O Ibovespa fechou em baixa nesta segunda-feira,5, contaminado pela aversão a risco global em meio a preocupações com a economia dos Estados Unidos, mas distante da mínima do dia, amparado pela disparada do Bradesco, após o balanço do segundo trimestre mostrar lucro líquido acima do esperado e tendências positivas para os próximos meses.

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Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa encerrou com um declínio de 0,46%, a 125.269,54 pontos, mas chegou a cair a 123.073,16 pontos no pior momento da sessão (-2,21%). Na máxima, marcou 125.850,51 pontos.

O volume financeiro somava R$ 25,4 bilhões antes dos ajustes finais.

Já o dólar, após oscilar acima dos R$ 5,86 no início do dia, perdeu força em meio ao enfraquecimento da moeda ante outras divisas de emergentes e a dados positivos do setor de serviços nos EUA, mas ainda assim a moeda norte-americana fechou a segunda-feira em alta no Brasil, no maior valor desde dezembro de 2021.

O dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 5,7414 na venda, em alta de 0,53%. Esta é a maior cotação de fechamento desde 20 de dezembro de 2021, quando fechou em R$ 5,7450. Em agosto, a moeda norte-americana acumula alta de 1,51%.

Às 17h10, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,17%, a 5,7545 reais na venda, após ter chegado a oscilar em baixa durante a tarde.

O dia do Ibovespa

Divulgações recentes nos Estados Unidos reavivaram preocupações sobre o risco de recessão na maior economia do mundo, desencadeando um forte movimento de aversão a risco no exterior nesta segunda-feira, principalmente sob a tese de que o Federal Reserve possa estar atrasado no corte de juros.

Em Wall Street, o S&P 500 fechou em baixa de 3%, enquanto o rendimento do título de 10 anos do Tesouro norte-americano marcava 3,7846% no final do dia, após chegar a 3,667% na mínima da sessão, de 3,796% na última sexta-feira.

“Vemos a reação do mercado como exagerada e repercutindo um receio de uma forte e/ou grave recessão a frente, a qual vemos como altamente incerta”, afirmou o estrategista-chefe da Avenue, William Castro Alves.

Contratos futuros de juros nos EUA que medem expectativas para a política monetária do Fed precificaram nesta segunda-feira um corte na taxa de juros entre reuniões do banco central chefiado por Jerome Powell. O próximo encontro está agendado para os dias 17 e 18 de setembro.

Para economistas do Bank of America Securities, a economia não precisa de cortes agressivos. Eles estimam um ciclo de cortes que começa em setembro, com uma redução de 0,25 ponto percentual a cada trimestre até a taxa terminal na faixa de 3,25% a 3,5% em meados de 2026.

“Cortes agressivos de taxas de 0,50 ponto ou mais são feitos em caráter emergencial, assim como ações entre reuniões. Poderíamos chegar lá? Claro. Mas ainda não chegamos lá”, afirmaram em relatório a clientes.

Eles ponderaram, contudo, que os dados podem estar dizendo que o equilíbrio de riscos mudou na direção do aumento da folga do mercado de trabalho e do risco de queda da inflação. “Se sim, então o Fed deve chegar à neutralidade rapidamente, mais rápido do que planeja”, acrescentaram.

De acordo com a equipe do BofA Securities, isso poderia ocorrer na forma de cortes de 0,25 ponto em reuniões consecutivas, seguidos por uma trajetória suave para a neutralidade, o que levaria a taxa básica de juros a neutra no final de 2025.

Outro caminho seria fazer cortes de 0,25 ponto em cada reunião, o que levaria a taxa básica de juros a neutra até meados de 2025; e uma terceira via seria promover vários cortes grandes e antecipados, o que poderia levar a taxa básica de juros a neutra até o início de 2026.

