28/11/2020 - 10:22
A Hungria também se diferencia dos demais sócios da União Europeia (UE) no que diz respeito às vacinas anticovid-19 ao apostar publicamente na russa Sputnik V, apesar das críticas locais e de Bruxelas.
Um voo da companhia aérea russa Aeroflot pousou há alguns dias em Budapeste com doses da Sputnik V.
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“Somos o primeiro país da UE a receber estas doses”, celebrou o ministro húngaro das Relações Exteriores, Peter Szijjarto.
A Hungria se uniu dessa maneira a Belarus, Índia e Emirados Árabes Unidos na lista de países que testam esta vacina, que segundo Moscou tem eficácia de 95%, embora o país da Europa Central também se declare aberto às vacinas europeias ou americanas.
Após as primeiras doses, caso as autoridades aprovem, o país receberá maiores quantidades da vacina russa e até mesmo um fabricante húngaro poderá produzi-las no próximo ano.
Com este objetivo, especialistas de Budapeste viajarão à Rússia, explicou na sexta-feira Szijjarto, que recebeu o ministro russo da Saúde, Mihai Murasko.
A UE acumula contratos com empresas ocidentais – Moderna, AstraZeneca, Johnson & Johnson, Sanofi-GSK, Pfizer-BioNTech e CureVac -, enquanto a Hungria, que também enfrenta Bruxelas sobre o orçamento, prossegue em seu caminho solitário.
“Seria irresponsável da parte do povo húngaro renunciar a uma de suas opções”, afirmou o chanceler.
Fontes do governo rebatem as críticas, que seriam alimentadas, segundo Budapeste, pelas multinacionais farmacêuticas e “o lobby de Bruxelas”.
O país afirma que também entrou em contato com fabricantes chineses e israelenses.
Mas a Comissão Europeia já advertiu que “uma vacina só poderá obter uma autorização de comercialização depois de uma análise profunda” da Agência Europeia de Medicamentos (EMA).
Também prometeu adotar medidas contra membros da UE que utilizem um produto não aprovado. De fato, em caso de problemas, isto afetaria gravemente a confiança da população nas campanhas de vacinação.
Na Hungria também há críticas ao uso da Sputnik V.
“Talvez seja segura e eficaz, mas sobretudo é uma maneira para o o governo fazer propaganda”, disse Gabriella Lantos, médica e integrante do partido de oposição New World.
“Se tivermos problemas, os russos são nossos amigos e são eles que virão para nos salvar: esta é a mensagem enviada”, afirma.
O primeiro-ministro nacionalista Viktor Orban, de 57 anos, afirma que sua abordagem é “pragmática” na política externa, mas o pragmatismo chega a tal ponto que ele é acusado de ser o “cavalo de Troia” de Vladimir Putin dentro da UE e da Otan.
De qualquer maneira, ainda será necessário convencer os húngaros, que estão entre os mais relutantes na Europa a aceitar a vacinação. E oferecer um produto cuja idoneidade não foi certificada pode “alimentar o ceticismo e gerar riscos elevados de saúde pública”, afirma o analista Peter Kreko, diretor do centro de estudos Political Capital.
No fim, acredita, a Hungria vai optar sem dúvida por milhões de doses de vacinas encomendadas pela UE.
Neste caso, a experiência Sputnik V “ficará como um ‘blefe’ e uma mera retórica de consumo interno”, opina Kreko.