14/08/2024 - 7:00
O trabalhador padrão sempre temeu o desemprego. Com o avanço da inteligência artificial, esse receio aumentou, já que muitos associam a tecnologia com um robô super eficiente que vai “roubar” o trabalho de todos.
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Adriano Mussa, reitor e diretor de Inteligência Artificial da Saint Paul Escola de Negócios, tranquiliza. No estágio em que estamos em relação a essa tecnologia, ela não vai tirar o emprego dos trabalhadores, pelo menos não tão cedo. “A IA não automatiza cargos e funções. Ela automatiza tarefas”, afirma.
Atualmente, diz ele, que também é autor do livro “Inteligência Artificial – Mitos e Verdades: As reais oportunidades de criação de valor nos negócios e os impactos no futuro do trabalho“, um dos principais destaques da IA generativa na área do trabalho é que ela ajuda a melhorar o desempenho de bons profissionais.
“A IA pode ajudar os melhores a serem mais produtivos. Ela não melhora um profissional mal capacitado, mas melhora muito aquele já bem capacitado”
O especialista diz que as pessoas “confundem”, pois há uma forte associação de IA com robôs humanoides super eficientes, mas que não é esse nível que estamos agora.
Predições
Mussa lembra que a ideia de uma certa dominação da IA na sociedade, principalmente em relação aos empregos, não é de hoje. O Fórum Econômico Mundial (WEF) apontou lá em 2020 que até 2023 a IA teria um “super avanço” na divisão do trabalho. E que, mesmo com a super digitalização impulsionada no período de pandemia, o “avanço” foi de menos de 1%. “Não estamos vendo essa substituição do ser humano. A pandemia intensificou prognósticos ruins, mas [a IA no trabalho] não avançou do jeito que se achava”.
Outras grandes instituições, como Goldman Sachs, OCDE, PwC, McKinsey, elenca ele, fizeram estudos apontando para uma grande dominação da tecnologia e seu impacto no mercado de trabalho nos diferentes países, sempre vislumbrando uma situação desanimadora para o trabalhador. E, passados uns anos desses estudos, não temos o cenário projetado.
O professor exemplifica com o caso de um pesquisador que teria apontado, há quase uma década, que a profissão de radiologista, por exemplo, seria extinta com a IA. E o que ocorreu foi um aumento na demanda por radiologistas. “O radiologista executa umas três dezenas de tarefas. Somente em uma delas, a IA é capaz de fazer melhor. Na verdade, com a IA, podemos ter super radiologistas”.
E por que isso ocorre? Por que, a IA pode melhorar a leitura do exame, mas o diagnóstico e o tratamento personalizado, haverá médicos e medicas que querem conversar e debater com o humano.
Portanto, ressalta, são duas principais funções que a IA leva vantagem: tarefas repetitivas (cognitivas, não manual) e baixo nível de interação social.
“Portanto, se o seu trabalho exige tarefas mais criativas e alto nível de interação social, menos estará vulnerável a ser dominada pela IA”
Isso porque, reforça, a IA é uma “inteligência” preditiva, baseada em dados, em informações existentes que alimentam essa tecnologia.
Extintos ou modificados?
Ao invés de pensarmos no fim das atividades profissionais, Mussa recorre ao velho – e atual – mantra dos recursos humanos. A capacitação e requalificação é que precisam ser pensadas.
“Existem áreas que estão sendo transformadas, mas não significa [profissionais] substituídos por máquinas. Um gerente de marketing vai continuar existindo e sendo gerente de marketing. Mas as competências dele é que mudam. Os profissionais que estão sendo substituídos hoje, não são por IA, mas substituídos por outros humanos que sabem lidar ou operar com IA melhor que eles. A IA está entrando em tecnologias que já existem”
Futuro
A IA é o tipo de tecnologia chamada pelos especialistas de TPG – Tecnologia de Propósito Geral. Ou seja, abre uma gama de possibilidade tão amplas, que é difícil – até para o melhor dos futurólogos – prever todas as mudanças que ela pode causar. Como a internet. “A própria IA Generativa, a ‘menina dos olhos’ hoje na tecnologia, estamos vendo muito barulho, e, até o momento, é uma tecnologia ainda cara”.
Mas ele pondera, que esse é um cenário atual, e que é possível daqui a uns anos começar a ter um impacto mais efetivo.
“Não me preocupo tanto com empregos extintos e criados. Não temos ideia quais serão extintos ou criados. Estamos diante de uma TPG. Impossível prever. Mais importante que empregos criados e extintos, é a recapacitação. Não há setor que profissionais não precisarão passar por um forte processo de recapacitação. E a IA vai pedir isso”
Ele incentiva apontando que os dois países mais avançados em IA hoje, são China e Estados Unidos, países que investiram em uso de linguagem e matemática nas escolas. “A ‘lógica’ é matemática e linguagem, assim como a programação. Precisamos é reforçar essa base. Isso é mais importante do que tentar acertar o que vem por aí, quais as profissões do futuro. Precisa-se de repertório, pensamento estruturado. Essa é uma boa base para estar preparado para esse futuro incerto”.