O Ibovespa operou até o fim da tarde colado à estabilidade, com leves variações em ambos os sentidos, enquanto aguardava a decisão de política monetária do Federal Reserve, às 16h, e a entrevista coletiva do presidente do BC dos EUA, Jerome Powell, às 16h30. Assim como em Nova York, o sinal na B3 se firmou no negativo, durante a após o anúncio da decisão e os comentários de Powell. No fechamento, mostrava perda de 0,50%, aos 123.432,12 pontos, entre mínima de 123.278,43 e máxima de 124.766,95 pontos na sessão, em que saiu de abertura aos 124.055,50. Fraco, o giro foi de R$ 15,0 bilhões. Na semana, o Ibovespa sobe 0,80% e, no mês, ganha 2,62%. Em NY, as perdas foram hoje de 0,31% (Dow Jones) a 0,51% (Nasdaq).

“O mercado operou flat, sem nenhum setor ou ação se destacando em um sentido ou outro de forma expressiva, até a decisão do Fed, da qual se esperava mesmo manutenção dos juros americanos – e com expectativas um pouco mais acomodadas, daqui para a frente, com relação à taxa de juros dos Estados Unidos. Não se esperava que a reunião de hoje trouxesse algum guidance com relação aos juros, mas sim a visão do Fed quanto ao início de governo Trump e eventuais efeitos sobre a inflação”, diz Pedro Moreira, sócio da One Investimentos. Ele acrescenta que as bolsas americanas vêm de um ‘sell-off’ na esteira do efeito da aparição da DeepSeek sobre as maiores empresas de tecnologia dos Estados Unidos, que chegaram a perder US$ 1 trilhão em valor de mercado em apenas um dia.

Na sessão, o grau de ajuste do Ibovespa foi mitigado, parcialmente, pelo avanço de Vale ON, em alta contudo muito moderada, a 0,28%, no fechamento, negativo para Petrobras (ON -1,00%, PN -0,62%) e também para os grandes bancos – cujo desempenho piorou após a decisão do Fed, com variações entre -0,24% (Itaú PN) e -1,03% (Bradesco PN) no fim do dia. Na ponta ganhadora do Ibovespa, destaque para Petz (+2,90%), RD Saúde (+2,14%) e Rumo (+1,88%). No lado oposto, Localiza (-3,79%), Automob (-3,23%) e Braskem (-2,67%).

Na primeira reunião de 2025 do conselho de administração da Petrobras, realizada hoje, foi feita uma apresentação técnica que mostrou que os preços estavam alinhados à estratégia comercial da companhia em 2024, segundo apurou o Broadcast. Para o BofA, um reajuste dos combustíveis traria alívio às preocupações sobre governança corporativa e o impacto negativo no fluxo de caixa livre na empresa gerado pela defasagem em relação ao preço de paridade de importação (PPI), reporta a jornalista Amélia Alves, do Broadcast.

No quadro mais amplo, conforme o esperado, o Fed decidiu manter a taxa de juros de referência dos EUA na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano por unanimidade. Após a deliberação, dados do CME Group mostravam que as apostas de corte de juros para 2025 nos EUA estão divididas entre 25 pontos-base, com 30,7%, e 50 pontos-base, com 32,2% de chance. “O Fed deixou claro que pode até optar por alta de juros caso necessário, com Trump no poder, uma economia aquecida, inflação alta e desemprego baixo”, diz Lucas Almeida, sócio da AVG Capital. “O cenário é bem incerto e o Fed deve continuar com posição cautelosa em relação aos juros”, acrescenta.

Aqui, na noite de hoje, o Copom delibera sobre a Selic. “A alta da taxa de juros do Brasil para 13,25% ao ano já está precificada: a grande questão é saber o que o Banco Central sinalizará no comunicado. E precisa demonstrar alinhamento, reafirmando compromisso com o controle da inflação”, diz Almeida.

Nos Estados Unidos, na coletiva de imprensa desta tarde, Powell fez observações que contribuíram para que tanto os índices de ações em Nova York como o Ibovespa moderassem, ainda que pontualmente, o viés negativo que tinha se firmado a partir do comunicado sobre a decisão. Algumas nuances na fala de Powell contribuíram para alguma melhora de sentimento dos investidores, em especial a declaração de que a política monetária americana está “bem posicionada” e que leituras recentes sobre a inflação mostram alinhamento com a meta oficial, de 2%.

Também nesta tarde, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não quis responder a perguntas de jornalistas sobre a decisão de hoje do Federal Reserve, durante cerimônia de assinatura de lei que libera a deportação de imigrantes por crimes não violentos. “Não é apropriado falar sobre a decisão do Fed agora, nesta ocasião”, respondeu o republicano a um dos repórteres presentes na cerimônia. Quase ao mesmo tempo, quando também indagado na coletiva do Fed, Powell evitou comentar falas de Trump sobre a necessidade de reduzir os juros no país.

“Não tenho qualquer comentário, nem é apropriado fazê-lo”, disse Powell, observando também que não teve nenhum tipo de contato com Trump.