O Ibovespa fechou em alta nesta sexta-feira, 12, pelo décimo pregão seguido, encostando nos 129 mil pontos, em movimento reforçado pela crescente confiança de investidores de que o banco central dos Estados Unidos começará a cortar os juros em setembro.

+ Ibovespa não registrava 10 altas seguidas desde janeiro de 2018

+ Veja cotações

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa avançou 0,47%, a 128.897,36 pontos, nesta sessão, contabilizando um ganho de 2,08% na semana e de 4,03% até agora no mês, que não teve nenhum fechamento negativo, segundo dados preliminares.

A sequência de 10 altas é a maior desde um período entre o fim de 2017 e o início de 2018, quando o Ibovespa avançou por 11 sessões consecutivas. Apesar disso, a performance acumulada no ano segue no vermelho, com queda de 3,94%.

O volume financeiro nesta sexta-feira somava R$ 15,2 bilhões antes dos ajustes finais.

O dólar à vista fechou a sexta-feira em baixa ante o real, alinhando-se no período da tarde ao movimento de queda da moeda norte-americana no exterior, onde os investidores seguiram consolidando as apostas de que o Federal Reserve começará a cortar juros em setembro.

O dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 5,4308 na venda, em baixa de 0,20%. Na semana, a divisa dos EUA acumulou queda de 0,58%. Esta foi a segunda baixa semanal consecutiva, após uma série de seis semanas de ganhos.

Às 17h05, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,17%, a R$ 5,4415 na venda.

O dia do dólar

A divisa dos EUA abriu a sessão no Brasil em baixa, acompanhando o recuo do dólar ante moedas de exportadores de commodities e emergentes no exterior. Mas ainda pela manhã o dólar passou a subir ante o real, em meio a novos comentários do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o cenário fiscal.

Durante evento em São Paulo, Haddad defendeu que a expansão fiscal neste momento não é boa para o Brasil e afirmou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva cortará gastos primários para ajustar as contas públicas se for necessário.

“Estamos desde 2014 ou 2015 produzindo déficit pesado”, disse Haddad em sua fala. “Isso melhorou a vida de alguém?”, questionou durante sabatina em Congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).

Haddad também negou ter convencido Lula a baixar a tensão com o Banco Central, mas afirmou que o presidente teve “certa razão” de ficar insatisfeito com atitudes da autarquia.

Dois profissionais ouvidos pela Reuters pontuaram que, apesar de novamente acenar com cortes de gastos para cumprir a meta fiscal, Haddad ainda não apresentou medidas concretas — algo que tem incomodado os investidores nas últimas semanas.

Neste cenário, após registrar uma cotação mínima de 5,4160 reais (-0,48%) às 9h20, o dólar à vista atingiu uma máxima de 5,4669 reais (+0,46%) às 10h52, em meio aos comentários de Haddad.

À tarde, porém, a moeda norte-americana voltou a ceder no Brasil.

“A gente está seguindo o exterior agora à tarde, em um dia de dólar fraco. Mas como sempre, o dólar cai menos aqui (ante o real) do que em relação aos pares”, comentou Lais Costa, analista da Empiricus Research.

Segundo ela, embora alguns números nesta sexta-feira nos EUA não tenham sido tão favoráveis, o mercado seguiu consolidando a ideia de que o Fed começará a cortar juros em setembro – algo que empurra as cotações da moeda norte-americana para baixo.

Às 17h12, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,24%, a 104,090. O dólar também sustentava baixas ante moedas como o peso chileno, o peso mexicano e o peso colombiano.

Pela manhã, o Departamento do Trabalho dos EUA informou que o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) para a demanda final subiu 0,2% em junho, depois de ter ficado inalterado em maio. Economistas consultados pela Reuters haviam previsto alta de 0,1%. Nos 12 meses até junho, o índice subiu 2,6%, depois de avançar 2,4% em maio.

Já a Universidade de Michigan informou que a leitura preliminar de seu índice geral de sentimento do consumidor ficou em 66,0 em julho, em comparação com uma leitura final de 68,2 em junho. Economistas consultados pela Reuters previam uma leitura preliminar de 68,5.

No campo político, os desencontros entre governo e Congresso continuaram. Após Haddad afirmar pela manhã que as medidas apresentadas pelo Senado não compensam a desoneração da folha de pagamentos de setores específicos, à tarde o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), acusou o ministério da Fazenda de desconsiderar as sugestões.

Também durante o evento da Abraji em São Paulo, Pacheco classificou a negociação entre Executivo e Legislativo sobre o tema como uma “novela”.

