30/01/2019 - 14:09
A reversão do sinal negativo para positivo no Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) de janeiro reforça tendência de normalização dos preços, avalia o economista André Braz, pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV) do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre). Depois de cair 1,08% em dezembro, o IGP-M ficou perto da estabilidade, com alta de 0,01%, acumulando 6,74% em 12 meses.
“No ano passado, teve uma deflação profunda, sustentada pela valorização cambial. Com a normalização da taxa, a expectativa é que os preços também se normalizem, pressionando mais os IGPs”, diz ele. O resultado do IGP-M de janeiro ficou perto da mediana das estimativas da pesquisa do Projeções Broadcast, de variação zero (intervalo de -0,07% a alta de 0,25%).
Apesar da expectativa de nova aceleração do indicador, Braz pondera que isso não é motivo de preocupação. “Os preços no atacado devem avançar mais, mas no varejo a tendência é de arrefecimento em relação a este mês”, estima. Conforme ele, o IGP-M de fevereiro tende a acelerar, mas ainda ficará baixo. “Pode até bater a taxa positiva de 0,07% de igual mês de 2017, mas não tende a ir muito mais além disso”, completa.
A expectativa do economista é que alguns itens que ajudaram a pressionar o IGP-M deste mês continuem a acelerar. Ele citou como exemplo combustíveis e alimentos in natura, que figuraram na listas das maiores pressões do indicador de janeiro. A gasolina, por exemplo, diminui o ritmo de queda de 13,62% em dezembro para recuo de 3,53% este mês. “A parte de óleo diesel preocupa um pouco, pois contamina a atividade industrial por meio de frete, encarecimento de tarifas de ônibus urbano, que já vem acontecendo”, afirma.
O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) Agropecuário ainda permaneceu no campo negativo do IGP-M de janeiro, em 0,71%, mas reduziu a velocidade de baixa após -1,35%, pois vários itens tiveram aumentos consideráveis. De acordo com a FGV, os preços do feijão ficaram em média 15,61% mais caros em janeiro, depois de 14,03% no último mês de 2018, assim como milho (2,22% ante 1,38%), abacaxi (35,16% ante 5,28%) e mandioca/aipim (alta de 4,52% ante -1,26%).
“O grupo Bens Finais (0,52% ante 0,07%) foi o que mais contribuiu para o resultado do IGP-M, principalmente a parte de combustíveis por consumo que teve queda menos intensa, de 2,66% ante -8,83%, mas teve ainda a pressão de alimentos in natura, com alguns itens pressionando, como é comum nesta época do ano. Daqui a pouco chegará ao consumidor”, diz Braz.
Em janeiro, o IPA agrícola recuou 0,71% em janeiro, depois de ceder 1,35% em dezembro. A queda, conforme a FGV, foi influenciada pelo índice de matérias-primas brutas, de -2,45% para -0,30%, com destaque para cana-de-açúcar (0,32% para -0,53%), bovinos (1,47% para 0,60%) e café/grão (-2,99% para -4,95%).
No primeiro mês do ano, IPA – que representa cerca de 60% do IGP-M – caiu 0,26% após queda de 1,67% em dezembro. Além dos bens finais, o segmento de Bens Intermediários também reduziu o ritmo de retração, de -2,66% para -0,99%, assim como o índice de matérias-primas brutas, de -2,45% para -0,30% em janeiro. Dentro do IPA, os preços agrícolas passaram de -1,35% para -0,71% e os industriais, de -1,77% para -0,12%. “A expectativa é que o IPA volte a subir, mas ainda pode ficar abaixo de 0,50%”, estima.
Preços ao consumidor
A alta dos preços no varejo no âmbito do IGP-M – que subiu 0,54 ponto porcentual em janeiro – pode ficar restrita ao dado deste mês, estima Braz. Para ele, boa parte do aumento do IPC-M tem relação com reajustes no segmento de Educação, que deve arrefecer nos próximos meses.
“Boa parte da alta de 0,58% do IPC-M deve-se aos efeitos dos reajustes em Educação, por conta do aumento em mensalidades escolares. Ainda não atingiu o efeito máximo, apenas dois terços, mas restará só um impacto residual no dado de fevereiro”, explica ele.
O segmento de cursos formais teve alta de 3,79% este mês, e a estimativa de Braz é que haja um arrefecimento. O grupo Educação, Leitura e Recreação atingiu 2,12% no IPC-M deste mês, depois de 1,13% em dezembro.
Além disso, o economista cita a estimativa de diluição do impacto do reajuste nas tarifas de transporte público no início do ano. Em janeiro, o item apresentou variação positiva de 1,20%, ante 0,32%, levando o conjunto de preços de Transportes a uma queda de 0,03%, na comparação com recuo de 0,90% em dezembro.
Apesar da expectativa de transferência do encarecimento de alguns produtos alimentícios do atacado para o varejo no mês que vem, o economista acredita que esse movimento não deve ficar fora do padrão. “Daqui a pouco, o aumento do feijão 15,61% ante 14,03% deve chegar ao consumidor, mas sem nenhuma ameaça de choque”, avalia. No IPC-M deste mês, a taxa do grupo Alimentação mais que dobrou, ao marcar 0,94%, na comparação com 0,44% em dezembro.