12/02/2013 - 21:00
Nelson Rodrigues, um dos maiores exegetas da alma nacional, escreveu que, à menor contrariedade, o brasileiro é capaz de ir do céu ao inferno em segundos. A reação do mercado financeiro ao relatório Doing Business, estudo realizado anualmente pelo Banco Mundial e por sua empresa de investimentos, a International Finance Corporation (IFC), é um bom exemplo desse paradoxo. O relatório de 2012 coloca o Brasil em uma posição muito ruim: 126º colocado entre os melhores países para se fazer negócios. Quando o assunto é facilitar a vida do empreendedor, nós perdemos para todos os nossos vizinhos da América Latina, para a maioria dos países da África e nossa distância regulatória em relação à Europa e aos Estados Unidos é muito maior do que os milhares de quilômetros que nos separam.
As conclusões do Doing Business têm sido citadas com frequência para exemplificar o atraso nacional e a dificuldade que o empresário tem para trabalhar. Qualquer pessoa que já tenha mofado na fila de um cartório para reconhecer uma firma, ou tenha enfrentado os leões da Receita, aprendeu da maneira mais difícil que é preciso tempo, dinheiro e paciência para lidar com a burocracia. No entanto, apesar das inegáveis mazelas provocadas pelo ranço cartorial do Brasil velho, os números provam que o quadro não é assim tão tenebroso. O País permanece sendo a sexta maior economia do mundo. Em 2012, os investidores internacionais injetaram US$ 65,3 bilhões na economia brasileira, cifra marginalmente inferior aos US$ 66,6 bilhões de 2011.
Nos últimos três anos, o País recebeu quase US$ 180 bilhões em recursos externos e há apetite para mais: o dinheiro só não chega em maiores quantidades porque há poucos ativos à venda. Como explicar esse paradoxo? A pesquisa Doing Business é realizada a partir da percepção dos entrevistados, empresários e economistas. Para conciliar essas visões, a Brasil Investimentos e Negócios (Brain), empresa criada pelas entidades de classe do setor financeiro com o objetivo de promover a internacionalização do mercado brasileiro, comparou cada item da pesquisa Doing Business com a realidade dos fatos.
E a conclusão do relatório O Ambiente de Negócios Brasileiro foi que a realidade não é tão feia quanto a versão expressa nas pesquisas. Claro, o Brasil ainda é o país mais complicado e trabalhoso em termos tributários, um dos mais lentos na hora de abrir empresas e um tártaro na hora de fechá-las, sem contar as bizantinices da legislação trabalhista. Mesmo assim, itens como a melhoria da concessão de crédito para as empresas e o aprimoramento da lei de falências passam despercebidos aos entrevistados na hora de responder às pesquisas. Talvez pelo fato de que as mudanças ocorram de maneira tão lenta e gradual que se incorporem à paisagem sem ser notadas como progresso.
Como galgar posições rapidamente? Não é sensato acreditar que os cartórios desapareçam nem que, em uma dada quinta-feira, o Fisco torne-se um incentivador de negócios. No entanto, segundo a Brain, a República Tcheca reduziu à metade o tempo necessário para encerrar uma empresa entre 2010 e 2011 por meio de reformas nos procedimentos legais e fiscais e, com isso, ganhou 50 posições no ranking. Reformas pontuais em procedimentos ainda arcaicos podem melhorar nossa imagem perante o mundo e facilitar, ainda mais, a vinda de capital produtivo para a economia brasileira.