O Ibovespa fechou com variação negativa nesta sexta-feira, 16, quebrando a série de oito pregões consecutivos de alta e abaixo do patamar recorde intradiário atingido no dia, com agentes financeiros recalibrando suas posições antes do final de semana.

+ Cielo se despede da Bolsa com menos de 20% do mercado e amplia desafio para Bradesco e BB

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa recuou 0,15%, a  133.953,25 pontos, de acordo com dados preliminares, abaixo da máxima histórica de fechamento de 134.193,72 pontos alcançada em 27 de dezembro. Na semana, o indicador acumulou acréscimo de 2,65%.

No melhor momento da sessão, o Ibovespa marcou 134.781,44 pontos, superando a máxima histórica anterior intradia de 134.574,50, estabelecida na véspera. No pior momento, chegou a 133.851,67 pontos. Veja cotações.

O volume financeiro somava R$ 28,6 bilhões antes dos ajustes finais, em sessão ainda marcada por vencimento de opções sobre ações na B3.

Já o dólar registrou a segunda queda semanal consecutiva no Brasil, encerrando nesta sexta-feira, 16, em baixa ante o real, numa sessão marcada pelo recuo firme da moeda norte-americana também no exterior e pelo aumento das apostas de que o Banco Central poderá elevar juros já em setembro.

O dólar à vista fechou em baixa de 0,31%, cotado a R$ 5,4673. Na semana, a divisa dos EUA acumulou queda de 0,87%, após ter cedido 3,43% na semana anterior.

Às 17h04, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,17%, a 5,4805 reais na venda.

O dia do Ibovespa

Em Nova York, uma série de dados econômicos encorajadores dissiparam preocupações em relação a uma desaceleração econômica na maior economia do mundo, levando os principais índices de Wall Street a cravarem seu melhor desempenho semanal do ano.

Aliada a isso está a crescente confiança de que o Federal Reserve fará um primeiro corte de juros já no próximo mês. O S&P 500, referência do mercado acionário norte-americano, avançou 0,2%.

Na cena doméstica, dados acima do esperado do IBC-Br, calculado pelo Banco Central e considerado um sinalizador do PIB, apoiaram o otimismo no começo da sessão. O indicador subiu 1,4% em junho ante maio, contra expectativa de analistas consultados pela Reuters de alta de 0,50% no mês.

A sessão também marcou o fim da temporada de balanços corporativos no Brasil, que trouxe um impulso adicional para os ativos na bolsa. Mas o índice não conseguiu estender sua série de altas, perdendo fôlego no início da tarde, com analistas apontando para alguma realização de lucros.

“A alta de hoje já era mais contida”, afirmou o chefe de análise Enrico Cozzolino, da Levante Investimentos. “É mais uma realização de lucros, aquele evento de fim de temporada de resultados.. hoje, especialmente, também tem o vencimento de opções (sobre ações)”, acrescentou.

Ainda assim, o dia foi marcado pela fixação de novo patamar intradiario recorde para o Ibovespa.

Analistas do Itaú BBA destacaram que, para os próximos dias, será importante acompanhar o índice, pois se ele superar a marca histórica atingida nesta sexta-feira, “o mercado abrirá espaço para seguir em direção aos 137.000, 141.000 e 150.000 pontos”, conforme análise técnica Diário do Grafista.

O indicador também permanece em um patamar historicamente elevado. Apenas 4,5% dos fechamentos do Ibovespa ocorreram em um patamar igual ou superior a 130 mil pontos, segundo levantamento da Quantum Finance.

O analista Bruno Benassi, da corretora Monte Bravo, disse que os “drivers” positivos incluem um maior apetite por risco no mercado externo e uma mudança de postura do governo brasileiro em relação ao compromisso com as contas públicas.

“Os receios fiscais estão lá ainda, não sumiram, mas a comunicação agora parece um pouco melhor”, afirmou.

DESTAQUES

– PETZ ON disparou 9,28% após anunciar que assinou acordo com a rival Cobasi para combinação das operações entre ambas, que criará a maior empresa no setor no país, unindo as duas companhias que já lideram o segmento. A expectativa é de que a fusão gere um valor incremental no Ebitda somado das duas empresas de 220 milhões a 330 milhões de reais por ano. Até a véspera, a ação acumulava queda de 12,6% no ano.

