O Ibovespa reduzia o fôlego nesta quinta-feira, 19, após uma abertura mais positiva, com agentes ainda analisando a decisão do Federal Reserve e repercutindo decisão do Banco Central de subir a Selic para 10,75% ao ano, enquanto Brava Energia desabava.

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Por volta de 11:55, o Ibovespa referência do mercado acionário brasileiro, cedia 0,04%, a 133.695,01 pontos, após chegar a 134.758,76 pontos na máxima mais cedo. O volume financeiro no pregão somava R$ 7,35 bilhões.

A bolsa paulista descolava de Wall Street, onde o S&P 500 avançava 1,55%, em meio a uma reavaliação da decisão do Fed de cortar os juros, após encerrar a quarta-feira no vermelho.

De acordo com o gestor de renda variável Tiago Cunha, da Ace Capital, investidores reavaliaram as primeiras reações mais negativas em vista de uma taxa de equilíbrio mais elevada, atendo-se ao movimento de corte iniciado.

Os rendimentos dos Treasuries, porém, avançavam, com o título de 10 anos marcando 3,7226%, de 3,687% na véspera, o que corroborava a alta nas taxas dos DIs, pesando nas ações brasileiras, principalmente de empresas sensíveis a juros.

E o dólar recua frente ao real nesta quinta-feira, com investidores também reagindo às decisões sobre juros no Brasil e nos EUA

Às 12h50, o dólar à vista caía 0,90%, a R$ 5,41 na venda.

Dia de juros

Na noite de quarta-feira, após o fechamento dos mercados, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa básica de juros em 25 pontos-base, a 10,75% ao ano, em decisão unânime de sua diretoria, que passou a ver um cenário com risco mais elevado de alta da inflação à frente e sugerindo também um possível superaquecimento da economia brasileira.

A primeira alta de juros em pouco mais de dois anos veio após autoridades do BC terem chamado atenção em semanas recentes para a força da atividade econômica e afirmado que o aperto nos juros era uma possibilidade.

O anúncio por si só já seria, em tese, positivo para o real, pois uma Selic mais alta torna a moeda brasileira mais interessante para operações de “carry trade”, em que investidores tomam dinheiro emprestado em países de juros baixos e investem em locais com taxas mais elevadas.

Mas o efeito da decisão do Copom ainda foi complementado pelo movimento divergente do banco central dos EUA, que reduziu sua taxa de juros em 50 pontos-base, iniciando um novo ciclo de afrouxamento monetário, à medida que as autoridades demonstram maior preocupação com o esfriamento do mercado de trabalho.

Segundo o chair do banco central dos EUA, Jerome Powell, a “decisão reflete nossa crescente confiança de que, com uma adequada recomposição da postura de nossa política monetária, a força do mercado de trabalho pode ser mantida em um contexto de crescimento moderado e a inflação se movendo de forma sustentável para 2%.”

Com investidores analisando a decisão do Fed e na espera do anúncio do Copom na sessão anterior, o dólar à vista já havia fechado a quarta-feira em baixa de 0,48%, cotado a 5,4601 reais.

Os impactos do afrouxamento do Fed também podiam ser observados em outros mercados de câmbio, com o dólar recuando ante a maioria de seus pares fortes e emergentes.

O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,12%, a 100,900.

A moeda norte-americana ainda perdia contra o peso mexicano e o rand sul-africano.

A perspectiva futura é ainda mais positiva para os pares da moeda norte-americana, incluindo o real.

Operadores apostam que o Fed cortará os juros em mais 71 pontos-base até o fim deste ano, com mais reduções previstas para o próximo ano, de acordo com a ferramenta FedWatch da CME.

No Brasil, o mercado vê mais altas de juros em 2024, com 81% de chance de um aumento de 50 pontos-base na Selic na próxima reunião do Copom, em novembro.

“Acredito que nesta manhã estejamos vendo uma abertura de mercado que me parece condizente com o que vai ser o ritmo até o fim do ano”, disse Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

“Estou otimista com essa janela final para 2024, é um contexto que me parece promissor.”

Destaques do Ibovespa

– VALE ON subia 1,49%, conforme os futuros do minério de ferro na China avançaram nesta sessão, com o contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian encerrando as negociações do dia com alta de 1,69%.

– PETROBRAS PN avançava 0,25%, favorecida pela alta dos preços do petróleo no exterior, onde o barril de Brent era negociado com elevação de 0,9%.

– ITAÚ UNIBANCO PN cedia 0,05%, em uma sessão com o sinal negativo prevalecendo entre os bancos do Ibovespa.

– SÃO MARTINHO ON valorizava-se 1,05%, endossado por relatório do JPMorgan elevando a recomendação dos papéis a “overweight”, com os analistas citando valuation atrativo e visão positiva para os preços de açúcar e etanol.

– BRAVA ENERGIA ON era negociada em baixa de 8,35%, após atualizar expectativa de retorno da produção do campo de Papa Terra para o início de dezembro de 2024.

– AGROGALAXY ON, que não faz parte do Ibovespa, desabava 18,37%, ampliando as perdas da véspera, quando anunciou perto do fechamento do pregão ter pedido recuperação judicial. Na quarta-feira, as ações caíram mais de 13%.