Na plateia do show do rapper americano Eminem, no Jockey Club de São Paulo, em novembro de 2010, entre os milhares de fãs presentes, um quarteto descolado de estrangeiros chamava a atenção: eram os integrantes do grupo americano Black Eyed Peas, de passagem para uma apresentação. Uma cena comum nas tradicionais capitais da cultura pop, como Nova York, Los Angeles e Londres, até bem pouco seria inimaginável em uma cidade como a capital paulista. 

E isso foi possível graças ao crescimento exponencial do número de turnês que alteraram suas rotas para transformar o Brasil em uma espécie de ponto de encontro de artistas internacionais. Em 2011, as chances de coincidirem as apresentações de grupos e artistas pop de prestígio global vão aumentar enormemente. E um dos que deverão dar um empurrãozinho para que isso aconteça é o empresário carioca Roberto Medina, 61 anos. 

 

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Novidade no palco: Leonardo Ganem mudou de lado.

Saiu da gravadora Som Livre para comandar a Geo Eventos,a nova empresa de shows da Globo e da RBS

 

Dono da Artplan, do Rio de Janeiro, foi ele quem abriu as portas do Brasil para o show business global. Seus esforços resultaram na vinda de ícones do quilate de Frank Sinatra, que lotou o estádio do Maracanã, em 1980, e no lançamento dos megaeventos musicais, com o Rock in Rio, em 1985. O festival se tornou uma franquia global e, em setembro, terá  sua quarta edição por aqui.

 

Medina, além de pioneiro, é um dos que mais faturam em um setor que movimenta US$ 34 bilhões por ano, no Brasil, de acordo com a consultoria britânica Euromonitor. Apenas com o Rock in Rio 2011, a Artplan deverá faturar R$ 140 milhões. É que do gasto total de R$ 90 milhões, R$ 55 milhões virão de patrocinadores como Itaú, Coca-Cola, Volkswagen e Sky, que vão estampar sua marca na Cidade do Rock. 

 

Como todos os 600 mil ingressos se esgotaram em apenas 72 horas, pode-se imaginar que o lucro é certo. “O próximo passo será levar o Rock in Rio para outra cidade da América Latina”, diz Rodolfo Medina, filho do empresário e atual presidente da Artplan. O publicitário carioca não está sozinho nessa onda que, em boa medida, decorre do amadurecimento da economia, além de fatores macroeconômicos globais. O aumento da renda média dos brasileiros fez com que sobrasse dinheiro para ser gasto com entretenimento. Ao mesmo tempo, o câmbio está favorável para pagar cachês em dólar.  

 

“Não podemos negar que o dólar baixo ajuda, mas o principal ponto para atingirmos esse patamar é o amadurecimento dos profissionais e das empresas que atuam nesse mercado”, diz Luiz Oscar Niemeyer, fundador da carioca Planmusic e responsável pelo primeiro show na América do Sul de lendas como o ex-beatle Paul McCartney e os Rolling Stones. “Os grandes artistas não estão vindo porque gostam de visitar o Brasil”, diz Niemeyer. “O País entrou na rota dos shows porque eles e os seus empresários já entenderam que temos aqui profissionais competentes, que respeitam as cláusulas contratuais.” 

 

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Essa postura fez com que o número de shows internacionais, em arenas e estádios brasileiros, dobrasse no ano passado em relação a 2009. Em 2010, a receita mundial das 50 maiores turnês atingiu US$ 2,93 bilhões. “O crescimento do mercado de entretenimento é maior que o da própria economia brasileira”, afirma André Mantovani, presidente da XYZ Live. 

 

O setor também despertou a atenção de grupos de comunicação como a Globo e a gaúcha RBS. No final do ano passado, eles se uniram na fundação da Geo Eventos. Sua primeira tacada foi assumir o controle das empresas de eventos HSM do Brasil e Expomoney, além de comprar o teatro do Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. 

 

Ao mesmo tempo, se associou à gravadora Som Livre. “Acredito que o mercado vá se consolidar em quatro ou cinco grandes empresas de megaeventos, enquanto outras menores vão atuar em nichos e shows regionais”, afirma Leonardo Ganem, diretor-geral da Geo Eventos, egresso da gravadora. Nada, porém, exemplifica melhor essa busca por musculatura do que a abertura de capital da Time for Fun, de São Paulo. Em abril, a companhia amealhou R$ 539 milhões no  lançamento de ações na Bovespa. 

 

Criada pelo empresário Fernando Altério, a Time for Fun se tornou a maior do setor, com receita de R$ 569 milhões no ano passado. Foi o empresário quem construiu o Credicard Hall, em São Paulo, e lançou os espetáculos da Broadway no País. A abertura de capital garantiu a Altério um fôlego adicional em um cenário no qual se ensaia um movimento de consolidação. E o empreendedor pretende sair na frente. É que 70% do valor obtido no mercado na abertura de capital será direcionado para aquisição de casas de espetáculos e de outras empresas. Ele se destaca por ter 22% de sua receita vinda de publicidade. 

 

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Quem também está reforçando seus amplificadores é a XYZ Live, resultado da fusão de três empresas do grupo ABC, comandado pelo publicitário baiano Nizan Guanaes. Já a Planmusic, fundada por Niemeyer, teve 60% de seu capital arrematado pela Traffic, especializada em marketing esportivo. Essas iniciativas vêm dando mais brilho às estrelas do setor. 

 

O pioneiro Medina, por sua vez, trata de defender o seu espaço na ribalta por meio do fortalecimento da marca Rock in Rio e da preparação dos herdeiros para comandar a Artplan. A edição 2011 do festival foi praticamente concebida pelo primogênito, Rodolfo Medina, 35 anos. Na área de marketing, quem dá as cartas é a caçula, Roberta, 33 anos. Afinal, o show tem de continuar.