O Ibovespa chegou a acentuar perdas no começo da tarde, tocando mínima a 108.612,02 pontos (-1,43%), menor nível intradia desde 28 de novembro, mas conseguiu brecar a piora mesmo com o desempenho negativo de Petrobras (ON -1,51%, PN -1,13%), dos grandes bancos (à exceção de Unit Santander +0,22%) e, em especial, de Vale (-3,56%), pressionada desde cedo pela decepção dos investidores com os dados de produção em novembro. Ao fim, a referência da B3 mostrava recuo de 1,02%, aos 109.068,55 pontos, mais do que neutralizando a alta de 0,72% de ontem. Assim como no intradia, foi o menor nível de fechamento desde o último dia 28.

O giro se manteve moderado, como visto nas últimas sessões – hoje, a R$ 24,0 bilhões no encerramento. Na semana, o Ibovespa cede 2,55% e, no mês, 3,04%, o que limita o ganho do ano a 4,05%. Na máxima da sessão, o índice foi hoje aos 110.246,79 pontos, não muito distante do nível da abertura, a 110.188,05 pontos.

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Com o fechamento de hoje, o Ibovespa estende a seis sessões série em que tem alternado perdas e ganhos, sem quebras. Mas, considerando o início deste intervalo no fechamento de novembro, saiu de nível próximo a 112,5 mil pontos, no dia 30, para o atual, aos 109,2 mil pontos, cedendo cerca de 3,4 mil pontos no período.

Entre as idas e vindas do índice, as perdas acima dos ganhos refletem ainda a cautela quanto à gestão do fiscal sob o futuro governo; as dúvidas quanto ao ritmo de crescimento da China, grande consumidora de commodities às voltas com o manejo da política de covid-zero; e o prosseguimento da correção dos custos de crédito, com a elevação das taxas de juros de referência em andamento nas maiores economias, como Estados Unidos e zona do euro.

Na semana que vem, Federal Reserve e Banco Central Europeu voltam a deliberar sobre juros e, nesta noite, o Copom toma sua última decisão de 2022. A expectativa é por manutenção da Selic a 13,75% ao ano, mas haverá, como sempre, grande atenção para os termos do comunicado, especialmente com relação à conjuntura externa e aos efeitos da condução do fiscal sobre a perspectiva da política monetária no Brasil, a partir do próximo ano.

Hoje, a correção em Vale (ON -3,56%) em resposta aos dados de produção da empresa em novembro, em dia de decepção também com a leitura sobre a balança comercial da China, ganhou maior efeito no início da tarde com a mudança de sinal em Petrobras, que mais cedo resistia à direção negativa do petróleo, com o barril do Brent negociado abaixo do limiar de US$ 78 nesta quarta-feira.

Ontem, “o mercado tinha ficado em cima da PEC (da Transição), e as commodities vinham de patamares melhores”, aponta Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, destacando, do fechamento da terça-feira, o impulso proporcionado na reta final do dia pela aprovação, em votação simbólica na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, da PEC com “menor valor”, o que a princípio animou os investidores em Bolsa.

Hoje, o mercado voltou a se mostrar “apreensivo” com relação à PEC, “no sentido de aumentar um pouco mais as emendas”, trazendo “volatilidade”, diz Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos. “O momento é de aguardo”, acrescenta.

“Ainda há alta volatilidade, por conta também do Copom, mesmo com expectativa pela manutenção da Selic. A PEC da Transição ainda traz um pouco de instabilidade, com gastos contratados para o financiamento social, acima do teto. E eventuais atrasos na tramitação podem elevar a tensão para o próximo governo, trazendo mais estresse ao mercado”, diz Gustavo Neves, especialista em renda variável da Blue3, destacando, no front corporativo, o efeito da revisão do ‘guidance’ para Vale, cuja ação tem peso importante na composição do Ibovespa.

A mineradora apresentou ‘guidance’ de produção fraco e altos pagamentos dos compromissos com Mariana e Brumadinho (US$ 3,9 bilhões, contra US$ 2,0 bilhões projetado pelo banco) na atualização de projeções divulgada hoje, avalia o Citi. Nesse cenário, o banco estima que o Ebitda de consenso pode cair aproximadamente 5%, com base no ‘guidance’, e o FCF (fluxo de caixa livre, na sigla em inglês) pode cair de 20% a 40%, dependendo das premissas de preço do minério de ferro.

Mais cedo nesta quarta-feira, o desempenho negativo de Vale destoava dos ganhos moderados, mas bem distribuídos em geral entre as ações e os setores de maior liquidez na B3. Ainda no começo de tarde, contudo, com as perdas em Vale se acentuando acima de 4%, as ações de siderurgia (CSN ON -1,90%) vieram junto para o negativo, com as de Petrobras também passando à mesma direção, com o prosseguimento da correção dos preços do petróleo.

Depois, no meio da tarde, “os juros (futuros) aceleraram a queda”, o que permitiu que as ações de varejistas e do setor de energia (Eletrobras ON +1,55%, PNB +1,14%, Cemig PN +1,43%, Copel PNB +2,42%) contribuíssem para a melhora vista no índice Bovespa, observa Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença Corretora. Assim, o índice de consumo (ICON), mais exposto à economia doméstica, fechou o dia no positivo, em leve alta de 0,18%, enquanto o índice de materiais básicos (IMAT), que concentra ações de commodities, cedeu 1,36% na sessão.

Na ponta do Ibovespa, destaque para CVC (+3,46%) e Azul (+3,86%), em dia de queda de 1,21% no dólar à vista, a R$ 5,2058 no fechamento. Destaque também para construtoras como Eztec (+2,11%) e para as produtoras de proteína animal BRF (+4,14%) e JBS (+3,27%). Entre as varejistas, Renner (+1,99%). No lado oposto, Magazine Luiza (-5,77%), PetroRio (-5,69%), Petz (-4,07%) e Vale (-3,56%).