Entre as marcas que representam o poderio americano mundo afora, a IBM está no mesmo grupo de nomes como McDonald?s, General Motors e Coca-Cola. Nos próximos dois anos, entretanto, a companhia entrará em choque com o seu país de origem. A empresa planeja fechar 4,7 mil postos bem pagos e de nível universitário que fazem programas de computador nos Estados Unidos e contrata novos profissionais nas subsidiárias do Brasil, Índia e China para o mesmo serviço. Com essa medida, pretende economizar US$ 168 milhões ao ano a partir de 2006. A notícia causou alvoroço entre as autoridades e entidades trabalhistas americanas ao mesmo tempo em que criou expectativa na unidade brasileira, dirigida por por Rogério Oliveira (foto). A empresa por aqui não comenta o assunto, mas fontes do mercado acreditam que ela deva contratar em 2004 mais do que no ano passado, quando incluiu 700 profissionais na sua folha de pagamento. As vagas serão abertas na capital paulista, no Rio de Janeiro e no Centro de Tecnologia de Hortolândia, no interior de São Paulo.

 

Nos EUA, a operação está cercada de cuidados. Em ano eleitoral, o presidente George Bush pressiona indireta-
mente as companhias de tecnologia a estancarem o processo conhecido como outsourcing off-shore, que é a simples troca de empregos em território americano por países onde a mão-de-obra é qualificada e mais barata. Um engenheiro de software custa nos Estados Unidos quatro vezes mais do que no Brasil ou na Índia. A pressão governamental sobre as companhias como a IBM chegou ao extremo dos executivos riscarem a palavra off-shore do vocabulário. ?Essa já era uma reação esperada, já que esse movimento está vindo com muita força?, diz Marco Stefanini, presidente da Stefanini Consultoria, companhia brasileira que presta serviços de tecnologia para o exterior.

A decisão da IBM foi descoberta pelo jornal The Wall Street Journal, que teve acesso a documentos internos da empresa. Acuada, a IBM corrigiu mas não desmentiu a notícia. Limitou-se a dizer que o total de postos a serem transferidos para outros países é 3 mil, e não 4,7 mil. Os novos profissionais irão trabalhar em centros de alto nível que em nada têm em comum com os escritórios de vendas que a IBM espalhou pelo mundo 70 anos atrás. A fábrica de software de Hortolândia, com 250 profissionais, suporta diversos sistemas fundamentais dentro da IBM. Este ano, atingiu o mesmo padrão de qualidade de suas irmãs asiáticas, o que a coloca como pólo privilegiado para exportação de serviços. Para desespero dos americanos, a conquista deve ser acompanhada de uma redução de 25% a 30% nos custos de produção.

A migração de vagas já propiciou cenas insólitas. Profissionais de tecnologia americanos e europeus, onde também está ocorrendo cortes, passaram a procurar empregos em agências de recrutamento asiáticas. É o inverso do que ocorreu nos últimos dez anos, quando levas de indianos bem treinados povoaram as empresas californianas. No Brasil, um ou outro caso isolado já aconteceu, mas é muito difícil acreditar que isso venha a se constituir numa forte tendência. ?Com a diferença cambial, ninguém vai pagar aqui o mesmo salário que eles recebiam lá fora?, diz Marina Vergili, vice-presidente da Fesa, uma agência de recrutamento que tem empresas como clientes. Na última semana, Marina recebeu o primeiro currículo individual de um profissional de software americano. ?Não acredito que vamos importar mão-de-obra para esse setor?, diz ela. ?O País está muito bem servido de gente de alto nível disposta a fazer essa mesma tarefa.? Do lado de baixo do Equador, a decisão da IBM é uma ótima notícia .