21/07/2023 - 9:49
Manipular os princípios ESG para construção de narrativas marqueteáveis tornou-se prática tão comum que 87% dos investidores ouvidos pela PWC em sua Pesquisa Global 2022 suspeitam que as divulgações corporativas contenham greenwashing. No Brasil, o índice chega a 91%.
Injustificável sob qualquer ângulo, a má conduta de alguns só torna ainda mais relevante as empresas que estão colocando todos os esforços possíveis na atuação responsável do tripé ambiental, social e de governança. É neste segundo grupo que o Iberostar Hotels & Resorts está. “Nossa estratégia ESG é uma preocupação com a sustentabilidade global e uma aliada da eficiência operacional”, afirmou à DINHEIRO Ramón Girón, diretor de Operações da Iberostar no Brasil.
No grupo, isso significa decisões de negócios que ora representam investimentos como os US$ 17 milhões alocados exclusivamente em projetos de descarbonização; ora, redução de custos como a economia de US$ 7 milhões anuais na operação global resultado de um programa de redução de resíduos orgânicos.
Essas duas ações são apenas alguns exemplos do que está sendo trabalhado pela empresa familiar de origem espanhola no movimento Wave of Change.
Parte das atribuições diretas de Gloria Fluxà, vice-chairman, Chief Sustainability Officer (CS) e filha do fundador, Miguel Fluxá, a estratégia se divide em três pilares:
1) O primeiro é o da economia circular, com metas de ser uma empresa livre de resíduos até 2025 e neutra em carbono até 2030.
2) O segundo, pesca responsável onde a ambição é que 100% dos frutos do mar consumidos em qualquer hotel seja de origem responsável até 2025 — isso significa inclusive a participação dos chefs de cozinhas que precisam adaptar os menus para a disponibilidade de espécies certificadas.
3) E, finalmente, saúde costeira, que tem como objetivo melhorar os ecossistemas que cercam as propriedades da marca em um trabalho paralelo ao de fomento ao turismo sustentável e rentável.
Os investimentos da rede no Brasil
O nível de maturidade do movimento depende muito do país e das características das unidades, o que é acompanhado em reuniões globais que acontecem a cada 15 dias. Nelas, o time comandado por Girón tem apresentado resultados que colocam a unidade brasileira em posição de destaque no grupo e de liderança no turismo brasileiro.
O Complexo Iberostar Ilha do Forte, por exemplo, é o primeiro do grupo a anunciar o marco de 100% de energia renovável com origem comprovada pelo Certificado de Energia Renovável (i-REC).
Isso significa que os 21.217 MWh consumidos pelos dois hotéis do complexo que recebem 181 mil hóspedes por ano neutralizaram a emissão de CO2.
Outro programa que toca ainda mais o público é o que tornou, desde 2020, a Iberostar a primeira rede hoteleira do mundo (segundo a empresa) a eliminar o plástico descartável de todas as operações.
A água mineral é um exemplo curioso, ainda mais num resort 5 estrelas. Assim que o hóspede chega ao hotel, diversas placas indicando água potável chamam a atenção, mas só ficam compreensíveis após a chegada ao quarto. Lá, não há garrafas de água no frigobar.
Elas foram substituídas por duas garrafas de vidro retornáveis que podem ser enchidas em qualquer um dos pontos identificados.
Já nos restaurantes e bares, a mágica acontece nos bastidores. Após mapear que 60% dos resíduos gerados no hotel são de alimentos, o grupo trouxe para o Brasil uma tecnologia que usa inteligência artificial para ajudar na gestão desse material que ia para o lixo.
A tecnologia Winnow é uma balança que aprende qual resíduo está sendo jogado dentro da lixeira. Ele então o classifica, pesa, faz a equivalência das emissões de CO2 e gera relatórios precisos.
Com a implementação desse sistema, o grupo Iberostar deixa de jogar fora 5 milhões de refeições por ano, o que equivale a mais de 1,6 mil toneladas de alimentos, cerca de 8 mil toneladas de CO2 não emitidas anualmente e uma economia potencial superior a US$ 7 milhões.
Depois de classificados, o material vai para uma composteira, vira adubo que volta para os viveiros que produzem plantas nativas de cada bioma usadas para preservar a região onde a unidade está. Assim, o ciclo se fecha e o ESG ganha sentido até nas planilhas do CFO.