Em sexta-feira de volume financeiro enfraquecido na despedida do Brasil da Copa do Catar, o Ibovespa buscou resistir à tristeza e fechou em alta, ainda que leve, de 0,25%, aos 107.519,56 pontos, tendo chegado na máxima do dia, durante o jogo, aos 108.565,57 pontos, apesar do sinal negativo, na maior parte da sessão, em Nova York. Hoje, na mínima, tocou 107.089,22 pontos, saindo de abertura aos 107.249,76 pontos. O giro foi de R$ 20,2 bilhões nesta sexta-feira em que os primeiros cinco ministros do próximo governo foram anunciados pelo presidente eleito Lula, com a confirmação de Fernando Haddad, na Fazenda, e de Rui Costa, na Casa Civil.

Na semana em que a atenção do mercado permaneceu concentrada na PEC da Transição e na formação da futura equipe de governo, o Ibovespa acumulou perda de 3,94%, vindo de ganhos de 2,70% e de 0,10% nos dois intervalos anteriores. No mês, o Ibovespa cede 4,42%, o que limita os ganhos do ano a 2,57%.

As preocupações do mercado financeiro, principalmente de investidores domésticos, com Fernando Haddad são “exageradas” e a Faria Lima está “superestimando os riscos” da atuação dele no ministério da Fazenda, avalia a consultoria inglesa TS Lombard. “Acreditamos que esse medo é exagerado e o mercado está avaliando mal os riscos, o que pode levar a oportunidades de compra no futuro”, comentam os analistas da TS, Elizabeth Johnson e Wilson Ferrarezi, em relatório.

Dólar sobe no dia e na semana de olho em fiscal e com pressão externa

“O mercado é pragmático e gosta daqueles que têm identificação consigo, mas não necessariamente o ministro precisa ser o técnico, pelo contrário. Pode ter perfil mais político, como é o caso agora, alguém em que o Lula confia e que possa ter um relacionamento mais fácil com as bancadas, com os políticos. Mais do que a figura do Haddad, precisamos entender ainda qual será o plano de governo”, diz Rodrigo Marcatti, economista e CEO da Veedha Investimentos, acrescentando que, com o tempo, será preciso afastar qualquer impressão de que o novo governo Lula penda para uma continuação da última passagem do PT pelo poder, com Dilma Rousseff.

“Haddad na economia já era um nome mais do que certo, é preciso aguardar agora qual será sua equipe econômica. A gestão dele na prefeitura de São Paulo mostrou cuidado com o lado fiscal. Obviamente, o governo não terá apenas gastos, mas também receitas para cobrir esses gastos. A tendência é por aumento de impostos e retirada, em certos casos, de subsídios, o que não é tão fácil de passar pelo Congresso como ampliar os gastos”, observa Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos.

“Embora o Haddad já estivesse no radar de que seria o escolhido para a Fazenda, o mercado preferiria alguém com perfil um pouco mais técnico. Quando houve a confirmação do nome, o dólar estressou um pouco, mas depois se acomodou, subindo menos. A incerteza com relação a isso foi superada, com a definição de quem será o próximo ministro”, diz Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest. No fechamento desta sexta-feira, o dólar à vista mostrava alta de 0,57%, a R$ 5,2456.

Mais cedo, o mercado tomou nota também da leitura sobre o IPCA de novembro, com alta de 0,41% em relação a outubro. “No ano e nos últimos 12 meses, o índice acumula altas de 5,13% e 5,90%, respectivamente. Assim como o IPCA-15, os últimos resultados mostram que a tendência é terminarmos o ano com uma inflação próxima dos 6,00%”, aponta Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. “Esses dados mostram que o cenário inflacionário segue em arrefecimento e benigno para o Banco Central”, acrescenta o economista.

Entre as ações de maior liquidez na B3, Vale (ON +3,33%) foi o destaque positivo da sessão, como ontem, acompanhada nesta sexta-feira por forte desempenho de CSN (ON +5,18%) e em menor grau também por outras siderúrgicas (Gerdau PN +1,75%, Usiminas PNA +3,30%), com o minério de ferro ainda reagindo bem aos movimentos de flexibilização da política de covid-zero na China. O contrato mais negociado do minério (para janeiro), em Dalian, subiu 4,69%, a US$ 117,20 a tonelada.

Petrobras, que hesitava mais cedo, chegou a se firmar em leve alta no começo da tarde, mas encerrou o dia com a ON em baixa de 0,21% e a PN, de 0,28%, em meio à volatilidade de preços do petróleo que se estendeu ao encerramento desta sexta-feira na ICE e na Nymex, no negativo.

Os bancos, por sua vez, também fecharam o dia em baixa, com destaque para Itaú (PN -1,26%) e Bradesco (PN -1,72%). Na ponta de ganhos do Ibovespa, destaque para CSN Mineração (+10,00%), CSN (+5,18%) e Bradespar (+3,90%). No lado oposto, Yduqs (-5,83%), Hapvida (-5,02%) e Rede D’Or (-4,83%).

De acordo com o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira, entre os participantes, 50% disseram acreditar que o Ibovespa fechará a próxima semana com alta, enquanto 33,33% afirmaram esperar estabilidade. Os que veem queda são 16,67%. Na pesquisa da semana passada, a expectativa de alta tinha fatia de 37,50%; de queda era também de 37,50%; e 25,00% projetavam variação neutra.