Acostumado a crescer a taxas de dois dígitos até 2014, o setor hospitalar viu reduzir-se dramaticamente seus negócios, em 2015. Se, naquele ano, os 71 integrantes da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anhap) comemoraram um aumento de 20% em suas receitas, que bateram na casa dos R$ 20,7 bilhões, no exercício passado o desempenho reduziu-se para meros 4,3%, abaixo da inflação de 10,4%. Detalhe: no faturamento de R$ 21,6 bilhões estão computadas as vendas de oito novos sócios da entidade. 

Segundo Francisco Balestrin, presidente do Conselho de Administração da Anahp, a paradeira nos negócios não poupou nem mesmo o pelotão de elite do setor,  o chamado Grupo de Controle, formado pelos  22 hospitais fundadores da Anhap, integrado por hospitais como o Sirio Libanês, Albert Einstein e Hcor, em São Paulo, Vital e São José, no Rio de  Janeiro, ou Moinhos de Vento, no Rio Grande do Sul. Ao contrário: a retração foi ainda mais acentuada nesse grupo.

“Enquanto as receitas líquidas  aumentaram apenas 1,3%, os custos cresceram 8,3%, o que reduziu drasticamente as margens operacionais”, diz Balestrin. “Foi a primeira vez que constatamos uma desaceleração dos principais indicadores desse  grupo em 11 anos.”

De acordo com Balestrin, a desaceleração é uma espécie de efeito colateral das dificuldades registradas pelas operadoras de seguro saúde, em função do aumento do desemprego. O número de beneficiários dos planos privados, que vinha mantendo um crescimento médio de 3,4¨% entre 2010 e 2014,  chegou mesmo a diminuir no ano passado – 0,9% entre janeiro e setembro. “São nada menos de 500 mil consumidores perdidos”, afirma Balestrin. 

O preocupante, no caso, é que os  planos de saúde respondem por nada menos de 90% das receitas dos hospitais. “Apenas 10% são custeadas pelos particulares.” Ao mesmo tempo, os beneficiários dos planos empresariais estariam sendo mais cuidadosos na procura por atendimento hospitalar. “Muitas pessoas acreditam que se reduzirem seus gastos com saúde, isso poderá ser levado em conta no caso de enxugamento do quadro de pessoal de seus empregadores”, diz.

A saída, enquanto não se vislumbra uma recuperação da atividade econômica, é manter os custos em observação, sobretudo em itens como materiais e equipamentos, mantendo-os abaixo da inflação. “Infelizmente, alguns dos principais custos, como energia, telecomunicações e gás, são administrados pelo governo e estão crescendo acima da inflação”, afirma Balestrin, que não espera uma melhora nos negócios em 2016. “A ironia é que sempre se pensou que o setor de saúde era imune à crise, pois afinal, doença é doença.”