03/02/2025 - 18:36
O Ibovespa ensaiou leve alta, a 126.473,23 pontos na máxima do dia, mas não conseguiu se descolar, do meio para o fim da tarde, da percepção de risco global em torno da confirmação de que os Estados Unidos utilizarão da arma tarifária para pressionar parceiros como Canadá e México a se curvar a demandas americanas, como o controle da entrada de fentanil e de fluxos migratórios ao vizinho. A possibilidade de a estratégia se estender à União Europeia e o súbito fechamento proposto para a agência de auxílio internacional dos EUA com décadas de existência, a Usaid, em estratégia de cortes de gastos recomendada por Elon Musk, marcam aceleração da retórica e de opções unilaterais que reverberam pelo mundo.
Assim, o dia foi de aversão a risco, pressionando abaixo os índices de ações em Nova York e nas principais praças da Europa. No começo da tarde, uma melhora transitória chegou a ser notada na B3, no momento em que Estados Unidos e México confirmaram trégua de um mês na imposição de tarifas mútuas. Na semana passada, o governo Trump tinha anunciado a imposição de 25% em tarifas sobre as importações de México e Canadá, e de 10% sobre a China – os três principais parceiros comerciais dos Estados Unidos. Assim, o cenário prospectivo é de guerra comercial.
Em entrevista hoje a repórteres na Casa Branca, Trump disse que teve uma “boa” conversa com o premiê canadense, Justin Trudeau, mais cedo, e que os dois voltariam a se falar às 17h (horário de Brasília). O republicano não quis dizer, contudo, se pretende acertar uma pausa nos planos tarifários, como fez com o México nesta segunda-feira. Trump alega que o Canadá “tira vantagem” dos EUA e disse ser “muito difícil” fazer negócios no país vizinho. “Não precisamos que o Canadá faça nossos carros, não precisamos que nos deem a madeira deles, não precisamos deles para produtos agrícolas”, ressaltou. “Eles não compram nossos produtos agrícolas”, acrescentou.
Na B3, o Ibovespa tocou mínima do dia a 125.566,40 pontos, saindo de abertura aos 126.134,94 pontos. No fechamento, mostrava perda de 0,13%, aos 125.970,46 pontos, com giro a R$ 19,5 bilhões neste início de semana e de mês. “A sessão foi muito volátil também para ativos como o câmbio e a curva de juros”, diz Rodrigo Alvarenga, sócio da One Investimentos, destacando não apenas o efeito das incertezas sobre os negócios, mas também para os DI e, em especial, o dólar que oscilou em ampla faixa, de R$ 5,81 a R$ 5,90 durante a sessão, e fechou a R$ 5,8160, em baixa de 0,35% nesta segunda-feira.
O petróleo também oscilou em Londres e Nova York, mas fechou o dia em alta. Em Nova York, as perdas dos principais índices de ações no fechamento ficaram entre 0,28% (Dow Jones) e 1,20% (Nasdaq). “Trump começa a sinalizar aquilo que, até certo ponto, estava adiando”, diz Alison Correia, analista e sócio-fundador da Dom Investimentos. “Os mercados já abriram muito estressados por conta disso: asiáticos, europeus e americanos. Aqui no Brasil não foi diferente”, acrescenta. “É uma guerra comercial o que a gente vê nesse momento.”
“Trump vinha se mostrando mais aberto ao diálogo, e isso aparece também no desdobramento de hoje sobre o México, país que se comprometeu com o envio de mais tropas para a fronteira com os Estados Unidos. Mas a possibilidade de uma guerra comercial ferrenha ainda não foi descartada pelos mercados”, diz William Queiroz, analista da Blue3 Investimentos.
Ao comentar o cenário, a presidente do Fed de Boston, Susan Collins, disse hoje entender que não há urgência para fazer ajustes na política monetária dos EUA, diante das incertezas relativas ao impacto das tarifas na inflação.
Na B3, o dia foi de perdas para as ações de maior peso e liquidez, com Vale oscilando levemente para o positivo no fechamento (ON +0,07%). Petrobras (ON -1,22%, PN -0,50%) e as ações de grandes bancos, com destaque para a principal delas, Itaú (PN -0,92%), não acompanharam a relativa melhora de Vale. Na ponta vendedora do Ibovespa, Azul (-5,65%), Braskem (-5,07%) e Marfrig (-4,97%). No lado oposto, Automob (+3,23%), Carrefour (+2,75%) e Hypera (+2,57%).