14/01/2003 - 8:00
Definitivamente, não é um daqueles prédios bacanas que chamam a atenção de quem passa na rua. É uma construção dos anos 60, baixa, acinzentada e cheia de janelões de vidro sem muito glamour. Mas espere só até cruzar a portaria do número 50 da Berners Street, no Soho de Londres. É como cair num País das Maravilhas. Estamos no Sanderson, a mais cintilante pérola da rede de ?hotéis design? do americano Ian Schrager. Ele é dono de outros oito (sete nos EUA e mais um na capital inglesa), mas nenhum se compara ao Sanderson, inaugurado em 2000 ao custo de US$ 100 milhões.
A decoração é do cultuado francês Philippe Starck, papa do design internacional. E ele realmente viajou. Quem entra, leva alguns minutos para entender o que é aquilo. À direita, uma pequena multidão se espreme em volta do bar de 13 metros de cumprimento (apropriadamente chamado Long Bar) para pedir um drinque ? nenhum custa menos de 8 libras, ou R$ 48 reais. Os que não estão com tanta sede, papeiam nas curiosas cadeiras com olhos femininos desenhados nos encostos. Ou dançam freneticamente. Um DJ ataca de black music a alguns decibéis acima do tolerável. Sim, isto é um hotel. À esquerda, depois de passar pelo sofá em forma de lábios desenhado por Salvador Dalí, chega-se ao lobby. E a maluqui ce de bom gosto continua. Poltronas com braços em forma de cabeça de cisne, pufe de pedras e um painel de plasma que exibe imagens de um aquário no balcão da recepção. ?O Sanderson é um hotel de ilusão ótica. Você não sabe o que você vê. Tudo é uma surpresa?, definiu certa vez Starck.
A viagem ao mundo do mago francês e de seu financiador Schrager, no entanto, está apenas começando. Nos elevadores, paredes, teto e chão mostram holografias de estrelas e planetas brilhando num céu azul-marinho. Uma música eletrônica soa bem baixinho. Primeiro piso, e um corre-corre de modelos vestindo calcinha e sutiã aumenta o clima surrealista. Elas se preparam para o desfile que vai começar na sala de bilhar. O hall dos elevadores virou camarim. Os corredores que dão acesso aos quartos são inteiramente roxos. Estreitos e escuros, com luzes suaves embutidas no chão. Schrager diz que eles obrigam os hóspedes a falar baixo.
Das 150 suítes (todas com DVD), nenhuma é exatamente igual à outra. Embora alguns detalhes da decoração se repitam. Como a cama colocada no meio do ambiente, na diagonal. Ou os quadros de paisagens ensolaradas pregados no teto. Para saber onde cada peça deve ficar, as camareiras consultam um livro de fotografias feito pela equipe de Starck. A caixa prateada de lenços de papel, por exemplo, não pode ser colocada em nenhum outro lugar que não seja atrás dos frascos de xampu e espuma de banho. Entre o quarto e o banheiro, um vidro esverdeado faz as vezes de parede. E cortinas finas funcionam como portas de armário e repetem o ar sensual que marca o hotel inteiro ? especialmente na Agua, um espaço de relaxamento cheio de véus brancos pendentes do teto onde os hóspedes podem receber massagem e meditar.
Uma diária no Sanderson varia entre 300 e 3 mil libras
(de R$ 1,8 mil a R$ 18 mil). E um jantar a dois no restaurante,
uma filial londrina do Spoon, de Paris, bate fácil 200 libras (R$ 1,2 mil). ?Não é um hotel para todo mundo?, diz Schrager, fundador do mítico Studio 54, boate nova-iorquina dos anos 70. ?Eu não estou interessado em ônibus de excursão parando na minha porta.? Antipático? Pois foi assim que ele construiu a sua rede, avaliada em US$ 1 bilhão, e que com expansão programada para Berlim, Amsterdã e alcidades 24 horas da América do Sul.
Depois dessa lufada de ?alucinações?, é preciso recuperar o fôlego. Duas alternativas: tomar ar fresco lá fora, ou o último trago no Purple Bar, só para hóspedes. Tudo é pintado de lilás. Nos alto-falantes, Billie Holiday canta: ?Good morning, heartache…? E a viagem continua.