SÃO PAULO (Reuters) – O Ibovespa fechou em queda nesta quarta-feira, em sessão mais curta na volta do Carnaval, refletindo preocupações com os próximos movimentos de política monetária do banco central norte-americano.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 1,85%, a 107.152,05 pontos, em dia ainda marcado por ajustes ao movimento de ADRs (recibos de ações negociados nos EUA) brasileiros na véspera.

O volume financeiro somou 17 bilhões de reais.

Nos Estados Unidos, a ata da última decisão de juros do Federal Reserve (Fed) mostrou que “quase todas” as autoridades do banco central norte-americano apoiaram reduzir o ritmo do aperto monetário, para 0,25 ponto percentual.

Mas também concordaram que os riscos de uma inflação elevada continuam sendo um “fator-chave” que molda a política monetária e justifica incrementos contínuos na taxa de referência até que as pressões de preços sejam controladas.

Na visão de Thiago Calestine, economista e sócio da DOM Investimentos, o documento mostrou a percepção dos membros do Fed de que a inflação está “um pouco mais teimosa” do que eles achavam que estaria, o que esfria expectativas de corte nos juros em 2023.

Ele afirmou que, no mercado, havia apostas de possíveis cortes do juro norte-americano, atualmente na faixa entre 4,5% e 4,75%, no segundo semestre, mas que a ata sugeriu ser bem provável que não tenha nenhuma redução até o final do ano.

Wall Street, que na véspera teve o pior desempenho em um ano, abandonou o sinal positivo que vinha registrando desde a abertura e o S&P 500 fechou em baixa de 0,16%.

Para Leonardo Santana, analista da casa de análise Top Gain, a ata corroborou a visão de que o Fed pode promover um aumento mais forte da taxa de juro, talvez 0,5 ponto nas próximas reuniões.

“O mercado está muito preocupado realmente…quanto o Fed vai ter que aumentar a taxa de juros para poder controlar a inflação”, afirmou, lembrando que na sexta-feira será divulgada a nova leitura do índice de preços (PCE) dos EUA, bastante monitorado pelo Fed.

DESTAQUES

– PETROBRAS PN recuou 2,57%, a 25,76 reais, em dia de queda do petróleo no exterior. No final da sexta-feira, a companhia divulgou que o presidente da estatal, Jean Paul Prates, indicou Sergio Caetano Leite para a diretoria financeira e de relações com investidores da petrolífera. Analistas do Citi afirmaram ainda ver riscos em torno da tese de investimento da Petrobras devido às possíveis mudanças na estratégia de longo prazo da empresa e à incerteza sobre sua futura alocação de capital. Nesta quarta-feira, a companhia também informou que o duto OSBAT, que transporta petróleo do terminal de São Sebastião (SP) até Cubatão (SP), segue inoperante para realização de inspeções após fortes chuvas que atingiram o litoral norte do Estado no Carnaval.

– VALE ON cedeu 0,76%, a 87,36 reais, tendo como pano de fundo variações modestas dos contratos futuros do minério de ferro na China, após um rali prolongado estimulado pelo otimismo em torno de perspectivas de demanda chinesa. O contrato de minério de ferro mais negociado na bolsa de Dalian encerrou o pregão diurno com queda de 0,4%, a 909,50 iuanes (131,90 dólares) a tonelada, após cinco sessões consecutivas de alta.

– ITAÚ UNIBANCO PN caiu 1,86%, a 26,38 reais, e BRADESCO PN perdeu 1%, a 13,8 reais.

– AZUL PN encerrou com declínio de 5,65%, a 7,35 reais, renovando mínima histórica intradia a 7,25 reais. Além do viés negativo generalizado, investidores também estão atentos aos esforços de refinanciamento da companhia. Neste mês, as agências de risco S&P, Moody’s e Fitch cortaram a nota da empresa. No setor aéreo, GOL PN caiu 4,22%.

– MINERVA ON cedeu 7,92%, a 11,40 reais, enquanto MARFRIG ON diminuiu 4,71% e JBS ON perdeu 4,33%. No radar está o anúncio do Ministério da Agricultura na segunda-feira de que há um caso suspeito de mal da vaca louca no país, sem detalhar em qual local o animal supostamente infectado se encontra. A pasta disse que todas as medidas estão sendo tomadas e que o caso suspeito foi submetido a exame laboratorial. No setor, BRF ON recuava 6,71%, a 6,4 reais, após três dias de alta, período em que subiu mais de 6%. O Barclays também cortou o preço-alvo dos ADRs da companhia.

– TIM ON avançou 1,89%, a 12,43 reais, ampliando a alta desde a semana passada, entre outros fatores, pela recepção positiva a projeções da empresa para o período de 2023 a 2025. Na semana passada, o papel valorizou-se 8,1%.

– RAÍZEN PN subiu 1,65%, a 3,08 reais, entre as poucas altas da sessão, após perder 5,6% na semana passada, quando renovou mínimas históricas, na esteira do resultado trimestral.

(Por Paula Arend Laier)

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