31/07/2025 - 18:06
Fechamento Bolsa: Ibovespa tem em julho pior desempenho do ano, com recuo de 4,17% no mês –
Em baixa de 4,17% no mês, o Ibovespa colheu sua maior perda desde dezembro (-4,28%), interrompendo sequência positiva entre março e junho, quando o impulso assegurado pelo fluxo estrangeiro à B3 levou o índice a renovar máxima histórica, aos 141 mil pontos, já em 4 de julho. De lá para cá, o fluxo externo passou a ser, predominantemente, de saída da Bolsa, tendência que se mostrou mais nítida depois de 9 de julho, sob a ameaça do governo Trump de impor a tarifa de 50% às importações desde o Brasil. Na quarta-feira, veio o relativo alívio do prazo estendido a 6 de agosto para a efetivação do tarifaço, também em parte mitigado pela ampla lista de exceções que isentou aviões, minério, alimentos e petróleo, mas não favoreceu, por exemplo, café e carnes.
Dessa forma, após a percepção inicial de que o pior cenário foi evitado, o ajuste de fim de mês ainda foi negativo, com o índice nesta quinta-feira, 31, em baixa de 0,69%, aos 133.071,05 pontos – pouco acima dos 132 mil, nível de dois dos quatro últimos fechamentos e que não era visto, até então, desde 23 de abril.
Na sessão desta quinta, oscilou dos 132.096,29 aos 133.987,26 pontos, na máxima correspondente ao nível de abertura. Após a recuperação vista na quarta, o giro seguiu nesta quinta-feira a R$ 21,3 bilhões. Na semana, o Ibovespa acumula perda de 0,34% – no ano, sobe 10,63%.
Para Felipe Tavares, economista-chefe da BGC Liquidez, um conjunto de fatores pesam na Bolsa no momento, o que justifica o ajuste negativo neste fim de mês, após um primeiro semestre que foi o melhor para o Ibovespa desde 2016. Os investidores estrangeiros movimentaram R$ 1,4 trilhão em ações no mercado à vista da B3 no primeiro semestre, segundo levantamento da plataforma Datawise+, desenvolvida pela B3 em parceria com a Neoway. O volume representou 62% do total negociado no período, reporta a jornalista Isabela Mendes, do Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
Segundo Tavares, na sessão, o mercado ainda digeriu a aplicação da Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e o efeito da desidratação das tarifas dos EUA ao Brasil. Além disso, saíram dados sobre a economia brasileira, como o resultado primário do setor público, com déficit pior do que o esperado pelo mercado, acrescenta. “O País tem quadro fiscal difícil há muitos anos. Estamos na expectativa do fiscal ser resolvido, e o fiscal é um dos principais, se não o principal fator de pressão nas expectativas de inflação.”
Outro ponto mencionado por Tavares é a taxa de desemprego – de 5,8% no trimestre finalizado em junho, no piso das projeções -, que reforça percepção de aquecimento do mercado de trabalho. A leitura sobre o emprego tem mostrado pouca sensibilidade ao cenário ainda restritivo da política monetária. “Este, inclusive, foi um dos pontos do comunicado de ontem do Copom, em que se fala da preocupação com o mercado de trabalho, que vem sendo um dos principais drivers de inflação sob a ótica da demanda”, explica o economista.
“Nas últimas semanas, houve escalada relevante na percepção de risco do Brasil, devido ao conflito diplomático com os Estados Unidos, o que contribui para toda essa volatilidade. Ainda há muita incerteza mesmo depois da lista de isenções. Não houve correção expressiva desde o topo do Ibovespa no começo do mês, mas o cenário permanece bem nebuloso à medida que se ingressa e se aprofunda na atual temporada de resultados trimestrais das empresas”, diz Felipe Moura, gestor de portfólio e sócio da Finacap Investimentos, que prevê postura ainda defensiva para a maior parte dos investidores, no horizonte de curto prazo.
Para Willian Queiroz, sócio e advisor na Blue3 Investimentos, o viés de baixa do Ibovespa nesta última sessão do mês esteve correlacionado, em boa parte, ao ajuste negativo do petróleo e do minério, apesar de alguns desdobramentos favoráveis ao Brasil, da quarta para esta quinta, em especial a relativa “desidratação” do tarifaço americano. “Mais de 700 produtos foram retirados da lista do tarifaço, com adiamento de alguns dias, também, para a imposição das sobretaxas. Há visão de que existe espaço para negociação adicional”, acrescenta.
Na B3, contudo, não apenas Vale (ON -0,71%) e Petrobras (ON -0,56%, PN -0,40%) encerraram o dia no campo negativo, como também a maioria dos bancos (Bradesco PN -0,83%, BB ON -1,01%, Santander Unit -0,64%), à exceção de Itaú (PN +0,26%) entre as maiores instituições financeiras. Alguns nomes do setor metálico, como CSN (ON +1,01%) e Usiminas (PNA +5,80%), conseguiram se descolar do sinal negativo no fechamento. Na ponta ganhadora do Ibovespa, além de Usiminas, destaque também para Embraer (+5,78%) e TIM (+3,50%). No lado oposto, Marfrig (-10,20%), BRF (-5,65%), Ambev (-5,25%) e Minerva (-4,45%).
“Mesmo com a isenção de mais de 700 produtos, a tarifa começa a vigorar dia 6 para demais produtos não isentos. Essas taxações e a tensão entre EUA e Brasil, em especial após a aplicação da Lei Magnitsky contra Moraes, trazem um cenário de insegurança jurídica para o Brasil, fazendo preço no índice hoje. E tivemos também uma pesquisa que mostra recuperação da popularidade do presidente Lula em pesquisa Atlas, o que não agrada o mercado”, diz Josias Bento, sócio da GT Capital.
Em dólar, o Ibovespa havia encerrado o mês de junho a 25.552,45 e, agora, no fechamento de julho, recua para 23.759,29, com a apreciação de 3% para o dólar frente ao real no mês e o recuo nominal de 4% para o índice da B3. Dessa forma, converge também para níveis de abril (23.793,63), em patamar um pouco abaixo do visto no fechamento de maio (23.957,79) quando o Ibovespa, pela primeira vez, sustentou a marca de 140 mil pontos, então na máxima histórica no dia 20.