Após sustentar alta firme durante o dia, se aproximando dos R$ 5,50, o dólar à vista desacelerou na reta final dos negócios e encerrou próximo da estabilidade, com investidores ajustando posições antes da decisão do Copom sobre juros, na noite desta quarta-feira, em movimento amplificado pela liquidez reduzida no Brasil em razão de feriado nos Estados Unidos.

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O dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 5,4407 na venda, em leve alta de 0,13%. Esta é a maior cotação de fechamento desde 4 de janeiro de 2023 — início do governo Lula — quando encerrou a R$ 5,4513. Em quatro dias, a moeda norte-americana acumulou alta de 1,35%. No mês, o ganho acumulado é de 3,61%.

Às 17h06, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,07%, a R$ 5,4440 na venda.

Com o mercado norte-americano fechado em função do feriado de Juneteenth, as cotações do dólar foram influenciadas nesta quarta-feira pela expectativa antes da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central sobre a Selic, atualmente em 10,50% ao ano.

A busca dos investidores pela proteção do dólar fez a cotação no mercado à vista atingir a máxima de 5,4840 (+0,92%) às 14h30. Perto do fechamento, porém, as cotações perderam força e o dólar se reaproximou da estabilidade.

No mercado há quase um consenso, precificado na curva a termo, de que o Banco Central manterá a taxa básica Selic em 10,50% ao ano, colocando um ponto final no atual ciclo de cortes.

A principal dúvida é se a votação será dividida, como no encontro de maio, ou se haverá unanimidade entre os nove dirigentes do BC. Profissionais ouvidos pela Reuters afirmaram que se os quatro dirigentes indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva votarem novamente em bloco, pelo corte da Selic, isso tende a estressar novamente os ativos, ainda que a Selic siga em 10,50% ao ano.

Após Lula ter criticado duramente na véspera o presidente do BC, Roberto Campos Neto, as atenções estarão voltadas principalmente para o voto do diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, cotado para assumir o comando da autarquia a partir de 2025.

“Embora o mercado acredite que não haverá um susto como em maio, ele está se protegendo”, comentou durante a tarde o gerente da mesa de Derivativos Financeiros da Commcor DTVM, Cleber Alessie Machado, ao justificar a alta das cotações. “Se houver divisão ou se houver uma ‘surpresa dovish’ no Copom, o dólar sobe”, acrescentou.

Operador ouvido pela Reuters resumiu a percepção mais geral do mercado nesta quarta-feira: o dólar somente cairá no dia seguinte ao Copom se a Selic seguir em 10,50% ao ano, por decisão unânime dos dirigentes do BC. Qualquer decisão diferente desta tem potencial para estressar ainda mais as cotações.

O mesmo profissional ponderou que, apesar de o dólar ter caminhado para os R$ 5,50 nos últimos dias, ainda haveria espaço de sobra para novas apreciações caso o resultado do Copom não seja bem avaliado pelos investidores. Isso porque as preocupações com o cenário político brasileiro e com o equilíbrio fiscal permanecem nas mesas de operação.

Às 17h15, no exterior, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,04%, a 105,230.

No Brasil, pela manhã, o BC vendeu todos os 12.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados para rolagem dos vencimentos de agosto.

À tarde, o BC informou que o Brasil registrou fluxo cambial total positivo de R$ 6,337 bilhões em junho até o dia 14, com entradas líquidas de 2,104 bilhões de dólares pelo canal financeiro e entradas de R$ 4,233 bilhões pela via comercial.

Ibovespa

O Ibovespa fechou em alta nesta quarta-feira, mas com volume bem reduzido, reflexo de cautela antes da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central e da ausência de Wall Street devido a feriado nos Estados Unidos.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 0,53%, a 120.261,34 pontos, perto da máxima do dia, de 120.383,33 pontos. Na mínima, chegou a 118.960,37 pontos.

O volume financeiro somou apenas 14,15 bilhões de reais, bem abaixo da média diária do ano de 23,9 bilhões de reais.

