É difícil escrever sobre João Primo Carloni. Editor de fotografia da revista ISTOÉ, ele morreu no sábado 8, após uma luta de mais de cinco anos contra o câncer. Conhecido profissionalmente como João Primo, era um dos grandes fotógrafos do País. Tinha 44 anos de idade e cerca de 20 de carreira. Nestes anos todos, fez muitas vezes uma das coisas de que mais gostava: viajar.

Fotografou o Japão, a Antártida, fez belas imagens de São Francisco, cidade onde morou nos EUA, e cobriu a Copa do Mundo da Itália, em 1990. Ao todo, foram mais de 15 países além do Brasil, que fotografou de ponta a ponta. Desse périplo saiu em 2001 sua primeira exposição individual, Cotidiano, realizada na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Fazendo jus ao nome do trabalho, as imagens revelavam o homem em seus pequenos momentos e nos convidavam a uma reflexão sobre o nosso próprio dia-a-dia.


João Primo: Em mais de 20 mil fotos, como a de cerimônias dos índios no Xingu, registros precisos da poesia cotidiana.

Como o momento decisivo de Cartier-Bresson, João mostrou que sempre pode haver algo de diferente e poético nas nossas ações, seja em um andar de bicicleta, um mergulho na praia, uma formatura de cadetes nos EUA ou uma cerimônia dos índios do Xingu. Observador e versátil, ele podia ficar horas à espera do melhor momento para apertar o obturador da câmera ou chegar em um ambiente e perceber em questão de segundos a boa imagem. João pretendia lançar Cotidiano em livro — seria seu segundo. Em 1999, ele havia editado o primeiro, Terramar, sobre o litoral sul de São Paulo. Ótimo profissional, tinha personalidade forte e era muito competitivo. Sempre trabalhava para fazer a melhor foto, era difícil igualá-lo. João era casado e tinha dois filhos. Era uma pessoa de bem com a vida. É injustiça dela retribuir desse jeito.

Juca Rodrigues é gerente
de conteúdo da ISTOÉ Online