24/08/2023 - 13:57
No último final de semana, a 123 Milhas comunicou a milhares de clientes que as passagens emitidas para os meses de setembro e dezembro de 2023 estavam canceladas. De acordo com a própria empresa, mais de 40 mil clientes já haviam solicitado reembolso até terça-feira, 22.
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A crise que atingiu a empresa, que corre o risco de entrar em recuperação judicial, é apenas mais uma no mercado do turismo nos últimos meses. No mês de maio a Hurb já havia cancelado milhares de pacotes turísticos promocionais que haviam sido vendidos entre 2020 e 2021, no auge da pandemia de Covid-19. No início de agosto a CVC também anunciou um prejuízo na casa dos R$ 160 milhões no segundo trimestre de 2023, 76% maior que o mesmo período de 2022.
“Das duas uma, ou houve falta de planejamento dessas empresas ou todas agiram de má-fé para auferir ganhos rápidos em curtíssimo espaço de tempo. Esse modelo de negócio é uma espécie de venda a descoberto, isto é, quando as empresas vendem pacotes com muita antecedência da viagem, acima de um ano, o que faz com que o cliente não receba de imediato a confirmação e os bilhetes aéreos. Aéreas, por exemplo, não vendem passagens com mais de 11 meses de antecedência”, explicou o coordenador do Instituto de Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) Ahmed El Khatib.
Vendas a descoberto pode ser um risco para as empresas
Após as vendas a descoberto, 123 Milhas e Hub contaram com uma grande melhora no setor de turismo para conseguir ter um fluxo de caixa após o retorno das atividades normais depois da pandemia de Covid-19 para fechar as contas.
No entanto, houve uma espécie de desencaixe entre as expectativas das empresas e do comportamento do consumidor após o fim das políticas de isolamento social, com os altos preços das passagens e inflação global.
“As empresas, além de venderem abaixo do preço e com margens baixas, também vendem parcelado. Para suportarem esse desencaixe acabam tomando dívida, o que deixa a despesa financeira insustentável, uma vez que o mercado consumidor não está tão ativo para ajudar na escala”, explicou a especialista em gestão pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) Carol Curimbaba.
Situação da CVC difere das demais
Com mais de 50 anos de mercado, o caso da CVC é um pouco diferente. Com uma dívida de R$750 milhões, a tradicional agência de viagens vem mal das finanças há tempos, mas o prejuízo foi potencializado por conta da pandemia de Covid-19.
Com grandes dívidas contraídas, a agência terminou o ano de 2022 com R$ 309,5 milhões de resultado líquido negativo. Em maio, a empresa, que tem ações na bolsa de valores, viu o seu CEO Leonel Andrade, renunciar.
“A empresa recentemente implementou um plano para reestruturar suas dívidas e chegou a um acordo com os credores para prolongar o prazo de pagamento de suas dívidas, o que eliminou suas preocupações sobre sua situação financeira e ajudou a melhorar seu valor de mercado. No entanto, a empresa ainda enfrenta desafios financeiros”, encerrou.