09/04/2018 - 9:55
O dirigente nacionalista Viktor Orban obteve uma contundente vitória nas eleições legislativas na Hungria e exercerá um terceiro mandato para continuar com sua centralização de poderes e com seu confronto com a União Europeia.
O êxito do dirigente mais controvertido da Europa não deixou lugar para as dúvias. Segundo resultados quase definitivos, o partido Aliança dos Jovens Democratas (Fidesz), que ele fundou em 1988, obteve 48,8% dos votos, melhorando os resultados obtidos há quatro anos.
A vantagem foi de quase 30 pontos sobre o movimento da extrema-direita Jobbik, que abandonou a retórica xenófoba ante as aspirações nacionalistas do governo.
Com uma crescente participação dos eleitores (69,2%), o primeiro-ministro obterá 133 das 199 cadeiras no parlamento húngaro, o que significa uma grande maioria de dois terços, como aconteceu em 2010 e 2014.
A mobilização dos eleitores foi recorde e algumas zonas eleitorais permaneceram abertas até três horas depois do previsto.
“É uma vitória histórica que nos oferece a possibilidade de continuar nos defendendo e defendendo a Hungria”, declarou o vencedor de 54 anos ante uma multidão de simpatizantes reunidos às margens do Danúbio e vestidos de laranja, a cor de seu partido.
Admirado pelas direitas populistas europeias e criticado pelos que o acusam de deriva autoritária, o primeiro-ministro húngaro, quer tornar “irreversíveis” as transformações que impulsou desde seu retorno ao poder, em 2010, após um primeiro mandato de 1998 a 2002.
Admirador do presidente russo Vladimir Putin e defensor da “democracia iliberal” – como foi chamada nos últimos anos esta mistura de culto ao homem, exaltação nacionalista e limitação de certas liberdades em nome do interesse nacional -, Orban exerce há oito anos um estilo de governo com controle crescente sobre a economia, os meios de comunicação e a justiça.
Defensor autoproclamado de uma “Europa cristã”, Orban também se destacou por uma retórica xenófoba e por uma campanha contra o investidor americano George Soros, que acusou de orquestrar uma imigração maciça na Europa.
O porta-voz do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, informou que Orban será felicitado por sua “clara vitória”, enfatizando que o “dever” de todos os países de respeitar os valores do bloco.
“A Comissão deseja trabalhar com o novo governo da Hungria nos muitos desafios conjuntos que enfrentaremos nos próximos meses”, completou o porta-voz.
– Ataques –
A esquerda e a formação de ultradireita Jobbik esperavam se beneficiar do cansaço de uma parte dos eleitores ante os discursos de ódio de Orban.
A oposição fez campanha denunciando o clientelismo, a decadência dos serviços públicos e um poder aquisitivo insuficiente que levou um grande número de húngaros a emigrar.
O Jobbik, principal partido da oposição, não conseguiu melhorar seus resultados de quatro anos atrás, e teve que se contentar com 19,8% dos votos.
Seu líder, Gabor Vona, que não conseguiu se impôr em sua circunscrição, denunciou neste domingo à noite as “mentiras” e “ataques contínuos” contra seu partido, e anunciou que apresentará sua renúncia ao comando da formação.
A lista de esquerda MSZP-P obteve 12,4% dos votos, e a formação ambientalista LMP, 6,9%.
“É um maremoto para o Fidesz, que dá a Orban uma enorme legitimidade devido à alta taxa de participação, também no plano internacional”, declarou à AFP o cientista político Daniel Hegedus, que prevê um reforço “dos ataques à facção crítica da sociedade civil”.
As reformas realizadas por Orban prejudicam o Estado de direito e implicaram em um retrocesso dos valores democráticos, criticam a oposição e um grande número de observadores internacionais.
O líder húngaro também multiplicou os atritos com a União Europeia, em particular sobre a questão da imigração, apesar de seu país ser um dos principais beneficiários dos fundos europeus.
O resultado oficial definitivo será divulgado no meio da semana, quando se terá em conta os milhares de votos dos eleitores no exterior.