Pela manhã, o Banco Central vendeu todos os 12 mil contratos de swap cambial tradicional em leilão para fins de rolagem do vencimento de 2 de setembro de 2024.

O Ibovespa no dia

A performance recente acompanha a melhora da movimentação de estrangeiros na B3, com as compras no mercado secundário de ações superando as vendas em 2,88 bilhões de reais no mês até o dia 10. No ano, o saldo segue negativo, em 37,2 bilhões.

“Nós estamos vendo fluxo positivo de estrangeiros, e isso é muito importante. Para mim, é o que explica essas altas consecutivas”, destacou o gestor e sócio-fundador da Trígono Capital, Werner Roger.

“Parece que os estrangeiros já estão procurando emergentes e o Brasil é a bolsa que mais caiu no mundo em dólar”, acrescentou, ponderando que no ano o sinal ainda é negativo, com investidores “talvez ainda aguardando o movimento da Selic”.

No pano de fundo desse fluxo externo, está a maior possibilidade de cortes de juros nos EUA em setembro, reforçada por dados de preços ao consumidor norte-americano e falas do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, nessa semana.

Para a equipe da corretora Commcor, esses últimos eventos alimentaram a percepção de que o Fed pode, enfim, estar recebendo os sinais necessários para cortar a taxa básica de juros dos EUA, que está desde 2024 na faixa de 5,25% a 5,50%.

Em Nova York, o índice S&P 500, uma das referências do mercado acionário norte-americano, fechou em alta de 0,55%, sendo negociado perto de marcas históricas. O rendimento do Treasury de 10 anos marcava 4,1828% no final da tarde, de 4,193% na véspera.

Outro componente benigno para a bolsa paulista tem sido a comunicação mais firme do governo em relação às contas públicas do país, embora ainda sem medidas efetivas, assim como o tom mais contido das falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

De acordo com o gestor da Trígono, porém, as ações estão bastante reativas, positivamente e negativamente, mostrando oscilações relevantes ao sabor do noticiário, o que deve manter a volatilidade nos negócios.

Destaques

– B3 ON valorizou-se 4,16%, em meio à repercussão de dados operacionais da empresa de infraestrutura de mercado divulgados na noite da véspera, com analistas do Goldman Sachs e do Citi chamando a atenção principalmente para o desempenho no segmento de derivativos, apesar da fraqueza ainda nos volumes no mercado de ações. No ano, porém, ainda acumula queda de 22%.

– WEG ON avançou 2,05%, com analistas do Itaú BBA reforçando recomendação de compra para as ações da fabricante de motores e componentes elétricos, afirmando que a visão positiva está alicerçada na consolidação dos três pilares: uma inflexão positiva nas expectativas de crescimento, rentabilidade e custo de capital próprio. Em 2024, o papel já sobe 23%.

– ISA CTEEP PN recuou 4,24%, após a Eletrobras anunciar oferta secundária de até 130 milhões de ações que detém na transmissora de energia. ELETROBRAS ON fechou em alta de 1,27%, tendo no radar declaração do ministro de Minas e Energia de que o governo está disposto a fechar acordo na conciliação que trata sobre o poder de voto da União na empresa.

– CYRELA ON caiu 4,2%, em dia de correção negativa para o setor, acompanhando também o ajuste para cima nas taxas dos contratos de DI após quedas relevantes recentemente, tendo ainda no radar prévia operacional do segundo trimestre, com queda de 6% nas vendas ano a ano, excluindo permutas. MRV&CO ON perdeu 4,13% e EZTEC ON cedeu 1,99%.

– VALE ON avançou 1,47%, ampliando os ganhos à tarde e sancionando a alta do Ibovespa. A companhia anunciou que chegou a um acordo com a mineradora BHP para dividir igualmente o custo de quaisquer danos relacionados aos processos no Reino Unido sobre o rompimento de uma barragem no Brasil em 2015. Na China, os futuros do minério de ferro fecharam em alta.

– PETROBRAS PN cedeu 0,47%, com preços do petróleo no exterior também terminando no território negativo. O barril de Brent, usado como referência pela estatal, encerrou a sexta-feira com decréscimo de 0,43%.

– BTG PACTUAL UNIT valorizou-se 2,26%, melhor desempenho entre os bancos do Ibovespa, seguido por BANCO DO BRASIL ON, que subiu 1,32%. Na outra ponta, ITAÚ UNIBANCO PN cedeu 0,56%, BRADESCO PN fechou com variação negativa 0,24% e SANTANDER BRASIL UNIT encerrou em baixa de 0,7%.