– IRB(RE) ON avançou 5,58%, ainda embalada pela repercussão favorável dos resultados do segundo trimestre divulgados na terça-feira à noite, com um lucro líquido de 65 milhões de reais no período, salto de 225% na comparação ano a ano e acima das previsões de analistas. Na véspera, os papéis dispararam 30,66%.

– PETROBRAS PN subiu 0,42%, devolvendo perdas de mais cedo na sessão para marcar seu terceiro pregão seguido de valorização, apesar da queda dos preços do petróleo no exterior. O barril de Brent, usado como referência pela estatal, fechou com declínio de 1,68%, a 79,68 dólares por barril.

– VALE ON cedeu 0,27%, acompanhando o movimento dos futuros do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian encerrou o pregão diurno com queda de 0,99%.

– LOCALIZA ON teve alta de 8,67%, em dia de recuperação após três quedas seguidas, com destaque para o tombo de 16,84% na quarta-feira após o balanço do período de abril a junho frustrar investidores. Analistas do Goldman Sachs afirmaram que a queda recente das ações mais do que precifica os resultados fracos do segundo trimestre e recomendaram a compra dos papéis.

– ITAÚ UNIBANCO PN perdeu 0,84%, devolvendo ganhos de mais cedo no dia e dando fim à sequência de cinco altas consecutivas, enquanto BRADESCO PN caiu 1,25%. Na ponta positiva, BANCO DO BRASIL ON subiu 0,78% e SANTANDER BRASIL UNIT teve acréscimo de 0,7%.

– AMBIPAR ON, que não faz parte do Ibovespa, recuou 6,05%. A empresa, especializada em gestão de resíduos, anunciou na véspera acordos para a venda de veículos usados somando 717 milhões de reais, a fim de renovar sua frota no Brasil, prevendo economia de capex nos próximos 2 a 3 anos e queda na alavancagem financeira.

O dólar no dia

A redução do temor de uma recessão iminente nos Estados Unidos, após a divulgação de dados fortes sobre a economia norte-americana na véspera, favoreceu novamente a baixa do dólar ante as demais divisas nesta sexta-feira.

No início do dia a moeda norte-americana caía ante uma cesta de divisas fortes e em relação a boa parte das demais moedas, incluindo o real. Às 10h04, o dólar à vista marcou a cotação mínima de 5,4371 reais (-0,86%).

Além da influência vinda do exterior, a queda do dólar era favorecida pela alta das taxas curtas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros), que precificavam probabilidade ainda maior de o Banco Central subir em setembro a Selic, hoje em 10,50% ao ano.

A perspectiva de uma Selic mais alta vem sendo sustentada por discursos de autoridades do Banco Central. Na semana passada o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, afirmou que toda a diretoria da instituição está disposta a fazer o que for necessário para perseguir a meta de inflação, de 3%. Na última segunda-feira, Galípolo afirmou que uma possível alta da Selic “está na mesa” do Copom.

Nesta sexta-feira foi a vez de o presidente do BC, Roberto Campos Neto, reforçar que a instituição busca cumprir a meta e que subirá a Selic “se necessário”.

“Todos os diretores estão adotando nosso discurso oficial. Estamos reforçando que não estamos dando nenhum guidance, mas que faremos o que for necessário para levar a inflação à meta”, disse Campos Neto durante participação no evento Barclays Day, promovido pelo Banco Barclays, em São Paulo. “Elevaremos a taxa de juros se for necessário.”

Uma Selic mais elevada, somada à perspectiva de corte de juros pelo Federal Reserve também em setembro, torna o Brasil ainda mais atrativo ao capital internacional, o que em tese aponta para um dólar mais baixo ante o real.

Ainda pela manhã o dólar ensaiou uma recuperação, marcando a cotação máxima de 5,4876 reais (+0,06%) às 11h49. Durante a tarde, porém, a queda firme da moeda no exterior prevaleceu e a divisa voltou a se firmar em baixa também no Brasil.

No exterior, às 17h20 o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,58%, a 102,440.

Pela manhã, o Banco Central vendeu todos os 12.000 contratos de swap cambial tradicional em leilão para fins de rolagem do vencimento de 1º de outubro de 2024.

Durante o evento do Barclays, Campos Neto também reafirmou que a instituição decidiu não intervir no câmbio recentemente, quando o dólar atingiu picos ante o real, por avaliar que grande parte da volatilidade se devia a prêmios de risco.