O desempenho do petróleo, em alta de cerca de 4% nesta segunda-feira, 29, impulsionou as ações da Petrobras (ON +2,16%, PN +2,50%) e do setor de energia – apesar da perda de fôlego também no segmento perto do fim da sessão. No melhor momento, chegou a devolver o Ibovespa aos 113 mil pontos neste começo de semana. Hoje, nos mercados acionários do exterior, ainda prevaleceu cautela decorrente dos sinais ‘hawkish’ sobre a política monetária não apenas nos Estados Unidos mas também na zona do euro, onde no próximo dia 8 haverá nova deliberação sobre os juros.

Aqui, descolada do sinal de Wall Street, a referência da B3 atingiu na máxima da sessão a marca de 113.221,54, saindo de abertura aos 112.295,87 – na mínima, foi a 111.689,15 pontos. Mas praticamente zerou os ganhos nos minutos finais da sessão, ao fechar aos 112.323,12 pontos, em leve alta de 0,02%. Bem fraco, o giro financeiro limitou-se a R$ 20,8 bilhões, mas as compras de ações eram favorecidas, mais cedo, por forte ajuste no câmbio: o dólar à vista cedeu 0,88%, cotado a R$ 5,0334 no fechamento, com mínima a R$ 5,0110 nesta segunda-feira.

“Além do setor de petróleo, as ações sensíveis a juros, como as de varejo e construção, tiveram desempenho positivo na B3, com o boletim Focus trazendo projeções mais baixas para a inflação no Brasil. Se Vale e siderurgia tivessem operado na mesma direção de Petrobras, o desempenho do Ibovespa seria melhor na sessão. Mas o setor tem sido afetado pela baixa no preço do minério, em meio a incertezas sobre a demanda e o grau de crescimento efetivo da economia chinesa no ano, que pode ficar em algo como 2% a 3%, muito baixo para os padrões do país”, diz Nicolas Farto, especialista em renda variável da Renova Invest, destacando que o setor de construção e infraestrutura responde por 20% a 30% do PIB chinês.

Descolado do exterior, dólar fecha em queda ante o real, a R$ 5,0334

Assim, Vale ON fechou hoje em queda de 1,93% enquanto no setor de siderurgia as perdas chegaram a 5,19% (Usiminas PNA, na mínima da sessão no fechamento). Na ponta de ganhos do Ibovespa, Banco Pan (+10,74%) à frente de Vibra (+2,88%), CVC (+2,62%), PetroRio (+2,52%) e Petrobras (PN +2,50%). No lado contrário, IRB (-5,58%), Usiminas (-5,19%), Hapvida (-4,84%) e CSN (-3,40%). Hoje, o minério para janeiro em Dalian, China, caiu 1,38%, a US$ 103,18 por tonelada, enquanto, em Cingapura, o contrato mais negociado, para outubro, cedeu 3,54%, a US$ 102,25.

“Bolsas europeias e asiáticas também começaram a semana em baixa, adicionando ao momento de alta de juros nos EUA o risco de uma crise energética, no primeiro grupo de mercados, e crescentes preocupações sobre uma crise imobiliária, no segundo”, observa Alvaro Feris, especialista da Rico Investimentos.

Se o minério de ferro perde fôlego ante sinais mais fracos sobre a atividade na China, a recente recuperação do petróleo, caso se prolongue, traz incerteza quanto ao efeito para a inflação americana, com o WTI, a referência dos EUA, reaproximando-se gradualmente de US$ 100 por barril, negociado a US$ 97,37 na máxima desta segunda-feira – o Brent, referência global e da Petrobras, foi hoje aos US$ 105,48 no pico da sessão.

Acompanhando perda de fôlego do Ibovespa em direção ao fechamento, com parte das ações de bancos oscilando e se firmando em baixa a despeito do bom desempenho de BB (ON +2,07%), Petrobras ON e PN, que mostravam ganhos acima de 3% no começo da tarde, também se acomodaram, especialmente após a estatal comunicar redução de 15,7% nos preços de venda da gasolina de aviação (GAV) para distribuidoras. O reajuste, que entra em vigor em 1º de setembro, ocorre após o corte de 5,7% divulgado pela companhia no início de agosto.

Como pano de fundo macro para os mercados globais, persiste a incerteza sobre o grau de ajuste ainda necessário nos juros para que os maiores BCs, especialmente Fed e BCE, deixem de estar “atrás da curva”. “O Fed enfrenta um duplo desafio: reduzir a inflação com um mercado de trabalho aquecido; e as empresas operando abaixo da capacidade com contínuos aumentos salariais”, aponta Rodrigo Simões, professor da FAC-SP, especialista em finanças e economia. Na sexta-feira, os mercados estarão concentrados em nova leitura sobre o mercado de trabalho americano, com os dados oficiais de agosto sobre a geração de vagas, a taxa de desemprego e o ganho salarial médio.

“O que pode aliviar a alta da inflação americana é a queda da cotação do petróleo abaixo de US$ 90 o barril, e a taxa de juros chegando a 4% ao ano”, acrescenta Simões, referindo-se aos Fed funds, a taxa de referência dos Estados Unidos, hoje em faixa até 2,50% ao ano.

“Ativos de risco globais abriram a semana no mesmo tom negativo com que fecharam a sessão de sexta-feira, após Jerome Powell reiterar o comprometimento do Fed com o mandato de estabilidade de preços, mesmo que isso resulte em ‘alguma dor para as famílias e negócios nos EUA'”, aponta em nota a Guide Investimentos. “Ao longo do fim de semana, autoridades de outros grandes bancos centrais seguiram a mesma linha, com destaque para as falas de Isabel Schnabel, do BCE Banco Central Europeu, que admitiu que é possível que a instituição tenha de continuar a subir os juros mesmo que a economia europeia entre em recessão”, acrescenta a Guide.

A conjunção de declarações ‘hawkish’, nos Estados Unidos e na Europa, produziu estresse nas curvas de juros americana e de outras grandes economias nesta abertura de semana, com efeito sobre as bolsas de fora e respectivas moedas.

Dessa forma, ainda movido pelo noticiário externo e pela expectativa de aperto monetário nas economias centrais, o noticiário doméstico permanece em segundo plano, mesmo no dia seguinte ao acalorado debate presidencial – especialmente entre Lula e Bolsonaro – que, na visão de analistas políticos, contribui para eventual definição em segundo turno da disputa nas urnas em outubro. “O debate atraiu muita atenção, mas não fez preço hoje”, diz Farto, da Renova Invest.