A incerteza em torno dos próximos passos da política monetária no mundo e no Brasil levou o Ibovespa a uma queda de 1,23% nesta quinta-feira, 22, a 118.934,20 pontos. Profissionais do mercado atribuem o movimento a uma realização dos lucros acumulados diante de um cenário de maior cautela, um dia após a referência da B3 ter conseguido sustentar a marca dos 120 mil pontos no fechamento pela primeira vez em 14 meses.

Não à toa, alguns dos papéis que acumulam altas acima de dois dígitos no ano encerraram em baixa firme e puxaram a queda do índice, a exemplo de Bradesco PN (-2,61%), Petrobras ON (-1,65%) e PN (-1,26%) e Banco do Brasil ON (-1,90%). O dia seguinte à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de junho também foi de queda em segmentos sensíveis a juros, como imobiliário (-2,33%) e consumo (-0,62%).

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Esse movimento reflete um ajuste das expectativas de investidores para a trajetória da taxa Selic após o comunicado do Copom da véspera ter sido lido como mais duro do que o esperado. Nesta quarta-feira, 21, o comitê manteve a taxa Selic em 13,75% e optou por não sinalizar explicitamente quando deverá começar o afrouxamento monetário, enquanto a maior parte do mercado esperava cortes em agosto.

“Talvez o mercado estivesse um pouco otimista demais com a possibilidade de uma mudança brusca de direção do BC, que obviamente não viria, e por isso hoje estamos vendo empresas ligadas aos juros devolvendo boa parte dos ganhos”, diz o analista da Empiricus Research João Piccioni. “É aquela história: são ações que sobem com o boato e realizam com o fato.”

Assim, as maiores perdas do pregão foram observadas em papéis ligados à construção civil e ao varejo – como Eztec ON (-6,64%), Alpargatas PN (-5,95%), Magazine Luiza ON (-5,05%) e MRV ON (-5,04%), que tiveram as quatro quedas mais intensas do Ibovespa nesta quinta-feira. Completa a lista das maiores perdas do índice Minerva ON (-4,65%), em um dia marcado por queda de 76 dos 86 papéis que compõem o índice.

Para o chefe de renda variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno, a realização dos lucros nesta sessão respondeu mais à cautela global desencadeada pelo aumento acima do esperado dos juros no Reino Unido – de 0,5 ponto porcentual – e a declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, reforçando que podem ser necessários dois novos aumento dos juros no país.

“A meu ver, o comunicado do Copom deu uma certa decepcionada, mas ficou dentro da linha que o BC vinha sinalizando. O dia de hoje acabou sendo de queda por causa do exterior, que jogou um pouco de realização para o nosso mercado, que estava subindo mais de 10% no mês”, afirma Moliterno. “Hoje teve uma realização do mercado para acomodar e tentar entender qual será a magnitude do aperto no exterior e do nosso afrouxamento.”

As declarações de Powell e o aumento dos juros anunciado no Reino Unido, Noruega, Turquia e Suíça pesaram sobre as perspectivas para a demanda global e levaram o petróleo a quedas entre 4,16% (WTI) e 3,61% (Brent) – com impactos na Petrobras. Em meio ao enfraquecimento das commodities, o setor de materiais básicos encerrou o dia em queda de 1,32%, uma das maiores do índice, puxado por Vale ON (-0,54%) e Gerdau PN (-1,91%).

Hoje, o índice oscilou entre a mínima de 118.018,03 pontos (-1,99%) e a máxima de 120.419,87 pontos (estável), em uma sessão com giro de R$ 23,4 bilhões. As cinco maiores altas do Ibovespa ficaram com Ambev ON (+1,77%), Hapvida ON (+0,95%), Vibra ON (+0,83%), Carrefour Brasil ON (+0,82%) e Natura ON (+0,75%).