Com operação em mais de 170 países, a HP considera que sua diversificação geográfica na produção e descentralização logística são fatores-chave para enfrentar um cenário de guerra comercial, independentemente do contexto político.

Ao Dinheiro Entrevista, o CEO da HP Brasil, Ricardo Kamel, destaca que a companhia investiu nisso ainda antes do tarifaço de Trump de outras questões geopolíticas recentes – o que a manteve mais competitiva e resiliente no cenário global.

“Nós enxergamos, não de agora, que a descentralização da parte logística era uma oportunidade, independentemente do contexto político. Tem fatores climáticos, políticos, de saúde pública. Quanto mais diversificado você estiver, mais seguro você está. É como se você tivesse uma carteira de investimentos. Quanto mais diversificada, mais você mais pulverizado você está”, explica Kamel.

Segundo o executivo, hoje a logística é ‘muito mais desafiadora’ e também mais importante para a dinâmica das companhias.

“Há quatro ou cinco anos atrás vislumbramos que essa seria uma boa estratégia a diversificação de portfólio. Foi pouco depois do pós-pandemia. A pandemia pegou todo mundo e de surpresa. Com o uso ou com a falta de alguns serviços a empresa tomou consciência e mudou a estratégia para diversificação. Evidentemente que isso nos torna mais preparados para enfrentar os desafios”, comenta o CEO da multinacional americana.

“Quando você não tem alternativas, você fica sem opções de criá-las. Então, talvez isso nos torne muito mais resilientes, mas principalmente muito mais eficazes na resolução de problemas, porque quando você tem a fabricação centralizada, você pode ser muito eficiente, mas todo o contexto pode te tornar pouco eficaz”, completa.

Kamel explica que, por exemplo, com operações altamente diversificadas, os custos são reduzidos, dado que é indiscutivelmente mais barato enviar um produto do Brasil para Argentina do que trazê-lo da China – como é o caso de companhias que possuem produção centralizadas.

No Brasil, a companhia fabrica impressoras, incluindo modelos com foco em sustentabilidade, e computadores – desktops e notebooks-, além de tinta, toner e acessórios.

A fabricação de computadores acontece em Jundiaí (SP), enquanto a de impressoras, em São Paulo, em parceria com a Flextronics.

HP mira triplicar no Brasil

A companhia mira aumentar em três vezes o tamanho da operação no país nos próximos cinco anos. Isso, aliando a expansão às metas de sustentabilidade da empresa – que incluem zerar plástico em embalagens até o ano de 2027.

Ricardo Kamel destaca que a operação global vê no país ‘uma excelente oportunidade’ de ampliar a participação de mercado e as categorias de produtos.

“Todo o portfólio que HP trabalha ao nível global está aqui no Brasil, e nós vemos isso com bons olhos, porque exatamente com isso nos ajudará a ter a expansão de todos os programas que a HP tem ao redor dela”, comenta.

Em termos de ESG e sustentabilidade, destaca que a empresa tem focado em práticas que vão desde a concepção dos produtos, analisando os materiais utilizados, até a reinserção na cadeia produtiva.

Teclado com materiais reciclados

Kamel relata que teclados, por exemplo, têm mais da metade da sua composição vinda de materiais reciclados – incluindo até mesmo óleo de cozinha.

O executivo ainda frisa as práticas de reflorestamento e conservação da companhia – que considera relevantes no Brasil, um país ‘bilionário em termos de árvores’.

“Sem dúvida nenhuma, no Brasil nós temos o privilégio de estar na parte do planeta que somos ‘bilionários’ do ponto de vista de florestas. A nossa missão como HP é de ajudar impulsionar a conservação desse patrimônio que o Brasil tem. Se a gente pudesse numerar, eu diria que nós somos bilionários no ponto de vista de recursos naturais. Nós temos que ficar conscientes e atentos para que no final da história a gente não saia milionários na parte de recursos naturais.”

Desde 2019, a HP Brasil firmou com a WWF (World Wildlife Fund) a ambiciosa meta de restaurar e proteger florestas equivalentes a cerca de 81 mil hectares (200.000 acres), sendo parte dedicada à Mata Atlântica brasileira.

No Brasil, foram restaurados mais de 220 hectares em regiões como Alto Paraná, Serra do Mar e Mogi Guaçu/Mantiqueira. A parceria faz parte da iniciativa global HP Sustainable Forest Collaborative, com investimento previsto de US$ 11 milhões até 2030