03/10/2007 - 7:00
No início do filme Match Point, produção lançada em 2005 pelo cineasta Woody Allen, uma bolinha esbarra na rede, a imagem é congelada no ar e, até aquele momento, não se sabe de quem será o ponto que pode definir o jogo. No fim do filme, a cena se repete, só que com um anel que bate no muro do rio Tâmisa, em Londres, e volta para a rua selando a conclusão da trama. Corta. São Paulo, setembro de 2007. A empresa Digital21, uma unidade da produtora Cine, fechou uma parceria com a empresa Mauricio de Sousa Produções para criar um filme em 3D sobre o personagem Horácio, o carismático dinossauro vegetariano. É uma produção orçada em US$ 10 milhões, com roteiro de Hollywood e lançamento mundial previsto para 2010.
?Se tudo der certo, esse filme poderá faturar US$ 400 milhões?, diz Raul Dória, sócio da produtora. ?O filme do Horácio pode pôr o Brasil no mapa mundial do mercado de animação?, completa Mauricio de Sousa. O projeto ambicioso poderá ser, de fato, o match point de ambos.
Um negócio que tem tudo para redefinir as empresas e provar que, definitivamente, a arte imita a vida.
O filme do Horácio ainda está em fase embrionária, mas já recebeu o aval de um dos maiores entendidos em desenhos digitais dos Estados Unidos, o brasileiro Carlos Saldanha, que dirigiu o sucesso A Era do Gelo 2. ?Ele disse que o Horácio é um personagem que tem tudo para estourar no mercado internacional?, diz Rodolfo Patrocínio, o co-diretor do filme ao lado de Mauricio de Sousa. O Horácio é um personagem que remete a ecologia, união da família, humor, fábula e não é caracterizado como uma figura regional. Dinossauro é internacional. ?Fizemos mais 15 personagens para compor o filme?, diz Mauricio de Sousa. A produção, feita nos mesmos moldes de sucessos como Shrek, Carros e Monstros S.A, levará três anos para ser concluída e contará com mais de 120 profissionais envolvidos. ?Vamos chamar estrelas de Hollywood para fazer a dublagem?, diz Dória.
O empenho em tornar Horácio em sucesso mundial é explicado em números. Nos últimos anos, a indústria da animação tem conquistado mais espaço do que qualquer outro tipo de filme.
O primeiro filme de Shrek, lançado em 2001, faturou US$ 267,1 milhões só nos Estados Unidos. O segundo da série, que saiu em 2004, alcançou US$ 436,7 milhões e o terceiro ainda está contabilizando centenas de milhões. A participação dos filmes de animação no bolo do mercado americano também saltou de 7,2%, em 2002, para quase 15%, no ano passado. A fórmula do sucesso descoberta pelos estúdios é incluir um humor sutil que agrade tanto as crianças como os pais. ?O Brasil está passando por uma era de ouro no mercado de animação?, diz Marcelo de Moura, diretor da Academia de Animação e Artes Digitais. O negócio é tão promissor que gigantes das finanças estão de olho nesse nicho. No mercado, comentase que nomes de peso como José Olympio Pereira da Veiga, do banco Credit Suisse, Ronaldo Cezar Coelho, ex-banco Multiplic, e Beto Sicupira, inseparável parceiro do lendário Jorge Paulo Lemann, estão interessados em investir na produção do Horácio. Essa turma não entra em negócio algum para brincar. O Horácio já nasce com jeito de match point.