Em dia de cautela também no exterior, com dados mais fracos sobre a economia nos Estados Unidos, na China e na zona do euro, o Ibovespa chegou a se aproximar do limite inferior dos 120 mil pontos, nas mínimas do dia, em meio a ruídos sobre a política de preços da Petrobras após reunião do presidente Lula com o da estatal, Jean Paul Prates. Ao fim, com desmentido de Prates sobre tentativa de ingerência na política de preços da empresa, tanto as ações da Petrobras como o Ibovespa mostravam perdas mais acomodadas – em sessão na qual tiveram forte correlação. No fechamento, o Ibovespa cedeu 0,57%, aos 121.248,39 pontos, entre mínima de 120.153,62 e máxima de 121.944,64 pontos, correspondente ao nível de abertura.

O giro financeiro na primeira sessão de agosto ficou em R$ 23,2 bilhões, um pouco acima da média recente. Na semana, o Ibovespa avança 0,88%, com ganho a 10,49% no ano. Após a ON de Petrobras ter cedido mais de 4% no pior momento do dia, a ação fechou a sessão em baixa de 2,10%, com a PN em recuo de 1,64%. O dia também foi negativo para Vale (ON -1,39%) e para o setor metálico à exceção de Gerdau Metalúrgica (PN estável no fechamento), assim como para outro segmento de peso no índice, o bancário, com a ressalva de Itaú (PN +0,31%) e Santander (Unit +0,25%).

Na ponta negativa do Ibovespa, Sabesp (-4,13%), no dia seguinte a anúncios do governo de São Paulo sobre a privatização da empresa, à frente das perdas de Arezzo (-3,28%), Fleury (-1,86%) e Via (-1,85%) na sessão, além de Banco do Brasil (-1,72%), Pão de Açúcar (-1,64%) e dos dois papéis de Petrobras. No lado oposto, Iguatemi (+2,47%), Magazine Luiza (+2,39%) e Petz (+2,14%).

“O Ibovespa caiu hoje muito em razão de Vale e Petrobras. Em Vale, por conta de preço do minério e algumas questões relacionadas à China grande consumidora de commodities. Em Petrobras, apesar de a mudança na política de dividendos ter sido bem recebida, preocupa a defasagem no preço do combustível vendido pela empresa, que tem crescido e aumenta a pressão por reajuste”, diz Bruno Burth, operador da mesa de renda variável da Legend Investimentos.

Ainda no começo da tarde, após a reunião com Lula, o presidente da Petrobras disse ao Broadcast não procederem os rumores de que iria aumentar, entre hoje e amanhã, os preços dos combustíveis, e que teria voltado atrás a pedido do presidente da República, com quem esteve reunido pela manhã, ao lado de todos os diretores da empresa e outras autoridades, reporta do Rio a jornalista Denise Luna.

“De resto, o mercado se mostra mais neutro, em compasso de espera para a decisão do Copom, amanhã, com cenário-base para corte de 25 pontos-base, o que não deve fazer muito preço se vier a se confirmar. Recentemente, o mercado tem se mostrado aberto à possibilidade de meio ponto, de queda. Se vier meio, pode ser positivo para o apetite por risco, e 0,75 ponto porcentual ainda mais”, acrescenta Burth, da Legend. Por outro lado, se o Copom contrariar a expectativa de consenso e mantiver amanhã a Selic, a reação tende a ser negativa, observa o operador.

No exterior, a primeira sessão de agosto, desde a manhã, foi marcada por “tom predominantemente negativo, com queda das bolsas e commodities, dólar mais forte e movimentação mista das taxas de juros nas economias centrais”, observa em nota a Guide Investimentos, destacando também o “esticado nível de preços dos principais índices acionários nos EUA”, com a referência ampla de Nova York, o S&P 500, convergindo para nova máxima histórica.

Hoje, em sessão na qual prevaleceu cautela quanto aos mais recentes dados econômicos americanos, os principais índices de lá fecharam entre leve ganho de 0,20% (Dow Jones) e perdas de 0,27% (S&P 500) e 0,43% (Nasdaq).

As sessões asiática e europeia, por sua vez, foram afetadas pelas leituras sobre os índices de atividade industrial da China e da zona do euro, respectivamente. Na China, em contração – ou seja, abaixo do limiar de 50 -, o PMI da Caixin tocou o menor nível em seis meses, enquanto, na zona do euro, o índice de atividade industrial em julho foi o menor em 38 meses, aponta a Guide.

“Os PMIs vieram mais fracos na China e na zona do euro, puxando commodities como o minério e o petróleo para baixo – lembrando que Vale e Petrobras têm peso bem relevante no índice Ibovespa. Para completar, declarações negativas, de que o preço da gasolina e do diesel não devem ser elevados por agora, o que contribui para aumentar a defasagem com os preços internacionais”, diz João Vítor Freitas, analista da Toro Investimentos.

Por outro lado, como pano de fundo, “do começo do ano para cá, tem se falado menos em inflação e mais em desemprego, em claro sinal de desaquecimento no mundo: o ambiente é desafiador tanto para as economias em desenvolvimento como para as centrais”, diz Davi Lelis, sócio da Valor Investimentos.

De acordo com o relatório Jolts – uma das métricas sobre o giro de mão de obra no mercado americano acompanhadas de perto pelo Federal Reserve -, publicado hoje pelo Departamento do Trabalho dos Estados Unidos, o número de postos de trabalho que permaneciam abertos no país caiu a 9,582 milhões em junho. O resultado ficou abaixo da expectativa de analistas consultados pela FactSet, de 9,8 milhões de vagas. O número de maio, por sua vez, foi revisado para baixo, de 9,824 milhões para 9,616 milhões.