O receio de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) fosse muito duro na reunião de política monetária desta quarta-feira, que encheu de cautela e derrubou os mercados nos últimos dias, foi afastado pelo presidente da autoridade monetária, Jerome Powell. Se havia alguma dúvida após o comunicado da decisão de juros, a coletiva de imprensa veiculada por Powell afastou a possibilidade de uma alta de 75 pontos nos juros, o que retirou pressão das bolsas globais e abriu espaço para o Ibovespa voltar aos 108 mil pontos.

O índice foi suportado, ainda, por um avanço sustentado das ações das petroleiras. Com o barril do Brent em alta superior a 5%, as ações da Petrobras subiam de forma consistente, com os papéis preferenciais da companhia avançando mais de 6%. PetroRio e 3R Petroleum ganharam 5,81% e 4,68%, respectivamente, esta última apesar do prejuízo líquido de R$ 335,17 milhões reportado no primeiro trimestre.

No minério, por sua vez, uma leve queda da commodity em Qingdao, na China, levou mineradoras e metalúrgicas a pesarem negativamente no índice, com Vale recuando 0,84%.

Assim, o Ibovespa encerrou o dia em alta de 1,70%, aos 108.343,74 pontos. O patamar, conquistado praticamente na última hora do pregão, colocou o índice bem longe da mínima do dia (104.932,97 pontos) e reverteu a perda semanal. Na semana, a referência da bolsa sobe 0,43%.

O alívio na bolsa, que passou a manhã e boa parte da tarde em queda, começou logo após o comunicado, quando o índice diminuiu significativamente a baixa.

A virada para o positivo, no entanto, só veio após Powell dizer que subir o juro em 75 pontos-base não é algo que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) está “ativamente considerando” por enquanto. Ele afirmou, contudo, que novos aumentos de 50 pontos estão na mesa.

Com o tom bem mais suave do que o esperado, as bolsas tiveram alívio globalmente, renovando máximas aqui e em Nova York. Tanto que Dow Jones e S&P500 fecharam o dia em altas superiores a 2,8%.

“Powel foi na direção de sinalizar mais duas altas de 50 ponto e também dizer ao mercado que não é um dado ou outro que vai fazê-lo mudar de opinião, é um conjunto de informações. Isso retira incerteza. Fica um pouco mais claro que não teremos surpresas mais duras nos próximos meses”, aponta Fernando Fenolio, economista-chefe da WHG, completando: “Com essa sinalização, tirando a chance de 75 pontos e dando previsibilidade, o mercado reagiu bem”.

O mercado ainda espera a decisão de política monetária brasileira, marcada para às 18h30. Os investidores monitoram sobretudo as sinalizações do Comitê de Política Monetária (Copom) para a próxima reunião e apostam que o BC irá deixar espaço para ao menos mais uma alta em junho.

“Provavelmente, se o mercado entender que o BC faz uma alta adicional em junho e para, isso será bom para os ativos”, aponta Luciano Costa, economista e sócio da Monte Bravo Investimentos, completando: “A decisão do Fed só potencializa esse efeito, porque é a favor de ativos de risco”.

Além da incerteza, a reação nas bolsas globais ocorre porque um cenário de política monetária mais agressiva retiraria recursos de ativos de risco, à medida que os títulos atrelados a juros ficam mais interessantes. Além disso, o Fed aumentando juros de maneira ainda mais forte nos EUA é especialmente ruim para emergentes como o Brasil, à medida que, com mais retorno, uma fuga de capital começa a entrar no radar.

“No início, a alta de juros não foi prejudicial para as bolsas aqui. Quando deixa de ser bom pra bolsa? Quando sobe num nível que causa uma piora muito grandes nos dados correntes das empresas. E esse ponto está se aproximando. Mas não achamos mais que será agora no curtíssimo prazo”, disse o gestor de portfólio da Kilima Asset, Luiz Adriano Martinez. A decisão mais suave do Fed trouxe alívio aos mercados justamente porque alonga esse impacto negativo sobre a economia.

Setorialmente, todos os segmentos fecharam no positivo no Ibovespa nesta quarta, com destaque para as ações do setor imobiliário (1,84%), de consumo (+1,74%) e utilities (+1,79%). Entre as maiores altas do índice, Magazine Luiza (7,61%), Americanas (7,54%) e Pão de Açúcar (7,52%). Na ponta oposta, Marfrig (-7,76%), com investidores repercutindo negativamente mudança na política de pagamento de dividendos, e JBS (-3,04%), respondendo a um nível de dólar mais alto.