamos com essas operações logo no início, enquanto a maioria ainda desconhecia. E estamos colhendo os resultados?, explica Veloso. Entre os alavancados, o Vetorial Top FI Multimercado teve destaque, com uma estratégia direta: ?Não dormir posicionado?, diz Sérgio Machado, da Vetorial Asset Management. O fundo faz operações de curtíssimo prazo operando dólar, índice futuro, juros, café, boi e ações e raramente passa mais de dois dias com uma posição. ?Com a volatilidade, posições pequenas geram lucros grandes.
Saques superaram os depósitos em
R$ 54 bilhões
nos multimercados no ano passado
Obviamente, sempre com o risco calculado?, explica. Já o Planner FI Multimercado aposta nas operações de prazo um pouco mais longo, até 120 dias. ?São operações prefixadas utilizando o mercado de ações, opções e índice futuro. E quanto mais o mercado oscila, melhor conseguimos trabalhar?, explica Souza, da Planner. A estratégia, segundo ele, é voltada para investidores que buscam ganhos estáveis, ainda que menores que outros fundos. ?É para o cliente que quer ganhar menos e ganhar sempre. É quase uma renda fixa?, diz.
Se o futuro é incerto para a bolsa, não seria diferente para os multimercados, mesmo os mais conservadores. Após tantos tombos, o investidor precisa estar mais atento a como está sendo investido seu dinheiro. e a quanto pagam por isso. ?É preciso questionar o absurdo das taxas de administração. É quase obsceno cobrar 2%?, diz Veloso, da Zero Capital, que cobra 0,10% mais taxa de performance de 0,50%.