O Ibovespa opera em queda nesta sexta-feira, 18, refletindo a avaliação de analistas sobre quanto a operação da Polícia Federal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro pode levar a uma postura mais agressiva por parte do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em relação às tarifas contra o Brasil. O dia de agenda macroeconômica doméstica esvaziada também deixava o índice mais exposto ao noticiário local.

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Por volta das 16h20, o Ibovespa opera em queda de 1,59% a 133.407,58 pontos.

“Na carta de anúncio de taxação de 50% do Brasil, um dos pontos que o Trump coloca ali é justamente o que ele chamou de ‘perseguição’ contra o ex-presidente”, notou a analista de renda variável Bruna Sene, da Rico.

“A notícia desse mandado contra o ex-presidente em meio a esse cenário onde a gente tem essa tensão comercial com os EUA e esse viés mais político entrando no jogo, o aumento dessa tensão pode justamente trazer mais cautela para os investidores.”

Já o dólar à vista opera em alta nesta sexta-feira, conforme os investidores demonstravam aversão ao risco diante de incertezas em torno da ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifa de 50% ao Brasil, enquanto uma agenda vazia apoiava os movimentos contidos nas negociações.

Por volta das 13h25, o dólar à vista subia 0,38%, a R$ 5,572 na venda.

Guerra comercial

As tensões comerciais entre Brasil e EUA continuam como principal ponto de atenção no mercado nacional, uma vez que os investidores monitoram a possibilidade de negociações antes da entrada em vigor da taxa tarifária anunciada por Trump em 1º de agosto.

Na última atualização do governo brasileiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou na véspera, em pronunciamento à nação, que a carta de Trump anunciando a tarifa é uma “chantagem inaceitável” e defendeu a soberania do Brasil na atuação ante empresas digitais, criticada pelo norte-americano.

“O Brasil sempre esteve aberto ao diálogo. Fizemos mais de 10 reuniões com o governo dos Estados Unidos, e encaminhamos, em 16 de maio, uma proposta de negociação. Esperávamos uma resposta, e o que veio foi uma chantagem inaceitável”, disse Lula

Do lado dos EUA, Trump, voltou a vincular na quinta-feira a adoção de tarifa sobre os produtos do Brasil ao julgamento por tentativa de golpe de Estado do ex-presidente Jair Bolsonaro, conforme carta enviada pelo norte-americano ao ex-mandatário brasileiro.

Na carta, cuja tradução em português foi publicada por Bolsonaro na rede social X, Trump fala de suposto “tratamento terrível” recebido pelo ex-presidente “pelas mãos de um sistema injusto voltado contra você”.

Nesta sexta, Bolsonaro foi alvo de uma operação da Polícia Federal determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e terá de usar tornozeleira eletrônica, além de cumprir outras medidas restritivas, informou a assessoria do ex-mandatário, em uma escalada dos problemas enfrentados por Bolsonaro com a Justiça.

Diante das incertezas sobre as tensões entre Brasil e EUA, os investidores optavam pela cautela, o que significava um posicionamento contido contra a divisa brasileira.

“Trump ontem voltou a vincular a aplicação de impostos pesados sobre produtos brasileiros aos processos judiciais que enfrenta Bolsonaro e por isso traz um pouco mais de receios e dúvidas entre investidores sobre possíveis soluções”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

“Ao vincular as tarifas a temas políticos e judiciários do Brasil, fica um pouco mais difícil tentar entender o que o Brasil pode oferecer ou negociar com os EUA para tentar resolver essas discrepâncias”, completou.

Com isso, os movimentos do real nesta sessão caminhavam na contramão de seus pares emergentes, como o peso mexicano e o rand sul-africano, que avançavam sobre o dólar.

Uma agenda vazia no Brasil, sem a divulgação de indicadores econômicos, também apoiava a cautela.

No cenário externo, o foco recente dos mercados globais tem sido a análise do impacto inicial das tarifas de Trump sobre a atividade econômica nos EUA, com dados recentes demonstrando uma certa resiliência da maior economia do mundo.

Na quinta-feira, dados mais fortes do que o esperado para vendas no varejo e uma queda inesperada nos pedidos iniciais de auxílio-desemprego fomentaram a percepção de força da economia dos EUA.

Os resultados afetavam as apostas de operadores sobre o espaço que o Federal Reserve terá para cortar a taxa de juros neste ano, com as expectativas de momento mostrando uma boa probabilidade de o Fed reduzir os juros em setembro, apesar da pressão de Trump por cortes imediatos.

O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,27%, a 98,236.

Polícia Federal

O ex-presidente foi alvo nesta sexta de uma operação da Polícia Federal determinada pelo STF e terá de usar tornozeleira eletrônica, além de cumprir outras medidas restritivas, informou a corte em decisão, em uma escalada dos problemas enfrentados por Bolsonaro com a Justiça.

O presidente da Primeira Turma do STF, Cristiano Zanin, convocou sessão virtual do colegiado a partir desta sexta-feira para decidir sobre as medidas cautelares impostas pelo ministro da corte Alexandre de Moraes contra o ex-presidente.

“O ambiente de tensão se eleva, principalmente por nesse imbróglio também estar Donald Trump, que pode reagir à decisão de Moraes”, disse o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez. A visão era endossada por outros analistas ouvidos pela Reuters.

Em Nova York, os índices não seguiam direção única, com investidores avaliando uma semana de sinais econômicos mistos, com destaque nesta sexta-feira para os dados de início de construção de moradias unifamiliares e confiança do consumidor, e também em meio a divulgações de relatórios corporativos.

Destaques do Ibovespa

PETROBRAS PN tinha variação negativa de 0,1%, apesar do avanço dos preços do petróleo no exterior, onde o barril do Brent ganhava 1,34%, a US$70,45. PETROBRAS ON perdia 0,35%. No setor, BRAVA ENERGIA ON caía 0,11%, enquanto PETRORECONCAVO ON cedia 1,01% e PRIO ON recuava 0,21%.

VIBRA ENERGIA ON caía 1,28%, tendo no radar notícia do Brazil Journal de que a empresa teria iniciado conversas com a Cosan visando a eventual compra da empresa de lubrificantes do grupo, Moove. Em comunicados separados, tanto a Vibra quanto a Cosan disseram que não há qualquer acordo, compromisso ou documento celebrado para negócio envolvendo Moove. COSAN ON tinha declínio de 1,62%.

ITAÚ UNIBANCO PN apurava queda de 0,36%, enquanto BRADESCO PN caía 1,37%, SANTANDER BRASIL UNIT recuava 3,15% e BANCO DO BRASIL ON mostrava decréscimo de 0,43%.

VALE subia 0,22%, em dia de alta para os contratos futuros de minério de ferro na bolsa de Dalian, que atingiram o maior valor de fechamento em quatro meses e meio. O contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) da China subiu 0,38%, para 785 iuanes (US$109,34) a tonelada. O contrato ganhou 3,66% esta semana.

WEG ON avançava 1,33%, também entre as poucas variações positivas do Ibovespa. A empresa anunciou na véspera que firmou um acordo para comprar parcela remanescente na PPI-Multitask, companhia especializada em integração de sistemas de automação industrial, softwares para a indústria e outras soluções.

REDE D’OR ON cedia 1,43%. A companhia informou na quinta-feira, após fechamento do mercado, que sua subsidiária Onco D’Or Oncologia formou joint venture com a New Experimental Therapeutics (Next) com o objetivo de desenvolver inovações no tratamento do câncer. Segundo a empresa, que não divulgou valores envolvidos na operação, a JV visa a realização de testes clínicos fase 1 de potenciais agentes anticancerígenos.