A modelo Alexsandrah Gondora, que mora em Londres, gosta de poder “estar em dois lugares ao mesmo tempo” graças à sua réplica criada por Inteligência Artificial (IA). “Isso torna o trabalho mais difícil”, brinca ela.

As marcas de moda podem reservar sua sósia digital para sessões de fotos sem que ela precise viajar.

Uma solução que “economiza tempo”, disse à AFP a manequim, que está desfilando pessoalmente na London Fashion Week, que termina nesta segunda-feira (24).

Na moda, a IA permite gerar visualizações em sites de comércio eletrônico ou campanhas publicitárias sob medida a um custo menor.

Embora essa tecnologia abra novas possibilidades e dê origem a novas profissões, os críticos temem que a IA também prejudique profissionais como modelos, maquiadores e fotógrafos, e se opõem à beleza artificial e padronizada.

– “Espiral infinita de opções” –

Em um vídeo, modelos masculinos esculpidos flexionam seus músculos ao lado de mulheres glamourosas, tendo como pano de fundo piscinas de mármore e espelhos dourados.

Mas nada disso é real. Essa campanha de Natal foi gerada inteiramente com o uso de IA pelo estúdio Copy Lab para a marca sueca de roupas íntimas CDLP.

“Somos uma empresa pequena que não tem dinheiro para alugar uma casa em Beverly Hills”, diz um dos cofundadores da empresa, Christian Larson.

De acordo com Larson, a fotografia “real” tem suas limitações. “Com o filme, você só pode tirar um certo número de fotos, o sol se põe, a luz desaparece com ele e o orçamento se esgota”, disse Larson à AFP.

“Com a IA, você está em uma espiral infinita de opções”, acrescenta.

A montagem de uma campanha publicitária envolvendo uma sessão de fotos nos Alpes franceses para óculos de esqui normalmente levaria vários meses e poderia custar 30.000 euros (178 mil reais), mas pode ser feita virtualmente por apenas 500 euros (2980 reais) em poucos dias, disse Artem Kupriyanenko, citando uma campanha realizada por sua empresa de tecnologia Genera.

A Genera, com sede em Londres e Lisboa, tem um catálogo de 500 modelos gerados por IA, dos quais alega possuir os direitos autorais.

Os avatares podem ser personalizados pelos clientes. “Podemos criar qualquer formato de corpo, qualquer gênero, qualquer etnia”, diz Keiron Birch, ex-funcionário da Calvin Klein e atual diretor de arte da Genera.

A Inteligência Artificial tende a criar um tipo de rosto distinto, que difere de gerador para gerador, diz Carl-Axel Wahlstrom, cofundador do Copy Lab, um “estúdio criativo de IA” com sede em Estocolmo.

O MidJourney, por exemplo, tem uma tendência a gerar modelos com lábios mais cheios.

Essas modelos são incluídas em bancos de imagens, muitas vezes retocadas, refletindo uma estética “branca e ocidental”, explica Carl-Axel Wahlström, cofundador do Copy Lab.

Para obter resultados menos genéricos, o ex-consultor de publicidade refina as descrições que fornece aos mecanismos de inteligência artificial.

– Controle do uso da IA –

Alexsandrah Gondora lamenta que “algumas marcas usam imagens criadas a partir de bancos de dados extraídos da Internet e não precisam pagar um modelo”. Outras poderiam praticamente duplicar os melhores manequins sem o conhecimento deles.

A Fashion Workers Act (Lei dos Trabalhadores da Moda), que entrará em vigor dentro de alguns meses, visa abordar essas situações, permitindo que os modelos controlem o uso de IA na reprodução de sua imagem. Mas sua aplicação prática parece complicada.

Alexsandrah Gondora é paga pelos serviços de seu alter ego digital e tem a palavra final sobre o resultado.

O mesmo acontece quando ela ajuda a dar vida a Shudu Gram, uma top model negra gerada por IA. Esse personagem virtual, criado em 2017 e anunciado como a “primeira supermodelo digital do mundo”, é seguido por 237.000 contas no Instagram.

Alexsandrah Gondora e outras modelos emprestam suas características em diferentes ocasiões.

Shudu, por exemplo, apareceu na capa da revista Vogue australiana, “interpretada” por Alexsandrah Gondora.

Usada de forma ética, a IA não priva modelos de diversas origens de oportunidades, diz a londrina, que até afirma que a tecnologia “abriu algumas portas” para ela.