Além de dados norte-americanos recentes mais fracos, em especial do mercado de trabalho, resultados e perspectivas de empresas de tecnologia aquém das expectativas, receios com a economia chinesa e efeito da valorização do iene, entre outros, também foram citados como gatilhos para o “sell-off”.

Destaque do dia para o Bradesco, que disparou 7,59% nas PN, para uma máxima de fechamento desde abril, a R$ 13,61, enquanto Bradesco ON saltou 8,3%, a R$ 12,27, também a maior cotação de fechamento desde abril, assegurando com tal desempenho um ganho de R$ 10,1 bilhões em valor de mercado.

O banco reportou antes da abertura lucro líquido acima do esperado por analistas no segundo trimestre, enquanto o presidente-executivo da instituição, Marcelo Noronha, afirmou que o lucro de 2024 deve ficar acima do resultado implícito nas estimativas do banco.

“No geral, vemos o banco apontando para melhores tendências futuras, o que deve apoiar nossas estimativas atuais e representar um risco potencial de alta para os números de 2025 e o ROE”, destacaram analistas do Safra em relatório a clientes.

No ano, as ações PN do Bradesco ainda acumulam perda de 22,81%.

O dólar no dia

No início do dia, o sell-off (liquidação) nos mercados globais colocou os índices de ações em forte baixa e o dólar em alta firme ante as divisas de emergentes, como o real, o peso mexicano e o peso chileno.

Entre os fatores citados para o movimento estavam o receio de uma recessão nos EUA após dados fracos de emprego na sexta-feira; a continuidade da liquidação de operações de carry-trade com o iene pós o Banco do Japão subir juros na semana passada; os receios de que haja uma escalada no conflito envolvendo Israel no Oriente Médio e a decepção com balanços de companhias nos EUA, com a Berkshire Hathaway do empresário Warren Buffett reduzindo metade de sua participação na Apple.

“Houve um sell-off bruto, com o (mercado de ações do) Japão mergulhando e os EUA também. Mas no intraday foi melhorando”, comentou o gerente da mesa de Derivativos Financeiros da Commcor DTVM, Cleber Alessie Machado, pontuando que os ganhos do dólar ante o real, o peso mexicano e o peso chileno também diminuíram.

“O ISM norte-americano contribuiu para isso, diluindo o receio de que haverá um pouso forçado da economia dos EUA e, por isso, o Fed poderia até chamar uma reunião extraordinária para cortar juros, como chegou a circular”, acrescentou.

O Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM) informou que seu índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor não manufatureiro aumentou para 51,4 no mês passado, de 48,8 em junho, que foi o nível mais baixo desde maio de 2020. Economistas consultados pela Reuters previam que o PMI de serviços subiria para 51,0.

No Brasil, havia ainda a percepção de que o real e o Ibovespa haviam recuado bastante no início do dia, o que abria espaço para ajustes.

“(O mercado brasileiro) caiu tanto que está tendo um rebound (recuperação). Isso é normal”, disse durante a tarde o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior.

Neste cenário, após marcar a cotação máxima de 5,8655 reais (+2,71%) às 9h04, pouco depois da abertura da sessão, o dólar à vista atingiu a mínima de 5,7135 reais (+0,05%) às 14h43. Até o encerramento dos negócios, porém, a divisa reacelerou um pouco.

No exterior, o dólar se mantinha em alta no fim da tarde ante as demais divisas de emergentes — mas em percentuais bem inferiores aos vistos mais cedo. Por outro lado, a moeda norte-americana caía ante uma cesta de pares fortes, por conta do avanço do euro e, em especial, do iene, em mais um dia de desmontagem de operações de carry trade — quando investidores retiram seus recursos de países com juros baixos e aplicam em lugares com juros mais altos — com a moeda japonesa.

Às 17h30, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,45%, a 102,690.

Pela manhã o Banco Central vendeu todos os 12.000 contratos de swap cambial tradicional em leilão para fins de rolagem do vencimento de 1º de outubro de 2024.