Em alta entre a última quarta e esta sexta-feira, as três sessões de recuperação do Ibovespa levaram a referência da B3 a acumular ganho de 1,70% na semana, após cinco intervalos de queda, entre todo o mês de abril e a primeira semana de maio. Com o ganho de 1,17% na sessão desta sexta-feira, aos 106.924,18 pontos, vindo de altas superiores a 1% nos dias anteriores, o índice limita a perda acumulada no mês a 0,88%, após correção de 10,10% em abril, a maior perda mensal desde o mergulho de 29,90% em março de 2020, no auge da aversão a risco em torno da pandemia.

Nesta sexta, com giro a R$ 31,8 bilhões, o Ibovespa oscilou entre mínima de 105.690,55, da abertura, e máxima de 107.772,82 pontos, do começo da tarde, tendo encerrado abril a 107.876,16 pontos.

Em dia de recuperação, embora menos vigorosa perto do fim da sessão, os ganhos se distribuíram pelos setores e empresas de maior peso no índice, desde parte dos bancos (Itaú PN +1,18%) até commodities (Petrobras PN +1,30%), em dia de forte alta para o petróleo, com Brent a US$ 111 por barril, e siderurgia (CSN ON +3,94%), após avanço de 1,24% para o minério na China (Qingdao). Na ponta do Ibovespa, Yduqs (+12,11%), Gol (+11,79%) e Azul (+10,65%). No lado oposto, B3 (-3,61%), Cogna (-2,30%) e Raia Drogasil (-1,91%).

Perto do fim da sessão, algumas ações de maior liquidez oscilaram e se firmaram em leve baixa, como Vale ON (-0,12%) e Banco do Brasil (ON -0,14%), o que contribuiu para que o Ibovespa aparasse os ganhos do dia e a recuperação na semana, tendo se mantido acima dos 107 mil pontos ao longo da tarde, chegando a limitar as perdas do mês a menos de 0,2% no melhor momento da sessão. No ano, o Ibovespa sobe 2,01%.

“Na correção que houve desde abril, muita coisa já foi para o preço. No Brasil, essa correção veio com o fechamento, o lockdown na China, que resultou em grande ajuste nas commodities – e também com a inflação em alta nos Estados Unidos, que lança incerteza sobre a extensão e o grau do ciclo de ajuste de juros americanos”, diz Cesar Mikail, gestor de renda variável na Western Asset.

Ele observa também que, enquanto a inflação não der sinais de estabilização nos EUA, tal incerteza deve persistir, mesmo com a recente sinalização do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, de que a opção na mesa para as próximas reuniões é de alta mantida ao ritmo de 0,50 ponto porcentual, e não de 0,75 ponto como se chegou a temer, com o mercado ainda manifestando alguma preocupação quanto à chance de recessão no país em meio ao enxugamento e restrição da liquidez.

“Vimos nesta semana uma cobertura de ‘shorts’ ‘vendidos’, os que se posicionavam para quedas, uma correção técnica, também perceptível lá fora. Os ‘valuations’ precificação dos ativos continuam muito descontados. Algo parecido também se vê na moeda: com juros próximos a 13%, o carrego do câmbio não é brincadeira, dói”, diz o gestor.

“O trabalho de casa com relação à Selic está em final de ciclo (de elevação), foi feito em boa parte de 2021, se considerarmos onde os juros estavam no início daquele ano e onde estão agora. Estamos bem adiantados em relação a outras economias, inclusive as grandes, como as de Estados Unidos e Europa. Se a inflação se estabilizar no segundo semestre, ali por setembro ou outubro a discussão no mercado passa a ser de quando os juros começarão a cair em 2023”, aponta Mikail, para quem a volatilidade pré-eleitoral tende a ser menor do que em pleitos passados, na medida em que Lula e Bolsonaro, os virtuais finalistas, são conhecidos do mercado, inclusive no exercício do cargo.

Assim, observa o gestor, o principal fator de risco, daqui até lá, permanecerá fora do país: a inflação e a reação dos juros nos Estados Unidos. “A China deve reabrir aos poucos”, flexibilizando a tolerância zero à Covid, o que contribui para uma volatilidade menor nas commodities, em momento no qual o setor de bancos – segmento de maior peso no Ibovespa -, muito descontado nos últimos anos, é favorecido por uma boa temporada de balanços e pelo cenário de elevação de juros.

Nos Estados Unidos, na quinta-feira, “Powell foi bastante enfático com relação à trajetória dos juros, com mais duas altas de meio (ponto porcentual), numa entrevista que causou grande repercussão ainda hoje (sexta), com os mercados mais calmos neste fim da semana”, observa Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. “Vai doer um pouco, não dá para controlar a inflação sem desacelerar a demanda, mas ele (Powell) considera possível um ‘soft landing’ aterrissagem suave, mesmo com o ‘mea culpa’ de que o Fed deveria ter considerado subir, antes, os juros”, acrescenta.