15/07/2025 - 17:56
O Ibovespa ensaiou neutralizar as perdas que prevaleceram em boa parte do pregão e, assim, impedir que, vindo da marca histórica da 141 mil pontos em 4 de julho, encadeasse sua mais longa sequência negativa, de sete sessões, desde a série recorde de 13 em baixa, de agosto de 2023.
Nesta terça, 15, oscilou dos 134.380,16 até os 136.021,52 pontos, na máxima do dia, e encerrou perto da estabilidade, mas em viés ainda negativo (-0,04%), a 135.250,10 pontos, com giro a R$ 18,2 bilhões. Na semana, recua 0,69% e, no mês, acumula perda de 2,60% – no ano, sobe 12,44%. No fechamento, mostrou o menor nível desde 7 de maio, então na casa de 133 mil.
A sessão trouxe novos dados de inflação nos EUA, com atenção ainda concentrada, no mercado, aos desdobramentos em torno da ofensiva tarifária retomada recentemente pelo governo Trump. Em Brasília, os investidores monitoraram o encontro de conciliação entre governo e Congresso sobre o IOF, mediado pelo Supremo Tribunal Federal a partir de deliberação do ministro Alexandre de Moraes.
Na avaliação da Warren Investimentos, apesar da expectativa em torno do assunto, a reunião de conciliação não renderia desfecho concreto para o impasse sobre o imposto. “A provável ausência de figuras centrais do processo – o ministro Fernando Haddad (Fazenda), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e o presidente da Câmara, Hugo Motta – reforça a percepção de que muito pouco, ou quase nada, avançará hoje”, acrescentou mais cedo a gestora, em nota, na qual observou também que o principal interessado em acordo seria o Ministério da Fazenda.
“A decisão do ministro Alexandre de Moraes, ao suspender tanto o decreto que elevou o IOF quanto o PDL que o sustou, devolve o jogo à estaca zero. O país retorna ao ponto anterior ao aumento do imposto – e, nesse tabuleiro, é o Congresso quem sai em vantagem, já que a decisão judicial ecoa o entendimento parlamentar contrário ao reajuste”, aponta a Warren Investimentos.
No fim da tarde, veio a informação do STF de que, sem acordo entre as partes na audiência de conciliação desta tarde, o ministro Alexandre de Moraes é quem decidirá a questão do IOF. O ministro-chefe da Advocacia Geral da União (AGU), Jorge Messias, defendeu, assim como o advogado que representava o PSOL, que a deliberação de Moraes seria o melhor caminho para a resolução do impasse.
Na agenda do exterior, o destaque desta terça-feira foi a divulgação de nova leitura sobre a inflação ao consumidor nos Estados Unidos que, conforme observa Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, veio em linha com o esperado, em alta de 0,3% em junho, no mês. “No acumulado de 12 meses, houve uma aceleração de 2,4% para 2,7%, também dentro do consenso do mercado”, acrescenta. “Quando olhamos a abertura dos dados, vemos alguns componentes com forte influência sazonal, especialmente a gasolina, que subiu 1% no mês devido ao aumento já observado nos preços dos combustíveis em junho.”
Para Cruz, a leitura da inflação ao consumidor nos Estados Unidos não deve alterar significativamente a estratégia do Federal Reserve com relação aos juros. Na avaliação do estrategista, o BC americano tem reforçado que parte das pressões sobre a inflação tem natureza transitória. Dessa forma, “segue no radar a possibilidade de um corte de juros ainda este ano”, diz Cruz. “A grande dúvida do mercado agora é se esse movimento começará em setembro. Como só restam quatro reuniões até o fim de 2025, e parte dos dirigentes defende dois cortes, é provável que esse grupo pressione por uma primeira redução já no próximo encontro.”
No quadro mais amplo, a tensão e a cautela ainda prevalecem em torno das tarifas de Trump, em especial com relação aos rumos que a aguardada negociação bilateral entre Estados Unidos e Brasil virá a ter – sem sinais concretos, ainda, de que o prazo de 1º de agosto, estabelecido pelo presidente americano, virá a ser prorrogado. Essa dúvida tem se refletido nos últimos dias não apenas na bolsa como também no câmbio, o que se acresce às incertezas em torno da negociação entre o governo e o Congresso sobre o impasse do IOF, observa Ian Lopes, economista da Valor Investimentos.
Na B3, o alinhamento da maioria das ações de grandes bancos em sentido positivo do meio para o fim da tarde foi essencial a que o Ibovespa se firmasse perto da estabilidade, em sessão negativa para os carros-chefes das commodities, Vale (ON -2,62%) e Petrobras (ON -1,14%, PN -0,78%), que ainda acumulam ganhos de até 2,39% (Vale ON) no mês, enquanto os maiores bancos caem em bloco em julho: entre -2,54% (Bradesco PN) e -6,37% (Santander Unit) no intervalo.
Embora a leitura cheia do PIB da China, em expansão de 5,2% ao ano, tenha ficado acima do esperado para o segundo trimestre, alguns dados desagregados sugerem cautela para o setor de mineração e siderurgia: as vendas de novas moradias caíram 5,2% no semestre em relação ao mesmo período de 2024. “A alta do PIB superou as expectativas e a meta de crescimento do governo 5%, mas a produção de aço da China caiu diante de incertezas com a demanda global”, diz Guilherme Petris, operador de renda variável da Manchester Investimentos, acrescentando que a cautela quanto ao tarifaço os EUA continua, também, a fazer preço.
“Como o setor imobiliário da China veio ruim, o mercado está interpretando que o consumo de aço também deve cair. Assim, o setor de mineração e siderurgia mostrou fraqueza na sessão, em especial com os dados sobre novas moradias”, diz Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença.
Entre as maiores instituições financeiras, destaque hoje para Santander (Unit +2,28%, na máxima do dia no fechamento) e Banco do Brasil (ON +1,06%), à frente de Itaú (PN +0,34%) e de Bradesco (ON +0,07%, PN -0,06%). Na ponta ganhadora do Ibovespa, CVC (+6,55%), São Martinho (+3,67%) e Marcopolo (+3,47%). No lado oposto, além de Vale e Bradespar (-2,37%), destaque também para MRV (-2,87%), RD Saúde (-1,98%) e Prio (-1,82%).