O desfecho do Copom, principalmente o placar de votação da decisão, ocupa as atenções de agentes financeiros desconfiados acerca da condução futura da política monetária, após mudanças na diretoria do BC e saída do seu presidente até o final do ano.

Na véspera, o presidente da República voltou a criticar a atuação do titular do BC, Roberto Campos Neto, o que na visão de alguns agentes no mercado corrobora um cenário de mais uma decisão dividia do Copom sobre a Selic.

Entre economistas, prevalece a aposta de que a taxa básica de juros será mantida em 10,50% ao ano, com uma parcela minoritária ainda estimando um corte de 0,25 ponto percentual.

No encontro anterior, o BC reduziu o ritmo de afrouxamento monetário ao fazer um corte de 0,25 ponto, com placar dividido, com divergência de diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que votaram por uma redução de 0,50 ponto.

Na visão do chefe da EQI Research, Luís Moran, foi um dia de não assumir posições relevantes com o mercado nos EUA fechado e Copom no final o dia, principalmente com o componente político adicionado pelo presidente Lula na véspera à decisão.

Ele acrescentou que, até a fala de Lula, havia mais ou menos um consenso de que, após o desconforto provocado pelo resultado da reunião anterior, a decisão desta reunião seria unânime, muito provavelmente de pausar o ciclo de cortes.

“Tecnicamente, não tem como fazer uma redução (da Selic) nesse instante”, afirmou, citando que as projeções para a inflação estão desancoradas.

DESTAQUES

– BRF ON avançou 4,33%, mantendo o tom positivo da véspera, quando fechou com acréscimo de 5,5%, tendo ainda como pano de fundo a possibilidade de a China restringir a importação de carne suína na União Europeia. MARFRIG ON, principal acionista da BRF, terminou com elevação de 3,03%. Ainda no setor, JBS ON encerrou em alta de 1,76% e MINERVA ON valorizou-se 2,86%.

– WEG ON fechou com um ganho de 2,44%, completando seis pregões sem sinal negativo, com o noticiário recente da companhia incluindo parceria com Horse em powertrain de veículos comerciais leves e pesados e acordo para equipar usina da Orizon de geração de energia a partir do lixo.

– VALE ON subiu 0,31%, apesar da fraqueza dos futuros do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian encerrou as negociações do dia com queda de 0,36%, a 824 iuanes (113,55 dólares) a tonelada, depois de atingir 835,5 iuanes a tonelada no começo da sessão.

– ITAÚ UNIBANCO PN avançou 0,78%, em sessão de evento online com executivos do banco, no qual o CEO disse que “tudo leva a crer” que o Itaú pagará novamente dividendos extraordinários aos acionistas. BRADESCO PN ganhou 0,48%.

– PETROBRAS PN fechou com acréscimo de 0,08%, após forte valorização na véspera, com a quarta-feira marcada por variação tímida do petróleo Brent no exterior e cerimônia de posse da nova presidente-executiva da estatal, Magda Chambriard. Em seu discurso, ela afirmou que recebeu de Lula a encomenda de “movimentar a Petrobras, porque ela impulsiona o PIB do Brasil”, e disse que vai fazer o que está no plano de investimentos da companhia.

– AZUL PN recuou 4,62%, na sexta sessão seguida de queda, renovando mínimas desde março de 2023. Na semana passada, o Goldman Sachs reduziu um pouco suas previsões para receita líquida e Ebitda da companhia no período de 2024 a 2026, cortando o preço-alvo das ações de 23,50 para 20,10 reais. Nesta quarta-feira, os papéis fecharam a 8,06 reais.

– CSN ON recuou 1,85%, com ajustes, após disparar na véspera, quando o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu acatar recurso da companhia envolvendo uma indenização de cerca de 5 bilhões de reais a ser paga pela Ternium referente à entrada desta última na Usiminas. A Ternium prometeu recorrer.

 

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